Professor da ECO UFRJ e analista do Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos.Em Psicologia das massas e análise do eu, Freud afirma: "Cada indivíduo partilha de numerosas mentes grupais -as de sua raça, classe, credo, nacionalidade, etc. -podendo também elevar-se sobre elas, na medida que possui um fragmento de independência e originalidade." É na busca da caracterização desse "fragmento de independência e originalidade" que se põe a caminho a reflexão de Eduardo Leal Cunha. Apoiada em uma notável capacidade literária, fato nem sempre muito presente em autores especialistas em psicanálise, o texto vai nos convocando a seguir os passos de um percurso, que não evita os meandros, mesmo os mais obscuros, com que o leitor se depara no seu desenvolver.O título per se já é provocativo, pois o conceito de indivíduo -"categoria fundamental seja para a constituição da ideia de identidade, seja como valor e eixo central para a organização da sociedade" -não pode acolher em si, tranquilamente, a ideia da pluralidade. Estamos, portanto, avisados de que se trata de um embate de grandes proporções. Embate que não tem o sentido de mera porfia, discórdia, mas de oportunidade de os oponentes se revelarem em outras possibilidades além das até hoje representadas. Não se trata, portanto, de uma tentativa de se descartar das categorias de indivíduo e identidade, o que seria vão, mas de "indicar ao menos a possibilidade de outros caminhos para a experiência subjetiva". Vai-se enfocar com vigor o que o conceito de identidade quer dizer e como dessa forma vão se revelando, sobretudo nas "bordas", na imprecisão de seus limites, o que ainda não foi dito, no que se tem dito da identidade.A primeira providência do autor é enfocar uma atitude característica de nossa modernidade, em que identidade é experimentada como uma resposta à complexa pergunta quem é você? Imediatamente, sacamos de nossos bolsos uma série de dados referentes a filiação, local de nascimento, idade, etc., reunidos numa carteira, e aparentemente ficamos satisfeitos. O texto nos propõe abandonar essa "posição de segurança e conforto" e ousar aquilo que de fato nos constitui como seres humanos -o questionar -, e mais uma vez perguntar pelo que entendemos como identidade.A diagramação do livro já é sugestiva: sua primeira página está quase em branco, contendo apenas a pergunta quem sou eu? Evidentemente, de forma radical, logo de início, se introduz a questão, pois quan-
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