Resumo Fundada em 1999 pelo Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da UFRJ, Alea funcionou ao longo de mais de vinte anos como uma revista de referência incontornável da ciência brasileira e latino-americana na área de Letras, estabelecendo um sólido nexo de pesquisa acadêmica com instituições e pesquisadores do Brasil e do mundo no âmbito dos estudos neolatinos, assim como de áreas afins como a literatura comparada, os estudos culturais, os estudos de tradução, a teoria da literatura e a estética. Assim, o artigo estuda o papel da revista no desenvolvimento e atualização do conhecimento sobre as literaturas hispânicas e as de língua francesa e italiana produzido no Brasil, com destaque para as contribuições de artigos, traduções, documentos de arquivos e resenhas dos últimos cinco anos, através da sistemática colaboração com universidades e pesquisadores do exterior. Organizado segundo uma divisão historicizada em três grandes temas (internacionalização da pesquisa brasileira; ética e qualidade editorial; e perspectiva de inserção no projeto Ciência Aberta), serão propostos diversos percursos de leitura que, dando conta da trajetória das publicações de Alea, compõem um panorama atualizado das questões e objetos de pesquisa e discussão na área dos estudos neolatinos no Brasil e no mundo.
EDITORIAL Severo Sarduy: um lugar entre nósDe onde vem essa força que a tudo habita e que se torna sensível para dois materiais que são o fundamento de múltiplas formas da arte -a luz e o som? Essa é a pergunta que de mil maneiras Severo Sarduy parece repetir, para responder: da primeira explosão, do Big Bang, tão imaginário quanto cientificamente real, tão desejado (é a primeira Revolução irrecuperável) quanto experimentado (é a luz que ainda se vê e o som que ainda se ouve no espaço exterior), tão originário (o autêntico salto para a vida) quanto arqueologicamente destituinte de toda origem pura.Essa primeira imagem, motor de todas as outras que habitam a obra de Sarduy, é o resultado de um fato singular: um jovem poeta e crítico de arte, nascido em 1937 e ainda com escassa formação, deixa sua Cuba natal em 1960 para estudar história da arte na Europa. Uma década depois, instalado em Paris, esse jovem, através do estudo, do trabalho e do simultâneo redescobrimento de sua própria tradição, se torna um autor, não de uma obra de poesia ou de crítica, não de uma obra como romancista ou editor, não de uma obra de divulgação científica, mas da articulação de todas essas experiências criativas, articulação em que a ciência ocupará um lugar decisivo, como forma de interrogar a origem de todas as coisas e por meio da qual Sarduy consegue desenvolver uma teoria completa, o Neobarroco.Para compreender a lógica dessa "obra completa", os leitores de Sarduy, desde os anos 1970, tiveram que procurar um modo de articular a força aglutinante dessa teoria (Neobarroco) com a grande dispersão multiplicada (em gêneros, vocações, temas, etapas, profissões e até modas). Trata-se de uma característica que, ainda hoje, obriga a interrogar os limites dessa obra, o funcionamento de cada um dos seus componentes e a forma em que se dão suas múltiplas articulações.Esse desejo de interrogação é o que guia este número da revista ALEA, dedicado a celebrar a obra de Severo Sarduy, no octogésimo aniversário do nascimento do escritor, ocasião que mereceu o esforço de reunir os principais estudiosos de sua obra para estabelecer o que, a nosso ver, poderia ser uma nova perspectiva nos estudos da obra de Sarduy -releituras que, de um modo ativo, permitam novamente "dar-lhe um lugar entre nós", como assinala em seu trabalho Gustavo Guerreiro (editor, junto a François Wahl, da sua Obra completa, publicada em 1999), ou seja, definir de um modo preciso e delicado as zonas de sua obra que continuam vitais para nós.
EditorialPensando a contemporaneidade no sentido proposto por Giorgio Agamben, 1 como uma singular relação com nosso próprio tempo, que implica adesão, mas também distância e certo anacronismo no olhar; um modo de estar no tempo presente, mas interpelando-o, transformando-o e colocando-o permanentemente em relação com outros tempos, surge a pergunta: como a cultura latino-americana contemporânea vivencia e reflete hoje o contemporâneo? Este número de Alea reúne um conjunto de artigos que, de diversas maneiras, circulam em torno dessa pergunta.Abrem o volume dois textos de feição teórica, com evidentes pontos de contato no que tange à percepção transnacional dos processos literários, à margem de qualquer concepção disciplinante de base binária e falsamente homogeneizadora da cultura: Eduardo Coutinho estuda o impacto de um novo comparatismo literário na reflexão teórico-crítica latino-americana dos séculos XX e XXI e Ottmar Ette argumenta como os Estudos de Transárea constituem hoje um paradigma científico de inestimável valor para o estudo da cultura em um mundo em permanente movimento.Em uma direção próxima, mas já no âmbito do exercício crítico, Caroline Rolle apresenta as bases de uma pesquisa que integra poéticas latino-americanas contemporâneas produzidas na expansão dos limites da linguagem, do espaço, dos gêneros e dos suportes mais convencionais da arte e da literatura, colocando sua análise transmedial em função do estudo de diferentes imaginários urbanos latino-americanos. Na sequência, Ana Cecilia Olmos e Karl Erik Schøllhammer exploram modos contemporâneos de pensar o regime da representação. Olmos, apostando em uma hermenêutica da singularidade estética para pensar a comunidade literária, mergulha nas escritas ilegíveis de Héctor Libertella e Diamela Eltit, verdadeiras máquinas corrosivas da linguagem, que desestabilizam os sentidos cristalizados do literário, renunciam à nitidez do comunicável e dinamitam os tradicionais mandatos de representação do latino-americano; Schøllhammer, a partir da oportuna leitura de Luiz Ruffato, discute as novas possibilidades de um realismo que, à margem das formas tradicionais de representação literária e do modelo moderno de autonomia literária, incorpora segmentos do "real" à própria materialidade textual.1 Referimo-nos ao texto "Che cos'è il contemporaneo?", traduzido ao português e incluído na edição brasileira do livro O que é o contemporâneo? e outros ensaios (Chapecó: Argos, 2009).
¹Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, RJ, Brasil No presente volume da Alea, desponta em primeiro plano o Dossiê dedicado aos 150 anos da publicação de Le Spleen de Paris (1869), de Charles Baudelaire. Organizado por dois pesquisadores brasileiros e dois pesquisadores franceses, o conjunto de artigos aborda por vieses diversos a coletânea de "pequenos poemas em prosa" que constituiria um marco singular na poesia da segunda metade do século XIX em sua reivindicação de uma forma nova que desse conta das experiências de transformação do cotidiano impostas pela "vida moderna". Como dizem os organizadores em sua apresentação do Dossiê, os textos "ratificam a importância de Baudelaire e de seus poemas em prosa para a literatura moderna e testemunham do vigor dos estudos baudelairianos no Brasil como na França". Na seção de Artigos que acompanha o Dossiê, reunimos sete ensaios. Quatro circulam por temas variados da poesia, dois se interessam por problemas dos gêneros narrativos e um último texto tem um perfil teórico-historiográfico.O primeiro dos textos voltados para o estudo da poesia apresenta os principais preceitos poéticos elaborados por Richard Wagner em seu tratado Opera and Drama (1893), bem como suas reverberações na poesia modernista hispano-americana, enfatizando o modo como os estudos sobre a musicalidade na poesia simbolista e modernista têm se apropriado da preceptiva músicopoética do artista alemão para dar fundamento a suas análises. O segundo https://dx.
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