Seneciose é a principal intoxicação por planta no sul do Rio Grande do Sul, Brasil. Neste trabalho apresentam-se os dados de 24 surtos de seneciose em bovinos e de um em eqüinos, diagnosticados pelo Laboratório Regional de Diagnóstico (LRD) da Universidade Federal de Pelotas, no período de 1998 a 2000. Adicionalmente são avaliados os dados epidemiológicos de 54 surtos ocorridos no período 1978-1997. Os dados epidemiológicos e clínicos do período 1998-2000 foram coletados em visitas às propriedades onde estavam ocorrendo os surtos. Em 11 (45,83%) surtos os animais tinham até 3 anos de idade e, em 13 (54,16%), 3 anos ou mais. Quanto ao sexo, 9 (37,5%) surtos atingiram fêmeas e 15 (62,5%) afetaram machos. Em relação à época de ocorrência, 10 (41,66%) surtos ocorreram na primavera, 4 (16,66%) no verão, 5 (20,83%) no outono, e 5 (20,83%) no inverno. A morbidade foi estimada em 4,92% e a letalidade em 95,59%. As espécies de Senecio que predominaram nas propriedades visitadas foram S. brasiliensis em 12 (57,14%), S. selloi em 10 (47,61%), S. oxyphyllus em 6 (28,57%), S. heterotrichius em 3 (14,28%), e S. leptolobus em 1 (4,76%) propriedade. Os sinais clínicos mais freqüentes foram emagrecimento progressivo, incoordenação, diarréia, tenesmo, prolapso retal e agressividade. O curso clínico da intoxicação, levando em consideração somente os animais necropsiados ou os observados durante as visitas às fazendas, foi de 24 a 96 horas em 4 (16,66%) surtos, de 4 a 7 dias em 7 (29,16%), de 1 a 2 semanas em 4 (16,66%), de 2 a 3 semanas em 2 (8,33%), de 1 a 2 meses em 2 (8,33%), e de 2 a 3 meses em 1 (4,16%) surto. Em quatro (16,66%) surtos o período de manifestação clínica não foi observado. Nos surtos em que o curso clínico foi mais prolongado, alguns animais apresentaram fotossensibilização. Os achados de necropsia mais comuns foram fígado aumentado de tamanho e endurecido, vesícula biliar aumentada, edema no mesentério e abomaso e líquido nas cavidades. No fígado, a histopatologia revelou fibroplasia, megalocitose e proliferação de células dos ductos biliares e, no cérebro, degeneração da substância branca. Em amostras das diferentes espécies de Senecio, coletadas em diferentes épocas do ano, foi determinada a concentração de alcalóides pirrolizidínicos (APs) e seus N-óxidos através de cromatografia de camada delgada e espectrofotometria. Retrorsina foi encontrada em Senecio brasiliensis, S. heterotrichius, S. selloi e S. oxyphyllus. Além deste, S. brasiliensis e S. heterotrichius registraram mais um e dois alcalóides não identificados, respectivamente. A maior concentração de AP reduzido (AP livre + N-óxido) foi encontrada em S. brasiliensis no inverno (0,25%). Nessa mesma época quantidades decrescentes de AP reduzidos foram encontradas em S. heterotrichius (0,19%), S. oxyphyllus (0,03%) e S. selloi (0,03%). Em S. leptolobus não foram detectados alcalóides. Esses dados demonstraram que S. brasiliensis é a espécie mais importante como causa de seneciose no sul do Rio Grande do Sul. Adicionalmente, foram analisados dados de arquivo do LRD sobre 54 surtos de intoxicação por AP no período 1978-1997. Nesse período, 7 (12,96%) surtos afetaram bovinos menores de 3 anos, 39 (72,22%) afetaram bovinos de 3 anos ou mais, 3 (5,55%) afetaram bovinos de várias idades e, em 5 (9,25%) surtos a idade não foi informada. Trinta e nove (72,22%) surtos afetaram fêmeas, 7 (12,96%) afetaram machos, 3 (5,55%) afetaram ambos os sexos e, em 5 (9,25%), o sexo não foi informado. Vinte e três (42,59%) surtos ocorreram na primavera, 9 (16,66%) no verão, 9 (16,66%) no outono, e 13 (24,07%) no inverno. O maior número de surtos da intoxicação no período 1998-2000 (24 surtos em 3 anos) em relação ao período 1978-1997 (54 surtos em 20 anos) pode estar relacionado à diminuição em mais de 50% da população ovina no Estado.
O objetivo principal desse trabalho foi determinar a fenologia de Senecio brasiliensis, S. oxyphyllus, S. heterotrichius e S. selloi, e relacioná-la com a epidemiologia da intoxicação em bovinos, na região sul do Rio Grande do Sul. O estudo fenológico foi feito durante dois anos nos municípios de Bagé e Capão do Leão. As leituras foram mensais durante o período vegetativo e quinzenais no período reprodutivo das espécies, para observação desde sua emergência até dispersão de sementes, avaliando-se o vigor, e relacionando essas variáveis com fatores ambientais. Os resultados permitiram concluir que durante todo o ano há emergência de plantas de Senecio spp, desde que haja condições ambientais favoráveis, como umidade e luz, e as fenofases vegetativas são praticamente constantes durante todo o ciclo da planta. Fatores ambientais desfavoráveis como o déficit hídrico, o manejo do solo e o dano de insetos, associados ou não, podem alterar o ciclo das plantas e serem determinantes para a sua permanência no ambiente. A maioria dos exemplares, das quatro espécies, comportou-se como anual e monocárpica. A espécie mais persistente no ambiente foi S. heterotrichius (15% das plantas persistiram durante os dois anos de estudo), seguida de S. selloi (2,8%) e S. brasiliensis (0,9%). S. oxyphyllus não permaneceu no ambiente por mais de um ano.
