A partir do estudo de caso do cupuaçu, este trabalho busca apresentar uma análise dos efeitos das atuais práticas de gestão do saber tradicional no Brasil, explorando suas contribuições como subsídio para a construção de uma agenda de governança ambiental global. Para isso buscar-se-á neste trabalho interrogar e discutir o atual debate sobre a biopirataria e gestão do saber tradicional não apenas como uma questão de acesso a esse saber, mas principalmente como uma questão de justiça e eqüidade. O caso cupuaçu destacou-se entre 2003 e 2004 a partir da atuação da ONG acreana AMAZONLINK, que mobilizou uma campanha bem sucedida em protesto ao registro indevido do nome cupuaçu como marca comercial pela empresa japonesa ASAHI Foods, nos escritórios de patente japonês, norte-americano e europeu. Este caso de biopirataria, ainda pouco estudado, é uma referência importante, tanto pelo modo emblemático como revela a lógica e os limites de atuação e articulação dos principais atores envolvidos na questão da governança ambiental global, como também por enfatizar o debate sobre a importância e o uso desses saberes e recursos no Brasil. Adicionalmente, destaca ainda o crescente protagonismo de atores da sociedade civil organizada em ações de proteção e oposição a casos de biopirataria. A abordagem teórica baseia-se no quadro da Ecologia Política, destacadamente, a partir de sua vertente pós-colonial. Com o uso do conceito de zona de contato, aprecia-se a relação entre os diferentes modos de se conhecer e apropriar, desvelando-se a lógica de criação, normalização e operacionalização de conceitos dominantes de conhecimento e propriedade nas tentativas de proteger e promover o saber tradicional. Constatou-se que as atuais formas de gestão desenvolvidas para proteção e promoção do saber tradicional configuram-se como "ilhas" de coordenação que são incapazes de evitar a biopirataria. Um dos efeitos provocados por esse quadro é a marginalização dos sistemas de conhecimento e normas consuetudinárias que regulamentam a reprodução e uso dos saberes tradicionais nas comunidades. No entanto, acredita-se que a maior dificuldade que esse caso revela é que, a concessão de marcas indevidas à terceiros, imputa aos detentores originais e seus aliados o ônus da sua contestação em escritórios de propriedade intelectual. Além de servir de alerta para a 1 Bolsisista de Pós-doc da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Bahia -FAPESB no Núcleo de Pós-Graduação em Administração -NPGA da Universidade Federal da Bahia -UFBA com o projeto "A gestão do saber tradicional no contexto amazônico: uma análise de iniciativas tripartites Brasil-Peru-Bolívia", sob a supervisão da Prof. Maria Teresa Franco Ribeiro. Professor Visitante no Departamento de Ciências Biológicas da UEFS.
A partir do estudo de caso do cupuaçu, este trabalho busca apresentar uma análise dos efeitos das atuais práticas de gestão do saber tradicional no Brasil, explorando suas contribuições como subsídio para a construção de uma agenda de governança ambiental global. Para isso buscar-se-á neste trabalho interrogar e discutir o atual debate sobre a biopirataria e gestão do saber tradicional não apenas como uma questão de acesso a esse saber, mas principalmente como uma questão de justiça e eqüidade. O caso cupuaçu destacou-se entre 2003 e 2004 a partir da atuação da ONG acreana AMAZONLINK, que mobilizou uma campanha bem sucedida em protesto ao registro indevido do nome cupuaçu como marca comercial pela empresa japonesa ASAHI Foods, nos escritórios de patente japonês, norte-americano e europeu. Este caso de biopirataria, ainda pouco estudado, é uma referência importante, tanto pelo modo emblemático como revela a lógica e os limites de atuação e articulação dos principais atores envolvidos na questão da governança ambiental global, como também por enfatizar o debate sobre a importância e o uso desses saberes e recursos no Brasil. Adicionalmente, destaca ainda o crescente protagonismo de atores da sociedade civil organizada em ações de proteção e oposição a casos de biopirataria. A abordagem teórica baseia-se no quadro da Ecologia Política, destacadamente, a partir de sua vertente pós-colonial. Com o uso do conceito de zona de contato, aprecia-se a relação entre os diferentes modos de se conhecer e apropriar, desvelando-se a lógica de criação, normalização e operacionalização de conceitos dominantes de conhecimento e propriedade nas tentativas de proteger e promover o saber tradicional. Constatou-se que as atuais formas de gestão desenvolvidas para proteção e promoção do saber tradicional configuram-se como “ilhas” de coordenação que são incapazes de evitar a biopirataria. Um dos efeitos provocados por esse