M eu ponto de partida neste artigo é a atual superprodução dentro de nossa disciplina. Estamos familiarizados com a idéia de que, dentro de qualquer área de historiografia que possamos imaginar, em qualquer especialização, uma quantidade superabundante de artigos e livros é produzida anualmente, tornando conhecê-los todos tarefa impossível. Isto é válido até mesmo para as diferentes áreas dentro de uma só especialização. A título de ilustração, darei um exemplo na área de teoria política, com a qual estou bem familiarizado. Quem quisesse adentrar a filosofia política de Hobbes, uns vinte anos atrás, precisava apenas de dois comentários importantes sobre sua obra: os estudos de Watkins e de Warrrender. É claro que havia outras obras, mas após a leitura destes dois livros poder-se-ia estar razoavelmente bem "situado". Porém, qualquer um que, em 1989, tenha a coragem de tentar dizer algo significativo a respeito de Hobbes terá de ter lido uma pilha de vinte a vinte cinco estudos tão cuidadosamente escritos quanto abrangentes; lhes pouparei enumerá-los. Ainda mais, estes estudos são via de regra de tão alta qualidade que não podemos nos dar ao luxo de não lê-los.Existem dois aspectos desta superprodução não-intencional. Em primeiro lugar, a discussão sobre a obra de Hobbes torna-se uma discussão sobre a interpretação da obra de Hobbes, em vez de ser uma discussão sobre a obra em si. O texto original às vezes parece ser pouco mais do que a quase esquecida razão da guerra de interpretações de hoje em dia. Em segundo lugar, por evidentemente prestar-se a múltiplas interpretações, o texto original de Hobbes perdeu sua capacidade de funcionar como árbi-tro no debate dentro da História. Devido a tantas interpretações, o texto em si tornou-se vago, uma aquarela na qual as linhas se fundem. Isto significa que a ingênua crença de que o texto poderia oferecer uma solução para nossos problemas de interpretação tornou-se tão absurda quanto crer em sinalização de rosa-dos-ventos. O resultado paradoxal desta situação é que Topoi, Rio de Janeiro, mar. 2001, pp. 113-135.
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