ResumoEste artigo propõe analisar algumas narrativas do escritor moçambicano Mia Couto, especialmente o romance Terra sonâmbula, com ênfase no processo entre as tradições orais e a escrita literária. Couto traz alguns aspectos das tradições orais africanas para suas obras, tanto nos temas como na estrutura textual, resultando em uma transferência de valor de uma para a outra. A principal referência é o texto "A tradição viva" de Hampaté Bâ, que apresenta o valor e a força da palavra para vários povos africanos. As outras referências consistem em autores dos estudos da linguagem, do pós-colonialismo e das literaturas africanas em português.Palavras-chave: Mia Couto; literatura moçambicana; tradição viva; tradições orais; linguagem. The living word of Mia Couto AbstractThis paper aims to analyze some narratives of the Mozambican writer Mia Couto, especially the novel Sleepwalking land, with focus on the process from oral traditions to the literary writing. Couto brings some aspects from African oral traditions to his oeuvres, both in the themes and in the textual structure, resulting in a transference of value from one to the other. The main theoretical reference is the text "The living tradition" by Hampaté Bâ, which presents the value and force of the word to many African people. The other references consist of authors from language studies, post-colonialism, and African literatures in Portuguese.Keywords: Mia Couto; Mozambican literature; living tradition; oral traditions; language.Introdução O trabalho com a linguagem na literatura de Mia Couto chama a atenção há bastante tempo, havendo um grande número de pesquisas sobre suas criações e recriações linguísticas. O autor, porém, não se preocupa com a língua apenas na forma, mas também como tema, como algo de importância maior para grande parte de seus enredos, principalmente nos romances. Entre as características identificadas em suas obras, nesse sentido, estão as relações entre tradição e modernidade, em que o autor procura trazer aspectos próprios das tradições orais africanas para a escrita, resultando em transferência de valor de uma para a outra.Desse modo, a escrita, mantendo valores da oralidade, adquire uma força que a torna parte do espaço, da nação moçambicana, da própria terra, como está representado metaforicamente em alguns romances, quando a escrita se faz no chão ou páginas se transformam na própria matéria terrestre. Neste artigo, portanto, apresenta-se uma análise do valor da palavra -das tradições orais à escrita -em alguns romances de Couto, com destaque à Terra sonâmbula, partindo do conjunto de pesquisas já realizadas para avançar em outras possibilidades de compreensão do estilo do autor.
O escritor moçambicano Mia Couto é reconhecido tanto por sua criatividade formal como temática. Da primeira, destaca-se seu trabalho com a linguagem, com os neologismos e inversões sintáticas, pela aproximação de prosa e poesia, pelas tradições orais africanas tomadas como base para a escrita. Quanto aos temas, são abordados os problemas que afetam Moçambique, como o colonialismo, a guerra posterior à independência, a seca e a fome, a opressão às mulheres e idosos. Nesse conjunto, portanto, tem-se uma literatura voltada à nação ex-colonial, caracterizada pelo projeto da época de luta pela independência, de que Couto participou ativamente, e a realidade que se seguiu com a sua não concretização. O autor afasta-se, então, da atuação política direta, mas aborda as relações de poder em suas obras. Em face disso, surgem as questões, aqui examinadas, quanto ao engajamento de Couto, sua posição crítica, a relação entre ética e estética em seus textos, de modo a demonstrar, indo na contramão das divisões absolutas entre estes dois aspectos, que se pode considerar sua estética como engajada.
Este artigo visa a analisar alguns poemas do escritor moçambicano Mia Couto, com ênfase na relação entre o eu lírico e o autor empírico, de modo a verificar as co-incidências autobiográficas. Em alguns poemas, o eu lírico se apresenta coincidente com o autor real, como nos textos dedicados ao pai e à esposa. Em outros, há pontos em comum, mas que não são assumidos, deixando aberturas à interpretação. Desse modo, o que se busca não é determinar os sentidos dos poemas e delimitar a interpretação pela via autobiográfica simplesmente, mas verificar como funcionam as várias instâncias da voz nos poemas e, a partir daí, levantar algumas características da produção poética de Mia Couto. AbstractThis paper aims to analyze some poems of the Mozambican writer Mia Couto, with focus on the relation between the lyrical self and empirical author, in order to verify the autobiographical coincidences. In some poems, the lyrical self appears coincident with the real author, as in the texts dedicated to his father and to his wife. In others, there are points in common, but they are not assumed, leaving openings to interpretation. In this way, what is sought is not to determine the meanings of the poems and to delimit the interpretation by the autobiographical way simply, but to verify how the various instances of the voice work in the poems and, from there, to raise some characteristics of the poetic production of Mia Couto. IntroduçãoMia Couto, escritor reconhecido por sua ampla produção em prosa, também escreve poemas, voltando a se dedicar aos versos após um longo período. 1 Nos poemas, são recorrentes alguns motivos e temas de seus contos e romances, como as constantes referências e metáforas de árvores, céu, terra, mar, rio, casa, entre outras. A essa espacialidade, ao mesmo tempo local, moçambicana, e universal, em que predominam os elementos de natureza, somam-se a temática da infância, da morte, do relacionamento amoroso e do próprio fazer poético.
"posso caminhar sobre as águas no seu defluir, com meus pés macios pisando algas, nenúfares, luas, sonhos, na companhia de ninfas; até posso regressar à fonte, ir contra a corrente das águas e lá chegando me deleitar no princípio do mundo..." (Boaventura Cardoso, Noites de Vigília) "Explica-me que sabe ler a vida de um homem pelo modo como ele pisa o chão. Tudo está escrito em seus passos, os caminhos por onde ele andou.-A terra tem suas páginas: os caminhos." (Mia Couto, Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra) RESUMO MICHELETTI, E. F. Os (des)caminhos da nação: um estudo comparado do espaço em Terra sonâmbula e Mãe, Materno Mar. 2016. 270f. Tese (Doutorado)-Faculdade de Filosofia,
RESUMO:Este artigo propõe analisar o isolamento como tema recorrente nos romances de Mia Couto, tanto em relação às personagens, individualmente, como pelas vilas e aldeias, geralmente em contraponto aos grandes centros urbanos. Entre as razões para o isolamento, estão as consequências do colonialismo e da guerra posterior à Independência de Moçambique, em que estão implicadas as questões entre campo e cidade, local e global, tradição e modernidade. ABSTRACT:This paper aims to analyze the isolation as a recurrent theme in the works of Mia Couto, both related to the characters, individually, through the towns and villages, often in contrast to the large urban centers. Among the reasons for the isolation are the consequences of colonialism and the war after Independence of Mozambique, in which are implicated the issues between country and city, local and global, tradition and modernity.
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