Neste artigo, analiso um amplo leque de fontes que revelaram fragmentos dos movimentos e dos conflitos ocorridos na zona rural de Juiz de Fora (Zona da Mata mineira) ao longo de cinqüenta anos (1878-1928). As histórias que serão aqui analisadas nos dão a conhecer as conquistas e as derrotas que se forjaram nas vicissitudes da vida e nos desnudam as estratégias de sobrevivência de homens do campo à luz das demandas judiciais no jogo de poder sobre o direito à terra.
RESUMO O texto discute as possibilidades de mobilidade econômica e social vivenciadas pela população de pardos livres em Minas Gerais na primeira metade do século XIX, quando a província possuía a segunda maior população de mestiços do Brasil. A questão foi abordada a partir da trajetória do pardo Valentim Gomes Tolentino, assentado no arraial de Santo Antônio do Paraibuna, futuro município de Juiz de Fora, na Zona da Mata Mineira, nas margens do Caminho Novo. No período em análise, a localidade destacava-se pela produção de alimentos e por uma incipiente economia cafeeira. Exercendo as atividades de tropeiro, lavrador, prestamista, fazendeiro e comerciante, Tolentino alcançou prestígio e riqueza, sendo um dos maiores proprietários de escravos de sua localidade em 1831 e possuidor de mais de uma sesmaria de terras. Ele ostentou a patente de alferes e era senhor de uma fortuna considerável quando faleceu em 1848.
A proposta deste artigo é apresentar os resultados parciais de uma pesquisa que tem por objetivo reconstituir histórias e memórias de roceiros negros na Zona da Mata mineira (Juiz de Fora e Mar de Espanha -século XIX). No período proposto a região possuía condições físicas para o cultivo do café, então o principal produto de exportação do Brasil, e foi a mais rica de Minas Gerais, sendo responsável por uma produção da rubiácea, em Minas Gerias, que variou de 90% (década de oitenta do oitocentos) a 70% (década de vinte do século passado). A principal mão-de-obra utilizada nas lavouras cafeeiras foi a do negro, primeiro na condição de cativo e depois como trabalhador livre predominante. Partindo de relatos de viajantes, fontes cartorárias, processos criminais e variados processos civis (inventários, ações de cobranças de dívidas, processos de divisão e demarcação de terras, despejo, embargo e outros) investigo as atividades econômicas de cativos nas roças destinadas por seus senhores para cultivos em domingos e dias santificados e dedicadas ao seu sustento.
Discutimos as práticas cotidianas de ocupação e uso da terra (sesmarias, posses, usufruto e compra e venda) às margens do Caminho Novo (Zona da Mata mineira). O rápido processo de ocupação do território deu origem a embates políticos, econômicos, sociais e, principalmente, relacionados à propriedade, ocupação e demarcação da terra. Ao realizar o estudo de casos concretos, buscamos enriquecer as interpretações sobre os processos de ocupação da terra e dos conflitos agrários, desnudando a complexidade do vivido e a multiplicidade das atividades humanas.
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