Resumo No Manifesto surrealista, de 1924, Breton explicita o produto da atividade surrealista como uma “luz de imagem”, gerado pela aproximação involuntária de duas realidades distantes. Essa estrutura dupla da imagem surrealista tem um caráter disruptivo, que rompe com a nossa percepção da realidade cotidiana. Com isso, abre-se a possibilidade de um espaço para a crítica social e histórica, bem como para uma intervenção estético-política justamente em uma sociedade na qual as formas tradicionais de crítica parecem estar neutralizadas. Essa experiência surrealista e esse espaço aberto por ela Walter Benjamin caracteriza respectivamente com a fórmula “iluminação profana” e “espaço de imagem” (Bildraum). Ambos apresentam uma grande semelhança com alguns pontos e consequências, em seus conceitos, tanto de “imagem do pensamento”, como de “imagem dialética”, sobretudo na medida em que esses conceitos também são formulados em meio à crise cultural da sociedade europeia, nos 1920, e buscam uma saída revolucionária para a mesma. Trata-se de investigar aqui, por meio de uma análise comparativa dessas concepções de imagem, até onde vai a influência e a relevância do surrealismo para o pensamento figurativo-dialético de Benjamin e para sua compreensão da história.
Este artigo visa mostrar como certos aspectos da Dialética do esclarecimento (1944) de Adorno e Horkheimer, mais precisamente no que diz respeito ao conceito dominação da natureza, já aparecem elaborados, em miniatura e de forma germinal em algumas imagens de pensamento (Denkbild) do livro Rua de mão única (1928) de Walter Benjamin.
A vanguarda surrealista, em suas manifestações literárias e artísticas dos anos 1920, explorava as imagens de caráter disruptivo como uma forma de transformar a arte e a vida cotidiana. Influenciado pelos surrealistas, Walter Benjamin, em seu livro Rua de mão única, publicado em 1928, elaborou um diagnóstico crítico de seu presente histórico e apontou o caminho para uma possível transformação do mesmo, explorando uma forma filosófico-literária que denominou imagem de pensamento (Denkbild). Pressupondo a fundamental influência do surrealismo nesta e em toda a obra posterior de Benjamin, o presente artigo, não obstante, tem como objetivo apresentar brevemente algumas diferenças importantes entre estas posturas, a saber: que as imagens de pensamento benjaminianas abordam de modo mais radical o vínculo das experiências disruptivas subjetivas com uma dimensão coletiva, histórica e social. A diferenciação destes dois casos de revalorização filosófica da imagem traz elementos importantes para se pensar o papel da imagem na educação e em que medida a própria imagem pode abrir espaço a uma crítica da sociedade do espetáculo e das mídias de massa em que vivemos.
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