Resumo O romance As meninas, da escritora brasileira Lygia Fagundes Telles, publicado em 1973, apresenta um elaborado trabalho formal ao orquestrar um jogo de focalização e vozes, bem como temas que, na tessitura literária, semantizam o real: a experiência histórica, a vivência de mulheres frente a um período político conturbado e os constantes atravessamentos do passado no presente. A partir dessa organização, objetivamos investigar nesse romance a História como matéria-prima do processo de figuração das personagens, isto é, analisar como o contexto histórico-político é vetor de produção de sentido pelo qual se alcança a ficcionalização das figuras. Para tanto, observamos, primeiramente, as relações entre a narrativa literária e a História a partir de Paul Ricoeur (2010) para, na sequência, apresentar a apreciação literária.
Este trabalho investiga as formulações de identidade no campo literário erigidas pelo reconhecimento de si alcançado pela práxis narrativa. Tal problema é formulado a partir da obra Boyhood, de J. M. Coetzee (1997). A analítica do objeto literário será focalizada a partir da constituição do eu projetado no discurso por meio da construção da figura ficcional. Assim, busca-se observar como a projeção discursiva do eu como um outro implica um percurso de reconhecimento que é a base da conformação da identidade do personagem. Em uma abordagem fenomenológico-hermenêutica, recorre-se a Paul Ricoeur e Phillip Lejeune a fim de elaborar a teorização necessária para dar cabo da proposta investigativa; bem como as ideias de Walter Benjamin sobre narração e experiência. Desse modo, apoiadas na discussão teórica articulada à análise literária, as reflexões indicam para o enquadramento da narrativa como forma de organização e transmissão da experiência e espaço privilegiado para o reconhecimento de si e, por extensão, meio constituinte da identidade.
A Literatura Brasileira contemporânea constitui-se como um campo discursivo plural e heterogêneo do qual emergem vozes subalternizadas historicamente pelo poder colonial. Nesse cenário, destaca-se a obra de Conceição Evaristo que, em seu fazer literário, vocaliza as vivências da mulher negra periférica projetada como “escrevivência”, isto é, a articulação da experiência vivida pela escritora, e pelos que compartilham da identidade da mulher negra, na escrita literária. Ao partir desse contexto, tomo como objeto de estudo alguns poemas de Conceição, “Recordar é preciso”, “Vozes-mulheres” e “Certidão de óbito”, reunidos no livro Poemas de recordação e outros movimentos (2017). Para a análise, objetivo investigar as figurações da memória operadas pelo eu-lírico no resgate da matéria vivida e entender esse processo à luz da decolonialidade. Desse modo, procuro base teórica sobre memória em Paul Ricoeur, Michel Pollak e Maurice Halbwachs; ainda, para tratar da decolonialidade, recorro a Walter Mignolo, Aníbal Quijano, Eduardo Restrepo, Axel Rojas e Edward Said.
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