"Não que amassem a todos que viam e a tudo o que acontecia: apenas sentiam a linda sobra do 'como seria' caindo sobre seus corações..." (R. Musil. O homem sem qualidades) 1 "Um admirável monumento em ruínas" história desse romance é aquela que deveria ser contada nele, mas não o será" -com essas palavras o escritor austríaco Robert Musil procurava apresentar, numa entrevista (Musil, 1978b, p.939-40) o tema de seu romance O homem sem qualidades, obra cuja elaboração estendeu-se por mais de trinta anos, e que permaneceu inacabada. Os primeiros esboços datam de meados da década de 1910, o primeiro volume foi publicado em 1930 e o segundo, sob insistência do editor, dois anos mais tarde, ainda inacabado. Cerca de cinco mil páginas manuscritas, entre material publicado, variantes de capítulos e anotações foram sendo acumuladas ao longo dos anos, formando o arcabouço de uma obra cuja elaboração se tornava cada vez mais complexa. Na fatídica manhã de 1942, quando sofre um ataque fulminante em seu exílio na Suíça, Musil ainda havia trabalhado no capítulo "Suspiros de um dia de verão", um dos principais daquela que seria a terceira e última parte do romance. 2 Uma vez que é próprio da forma romanesca que esta se constitua no processo mesmo de sua criação, o Homem sem qualidades assume um caráter exemplar nesse sentido, pois suas componentes narrativas estão longe de ser simples. Aliás, seu tema, ainda que desenvolvido numa linguagem clássica, é justamente a inviabilidade da épica tradicional no mundo moderno. O protagonista Ulrich é alguém que reconhece a incapacidade de atribuir um "sentido épico primitivo" (Musil, 2006, p.689) à sua existência. Ora, se o conteúdo de um romance, como diz a célebre formulação de Lukács, "é a história de uma alma que sai a campo para conhecer a si mesma" (2000, p.91), o que esperar de uma narrativa na qual o conflito do herói consista na perda do "fio narrativo" de sua vida, na busca por uma outra forma de vida, mais legítima, dentro dos limites impostos pela realidade empírica? Esse complexo projeto romanesco tinha por tarefa responder a duas questões fundamentais: como o homem moderno deve se com-
É a partir de Montaigne que o ensaísmo se constitui como forma privilegiada de reflexão e como o veículo mais apto a dar voz às experiências do homem na modernidade. Este artigo explora alguns aspectos da relação entre os Ensaios de Montaigne e a nova dimensão que o ensaísmo assume no contexto do século XX, e que atinge um de seus momentos mais fecundos no romance O Homem sem Qualidades, de Robert Musil. Para tanto, começamos abordando os Ensaios de Montaigne como um momento inaugural do processo que associa escritura e conhecimento de si. A seguir, tecemos algumas considerações sobre a relação entre ensaio e forma literária, que tem em Lukács e Starobinski alguns de seus principais analistas. Por fim, focalizamos o papel do ensaísmo no romance Musil em seu duplo viés: como aspecto formal e como princípio de vida propagado pelo protagonista. O objetivo desta análise é mostrar que, redimensionado à luz de uma obra romanesca, o princípio ensaístico historiciza o papel da escritura como via de acesso a um conhecimento de si e do mundo a partir dos limites da experiência.
Para Robert Musil, “o Bildungsroman de uma ideia é o romance enquanto tal”. Partindo dessa premissa, o artigo demonstra como sua obra principal, o romance O homem sem qualidades, redimensiona a noção tradicional de formação (Bildung) à luz das exigências do presente, atribuindo ao processo reflexivo da personagem uma importância muito maior do que a mera narração de eventos. Ao acompanhar a aventura intelectual de uma personagem que procura ampliar as possibilidades de existência a partir da representação de uma experiência real de vida, o leitor é convidado a participar do esforço formativo do herói, e a engajar-se numa nova modalidade de reflexão.
In this paper we discuss some of Anatol Rosenfeld's most important writings on the theater, especially his O Teatro épico (Epic Theater), where he takes up the principles of Brecht's dramatic art and Brecht's work in organizing anthologies of outstanding German literary authors (Lessing, Goethe and Schiller, for example). The objective here is to show how all these influences are intertwined in Rosenfeld's analysis of the Brazilian theatrical production of the 1960s. Between the lines of Rosenfeld's critique one can see the ethical dimension he attributes to Brazil's intellectual activity. He also mentions the efforts taken to adapt the transforming potential of Brechtian theater to the specific political and cultural context of countries like Brazil.Resumo:O presente artigo aborda alguns dos principais escritos de Anatol Rosenfeld sobre teatro, sobretudo O teatro épico, obra em que se debruça sobre os preceitos da dramaturgia de Brecht, bem como seu trabalho como organizador de antologias de autores canônicos da literatura alemã (Lessing, Goethe, Schiller), para mostrar como essas influências se cruzam em sua análise da produção teatral brasileira dos anos 1960. Nas entrelinhas da crítica de Rosenfeld, percebe-se a dimensão ética que ele atribuía à sua atividade intelectual e, ainda, um esforço de adaptar o potencial transformador do teatro brechtiano às demandas de um contexto político e cultural específico como o brasileiro.
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