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O barão de Gondremarck, nobre sueco que visita a capital francesa em La vie parisienne, traz consigo a expectativa de um deleite impossível de se consumar em outro lugar. Ele sonha com um mundo dominado pelos prazeres da carne, e deseja ardentemente um rendez-vous com uma bela anfitriã, mas acaba ludibriado por um homem sedutor, o visconde de Gardefeu, que o expõe a situações ridículas para livrar-se dele e aproveitar alguns momentos de intimidade com a bela esposa do estrangeiro. Com um enredo repleto de situações inusitadas, a opereta de Henri Meilhac e Ludovic Havévy, musicada por Jacques Offenbach e estreada no Palais Royal em 1866, obteve um estrondoso sucesso desde a primeira representação. Aos olhos de um público ávido por divertimento, esse retrato jocoso da sociedade francesa, povoada de personagens matreiros e tipos libertinos, podia tornar-se mais picante quando contrastado com os costumes estrangeiros ou provincianos. Para os turistas que chegavam à cidade para a Exposição Universal, evento que reunia as últimas novidades de arte e ciência sob os auspícios de Napoleão III, a peça se convertia em uma das grandes atrações do momento, um divertido apanhado de plaisanteries digno dos padrões franceses, numa época em que a "moderna Babilônia" exportava seus modelos para todo o continente.La vie parisienne está entre as obras mais representativas de um teatro zombeteiro e pouco comedido, mas muito apreciado pela plateia heterogênea das capitais europeias na década de 1860, que testemunhava o advento de uma primeira sociedade do espetáculo, objeto de análise de Christophe Charle em A gênese da sociedade do espetáculo. Nesse estudo de história social comparada, o autor investiga a trajetória teatral de quatro capitais europeias (Londres, Paris, Viena e Berlim), buscando os fundamentos da transformação que afetou as estruturas do universo teatral, com seus cânones e normas, permitindo o surgimento de gêneros mistos que, tal como a opereta, eram criados sob medida para um pú-blico mais amplo. As quatro cidades selecionadas por Charle, que estavam entre os centros urbanos mais populosos da Europa ocidental durante o Oitocentos, contavam com uma tradição teatral já bastante estabelecida e desempenhavam um papel de difusão cultural em escala regional, ou mesmo continental.O processo descrito pelo autor pode ser sintetizado em poucas palavras: o crescimento das cidades e a diversificação do público ao longo do Oitocentos geram uma maior demanda por espetáculos. A consequente ampliação do parque teatral das capitais, por sua vez, faz crescer o número dos artistas empregados, e a maior oferta de gêneros torna necessária a adoção de estratégias comerciais e simbólicas por parte das companhias, além de criar um mercado bastante lucrativo para os autores mais dispostos a produzir dramas e comédias voltados para o público médio. Esse processo é acompanhado por uma lenta e paulatina liberalização da atividade teatral nas quatro cidades. As barreiras que limi-
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