quadro é a marginalização dos sistemas de conhecimento e normas consuetudinárias que regulamentam a reprodução e uso dos saberes tradicionais nas comunidades. No entanto, acredita-se que a maior dificuldade que esse caso revela é que, a concessão de marcas indevidas à terceiros, imputa aos detentores originais e seus aliados o ônus da sua contestação em escritórios de propriedade intelectual. Além de servir de alerta para a necessidade da tipificação legal do crime de biopirataria, o caso do cupuaçu enfatiza a importância do fomento às formas locais de manejo desses saberes e recursos, inclusive o impacto positivo algumas parcerias comerciais avalizadas. Para incrementar a participação interativa dos detentores desses saberes no seu processo de gestão, sugere-se a necessidade de uma abordagem regionalizada, na forma de órgãos ad hoc que incluam ativamente atores não-estatais; acredita-se que isso permitiria uma apreciação mais adequada das suas especificidades territoriais no desenho das formas de governança sustentáveis para a sua gestão em nível global.Palavras-chave: Saber Tradicional; Sustentabilidade; Cupuaçu; Biopirataria; Amazonlink.AbstractThis paper presents a critical understanding of the traditional knowledge (TK) promotion and protection practices implemented by the Brazilian State through the analysis of the cupuaçu case. The debate about TK´s indebt appropriation is approached not only as a matter of access, but mainly as a justice and equity issue, exploring how these practices could contribute for the global environmental agenda. The cupuaçu case happened between 2003 and 2004, when the Brazilian NGO Amazonlink organized a campaign against the registry of the name cupuaçu as a trade mark at the Japanese Patent Office. The relevance of this case is due the way it reveals the logic and limits which drives stakeholders’ actions in environmental conflicts, and its emphasis on TK’s importance for development and innovation in Brazil. Additionally it analyses the increasing protagonism of organized civil society actors who promotes defensive actions towards TK. The theoretical framework is based within the Political Ecology approach, mainly its postcolonialist stream. The use of the contact zone concept allowed the analysis of different ways of knowing and owning TK and genetic resources, unveiling the creation, normalization and operacionalization of dominant concepts of knowledge and property within traditional knowledge “management”. It was found that Brazilian institutional environment built to protect and promote TK acts as a “coordination island”. In the context of cupuaçu case, it’s emphasized also that traditional population’s customary laws are excluded and subordinated to intellectual property instruments. The major difficulty identified by this article is that indebt granting of trade marks imputes to TK’s holders the burden of proof and costs of claiming their rights. To halt biopiracy escalade and make it punishable, the need of its legal tipification as a crime is emphasized along with the support to traditional lifestyles and selected commercial partnerships. The regionalization of TK’s “management” is highlighted in order to promote an interactive participation of traditional knowledge holders. This would allow a better evaluation of traditional knowledge specificities, improving global governance actions designed to its protection and promotion.Keywords: Traditional Knowledge; Sustainability; Cupuaçu; Biopiracy; Amazonlink.
Este artigo busca divulgar os resultados da dissertação "A Filière das Plantas Medicinais no Brasil - Um Breve Recorte a Partir de Abordagens Econômicas Dinâmicas". Seu foco é a percepção do ambiente institucional dessa filière através de atores entrevistados. As abordagens empregadas foram a Teoria dos Custos de Transação, a Teoria Evolucionista e a Teoria da Coerência Corporativa. As técnicas empregadas na coleta de dados foram a entrevista e a observação não-participante. Auferiu-se que os dois fatores que mais afetam os custos de transação e que acabam por definir a escolha dos arranjos contratuais pelas firmas na amostra da filière estudada são a incerteza e a especificidade de ativos. Conclui se que existe uma assimetria de informações e ativos específicos entre os atores da filière, o que possibilita a apropriação iníqua dos ganhos por atores com maior poder de barganha, devido a uma disfunção reguladora e indutora do desenvolvimento na esfera institucional.
Produção mais limpa no Brasil: uma análise bibliométrica em bases de dados científicas selecionadas Cleaner production in Brazil: a bibliometric analysis in selected scientific databases
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