Este trabalho teve por objetivo revisar os principais aspectos da intoxicação por Senecio spp. no Rio Grande do Sul no que se refere à patologia, patogenia e epidemiologia dessa importante causa de morte em bovinos nesse Estado. Foram abordados, também, os principais fatores climáticos e ambientais que aparentemente favorecem a emergência e o estabelecimento da planta e a ocorrência da intoxicação, que tem aumentado a sua frequência nos últimos anos no Estado, e as possíveis formas de controle da planta incluindo o manejo correto do solo e a utilização de espécies domésticas menos susceptíveis nas áreas invadidas.
This chapter reports outbreaks of pyrrolizidine alkaloid (PA) poisoning in cattle in Rio Grande do Sul, Brazil, diagnosed by the Laboratory of Histopathology of the Desidério Finamor Veterinary Research Institute (LH/IPVDF-FEPAGRO) and the Laboratory of Animal Pathology of the School of Agronomy and Veterinary Medicine of the University of Passo Fundo (LPA/FAMV-UPF). PA poisoning was diagnosed by epidemiologic data, clinical signs, macroscopic lesions, and mainly by the typical histologic lesions, including megalocytosis, bile duct hyperplasia, fibrosis, and in some cases status spongiosus in the central nervous system. From 2006 to 2008, among 126 bovine ascensions examined histologically at LH/IPVDF-Fepagro, 42 (33.3%) were diagnosed as PA intoxication. A total of 166 cattle, of both sexes, aged 14 months to 8 years, died. These cases originated from 40 outbreaks and most of them occurred during spring (52.4%). All cases were from different regions of Rio Grande do Sul, mainly from the Depressão Central where the laboratory is located. At LPA/FAMV-UPF (Planalto Médio), 21 cases (6.7% of the cattle ascensions) were diagnosed as PA poisoning between 2000 and 2008. Two of these cases were from the neighboring state of Santa Catarina. Fifteen cases were diagnosed as Senecio spp. poisoning, and one as Echium plantagineum poisoning. Most cases occurred during winter (33.3%), followed by spring. Both dairy and beef cattle, male and female, aged 5 months to 6 years were affected.
This chapter presents the results of studies conducted in the municipality of Eldorado do Sul, State of Rio Grande do Sul, Brazil, in July and October 2007 and January and May 2008 to measure the pyrrolizidine alkaloid (PA) concentrations of S. madagascariensis plant material (including leaves, flowers and stems) in different phenological growth stages (sprouts, young and adult leaves (vegetative phenophases), flower buds, flowers, unripe and ripe fruits, seed dispersal (reproductive phenophases), and death of leaves) throughout the year (winter, spring, summer and autumn). Observations were also recorded concerning the phenological variation in plants during the year. Twelve PAs were detected from the aerial parts (stems, leaves and flowers) of S. madagascariensis collected in southern Brazil. The alkaloid profile was similar to that reported from plants in Australia and Hawaii. The alkaloids were macrocyclic diesters of retronecine and otonecine bases and would be presumed to cause poisoning in cattle. The flowers contained the highest total PA in spring.
Cinqüenta e seis cabras morreram em aproximadamente 44 horas após serem medicadas com disofenol. Dois animais foram necropsiados. Pontos de coloração marrom claro, com aproximadamente 2cm de diâmetro foram observados na cápsula e superfície de corte do órgão. A superfície de corte dos rins apresentaram áreas claras intercaladas com áreas escuras. A bexiga urinária estava repleta com urina e sedimento. A cavidade abdominal, torácica e o saco pericárdico tinham acúmulo de fluído amarelado. Espuma foi encontrada na traquéia e pulmões. Metabolização da gordura coronariana e mesentérica também foi observada. As lesões histológicas caracterizaram-se por necrose centrolobular ou massiva do fígado; necrose do epitélio dos túbulos, com presença de cilindros e congestão nos rins; e edema do pulmão. Em quatro cabras, foi aplicado por via subcutânea disofenol a doses de 10, 10,5, 19,04 e 29,43mg por kg de peso vivo. O caprino que recebeu 10,5mg/kg foi mantido em uma sala à temperatura de aproximadamente 28ºC durante 18 horas. O caprino que recebeu 29,43mg/kg morreu. Os achados macroscópicos e histológicos foram similares aos observados na intoxicação espontânea.
This paper reviews the relationship between the occurrence of four toxic Senecio species (S. brasiliensis, S. oxyphyllus, S. heterotrichius, and S. selloi) and the levels of vegetation cover in native grasslands in the southern region of Rio Grande do Sul, Brazil. It was found that the vegetative phases of all four species occur throughout the year whereas their reproductive phases are concentrated between September and December, exhibiting an annual and monocarpic behavior. S. oxyphyllus was the least persistent in the environment, and S. heterotrichius the most persistent, behaving like a psammophilic species. Both humid and dry soils seem to be favorable to these species, as they show a positive photoblastic and anemochorous behaviour with vegetative propagation capability. The phenophases of Senecio spp. vary according to several factors, including air and soil temperatures, photoperiod, and biotic damage caused by inadequate management, suggesting that they are amenable to anthropogenic activities.
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