Resumo: O crescimento das lesões de pele autoprovocadas e a elevação das taxas de suicídio em faixas etárias mais jovens indicam um profundo mal-estar no adolescer contemporâneo. A tendência a medicalização de diversos aspectos da vida tem produzido uma abordagem reducionista desses fenômenos, dificultando o estabelecimento de fronteiras entre o adolescer e o adoecer. A pandemia do Covid-19 acentuou o sofrimento psíquico entre os adolescentes. Como alternativa a medicalização das crises subjetivas é necessário dar voz aos jovens para que possam transformar a angústia e o desalento em participação ativa no processo de mudanças da sociedade.
Análise teórico-reflexiva sobre vulnerabilidades e sofrimento psíquico na infância e adolescência, agravados com a pandemia da COVID-19, ancorada nos pressupostos da saúde coletiva e psicanálise. O afastamento da escola e a redução do atendimento presencial nas unidades de saúde aumentaram o tempo de convivência intrafamiliar. Paradoxalmente, observa-se um aumento nas vulnerabilidades de crianças e adolescentes, na violência com mortes prematuras e nos índices de sofrimento psíquico. Através da noção de desamparo, sugere-se uma possível articulação entre a vulnerabilidade social e a vulnerabilidade psíquica de crianças e de adolescentes. As situações envolvendo o desaparecimento dos “três meninos de Belford Roxo” e a morte do menino “Henry Borel” são ilustrativos da ausência da proteção dos direitos fundamentais à vida e à dignidade da criança. São reportados também casos de adolescentes vulneráveis à violência autoinflingida que demandam a continuidade do atendimento ambulatorial para assegurar alguma proteção e um lugar de escuta.
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