Publicada em 1902, a obra Os sertões, de Euclides da Cunha, tornou-se um clássico da reflexão e interpretação da realidade brasileira e, por extensão, ensejou o desenvolvimento de uma extensa fortuna crítica e analítica. O objetivo desse artigo é sugerir, pois, uma chave de leitura adicional que consiste em refletir sobre a produção euclidiana a partir do recurso narrativo da cor local. Embora amiúde associada à questão da construção da nacionalidade, o mecanismo da cor local dispõe igualmente de outras implicações e efeitos textuais que dizem respeito à dimensão imagética da narrativa. A partir dos critérios da nacionalidade e da visibilidade textual, procura-se investigar não somente a produção de Euclides, mas também parte de sua fortuna crítica ao longo do século XX. Como hipótese, então, sugere-se que a cor local é parte constitutiva do campo discursivo que compreende não somente a escrita euclidiana, mas também é perceptível nas avaliações de seus comentadores. Por sua vez, a presença do critério da cor local permite sugerir a importância do investimento imagético na prosa do autor e identificar um topos específico na fortuna crítica relativa à produção euclidiana.
RESUMO A história nunca deixou de se confrontar com a mentira. Como argumenta Anthony Grafton, a falsificação é uma contraparte da busca pela verdade, podendo, inclusive, estimular procedimentos de atestação e verificação do saber histórico. Este trabalho investiga dois empreendimentos contemporâneos de desmascaramento da mentira, levados a cabo por historiadores profissionais. Pierre Vidal-Naquet, em “Os assassinos da memória”, e Deborah E. Lipstadt, em “Negação”, opuseram-se ao negacionismo do Holocausto e, nesse embate, explicitaram alguns dos pressupostos básicos da operação histórica. No artigo, procuro discutir categorias centrais que orientam o ofício historiográfico, como verdade, prova e autópsia, reivindicadas como ferramentas fundamentais no combate às práticas negacionistas. As iniciativas de Vidal-Naquet e Lipstadt permitem compreender não somente os recursos disponíveis e as possibilidades oferecidas aos historiadores, mas também as limitações institucionais na contínua e premente tarefa de identificar e combater a mentira.
This article reflects on the contacts and dialogues between literature and scientific thought in the works of Austrian writer Hermann Broch in the first half of the 20th century. His first novel, The Sleepwalkers [Die Schlafwandler] (1931-1932), points to certain interpretations, allusions and similarities in connection with thinkers such as Max Weber, Walter Benjamin and Hannah Arendt, which suggest the incorporation of literature to scientific and philosophical knowledge. Conversely, in his last fiction work, The Death of Virgil [Der Tod des Vergil] (1945), Broch seems to question and even to doubt the importance of literature as a way of reflecting on contemporary life. While prioritizing Broch’s early works, this article follows his trajectory as he incorporates philosophical, scientific, and religious considerations to fiction, while reflecting on the times in which he lived.
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