O presente artigo está organizado em cinco partes. Na primeira, retomamos os pressupostos ontológicos da relação entre saúde, doença e cura nos processos vitais. Na segunda, aprofundamos a relação entre a doença e a consciência angustiada da finitude e da alienação. A terceira parte é propriamente teológica e se dedica à relação da cura com o Novo Ser em Cristo e a Presença do Espírito divino. As quarta e quinta partes, de cunho mais pastoral, analisam as relações entre as diversas funções de cura e seus agentes, especialmente entre psicoterapia e aconselhamento pastoral. Destacamos aí o conceito profundamente teológico de aceitação.
A teologia de Tillich elaborou-se como um constante diálogo e confronto com os movimentos sociais, políticos, filosóficos, científicos e artísticos do século XX, no afinco de descobrir sua dimensão religiosa suprema, suas chances e seus desvios, suas exigências e seus apelos. Foi nessa intenção que Tillich construiu o “método de correlação” que o tornou famoso. É nesse sentido que toda a teologia dele pode ser qualificada de “teologia da cultura”. O breve trabalho que aqui propomos explicitará numa primeira parte os principais conceitos que estruturam a teologia da cultura de Tillich : preocupação suprema, última ou incondicional; duplo conceito de religião; profanização e demonização; cultura e estilo; kairos e teonomia; princípio protestante. Apresentamos na segunda parte três aplicações, para ilustrar o projeto tillichiano de teologia da cultura: análise da cultura da sociedade industrial; análise religiosa do capitalismo e do socialismo; natureza, símbolo e sacramento.
Gostaríamos de ressaltar, neste breve Editorial, a importância do tema do dossiê para as ciências da religião. Partimos do pressuposto de que a religião – enquanto objeto das ciências da religião - se estrutura por meio da linguagem, ou que é essencialmente linguagem. Já que as ciências da religião procuram entender, explicar, interpretar e compreender o fenômeno religioso, elas precisam reconhecer, estudar e praticar as diversas formas de linguagem pelas quais a religião se expressa e se comunica. Para esse fim, elas precisarão recorrer às múltiplas teorias da linguagem disponíveis. As linguagens religiosas, como todas as linguagens da cultura, encontram a sua origem numa certa orientação do corpo humano em relação com o seu mundo. Assim teremos linguagens fonéticas, vinculadas às línguas naturais, orais e escritas; linguagens gestuais, ligadas a posições e movimentos corporais externos; e linguagens visuais, oriundas do sentido da visão. Os outros sentidos podem também dar origem a formas distintas de linguagem, como a audição e a linguagem da música e dos sons, o olfato e a linguagem dos odores (pensamos no incenso utilizado em rituais de várias religiões), o paladar e a linguagem dos sabores (por exemplo, o sabor das comidas oferecidas aos deuses), o tato e a linguagem dos toques, especialmente útil aos deficientes visuais, mas não só.
Em sua visão, como foi o desenvolvimento do campo de estudos das religiões no Brasil? E na Região Norte especificamente?Os estudos de religião no Brasil aconteceram em diversos momentos e em muitos horizontes intelectuais. Vamos lançar apenas alguns pontos, por exemplo, com a abertura dos portos no início do século XIX (1808), muitos naturalistas europeus vieram ao Brasil. Essa prática científica, que influenciou os estudos de Durkheim e de muitos outros intelectuais na Europa, foi um importante passo para os estudos de culturas e raças segundo os moldes das ciências naturais. Essas abordagens limitaram-se a aspectos externos e muito influenciados por teorias evolucionistas e racialistas (racistas também), superadas e criticadas em um segundo momento, a partir dos anos 1910 e 1930, quando o Brasil começou a pensar suas origens e identidades.Em anos mais recentes, a partir dos trabalhos de Florestan Fernandes (1920-1995 sociólogo paulistano, e Lilia Moritz Schwarcz (1957-), historiadora paulistana, pode-se ver como no Brasil essas formas de estudos de religião estiveram por muito tempo ancoradas na questão racial.Essa matriz científica, na melhor expressão de Jürgen Habermas, era dotada de ideologias, e interesses científicos e étnicos, imbricadas com formas políticas e econômicas hegemónicas e que estavam encarnadas nos ideais dos aristocratas agrários e pré-industriais, estendendo-se aos seus derivativos industriais e financeiros mais contemporâneos. Em meio a esse horizonte científico, poderíamos destacar os naturalistas que cederam lugar, em momento posterior, aos folcloristas e seu importante papel coletor, identificador e agregador dos elementos étnicos e culturais do Brasil. Um desses nomes é o potiguar, Luís da Câmara
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