Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), sendo permitidas reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados. RESUMO -Esta pesquisa qualitativa-interpretativista investiga a emergência de classificadores (CL) como affordances linguísticas em interações comunicativas na Língua Brasileira de Sinais (Libras). Para tanto, recorremos à abordagem ecológica na análise e discussão de seis CLs (descritivo, especificador, semântico, instrumental, locativo e plural) usados em um vídeo produzido por um surdo. Os resultados apontam que, embora os CLs mostrem diferentes graus de iconicidade em suas emergências, a iconicidade nesses morfemas pode propiciar uma melhor compreensão desse recurso de estruturação interna das línguas de sinais (LS). Isso devido ao fato de que os CLs (como discutido nesta pesquisa) configuram-se em affordances linguísticas nas práticas de uso das LS.Palavras-chave: abordagem ecológica, affordance linguística, Libras, classificadores.
ABSTRACT -This qualitative-interpretive research investigates the emergence of classifiers (CL) by considering them as linguistic affordances in Brazilian Sign Language (Libras) communicative interactions.In order to achieve this goal, we resort to the ecological approach to analyze and discuss six CLs (descriptive, specifier, semantic, instrumental, locative and plural) used in a video produced by a deaf person. The results show that, although the CLs express different degrees of iconicity in their emergencies, the iconicity of these morphemes may allow a better understanding of this internal structural resource of the sign languages (SL). This finding is a direct consequence of CLs (as discussed in this research) being linguistic affordances in the LS use practices.Keywords: ecological approach, linguistic affordance, Libras, classifiers.
IntroduçãoAs línguas de sinais (LS) são línguas naturais de modalidade visoespacial, cujas pesquisas científicas no âmbito de suas estruturas internas, aquisição e uso nas comunidades surdas (como língua materna) e ouvintes (como segunda língua) vêm aumentando consideravelmente desde os estudos preliminares do linguista norte-americano William Stokoe (Quadros e Karnopp, 2004). A Língua Brasileira de Sinais (Libras), assim como as outras LS, manifesta-se essencialmente via articulação das mãos, movimento do corpo e da face, tendo, do ponto de vista fonológico, em sua estrutura interna, parâmetros de suma importância como configuração de mão (CM), movimento (M) e locação (L); já, na esfera dos aspectos morfológicos e semânticos, os denominados classificadores (CL) também assumem um papel importante, inclusive com algumas CMs tidas como morfemas. Nesse sentido, segundo Ferreira-Brito (2010, p. 102), os CLs expandem "o espaço multidimensional em que se realizam os sinais" dada a característica espaço-visual das LS.