A indicação para a correção cirúrgica da maioria das cardiopatias congênitas tornou-se hoje rotineira e quase que sistemática, logo após a caracterização diagnóstica, em face dos indiscutíveis avanços nos vários campos de atuação da cardiologia pediátrica, em especial no cirúrgico [1][2][3] . Dessa maneira, uma das perguntas que intrigam no manejo atual da especialidade, e que deve ser abordada mais apropriadamente, corresponde à que se todos os pacientes com cardiopatias congênitas devam ser reparados, cirurgicamente.Para essa resposta, importa recordarmos, inicialmente, os já bem estabelecidos parâmetros de indicação cirúrgica, em presença de uma cardiopatia congênita 3 . Aliás, dessa análise cuidadosa resulta a justificável indicação operatória ou a rara orientação expectante atual.Assim, a longevidade segundo a história natural, o risco cirúrgico e o tipo de evolução pós-operatória são devidamente analisados para cada caso, a fim de se adotar a conduta mais adequada.Como o risco cirúrgico tem-se tornado até desprezível em muitas cardiopatias, especialmente dentre as acianogênicas, é fácil entender a preponderância da conduta intervencionista atual 1,2 . Posição contrária à operação é estabelecida apenas em situações nas quais a longevidade natural sobrepuje à apresentada pela evolução pós-operatória, quando esta é obscurecida pela morbidade ocasionada por lesões residuais, por complicações e por seqüelas operatórias. Dado o progresso técnico atual, esta atitude conservadora tem-se tornado cada vez mais rara.Cresce daí a indicação, mesmo em períodos precoces da vida, de operações eletivas a fim de prevenir complicações evolutivas, que habitualmente ocorrem na história natural dessas cardiopatias. Por isso, aceita-se hoje a indicação mesmo em cardiopatias de discreta repercussão. Assim, consegue-se a adequada prevenção de intercorrências, que certamente interferem e aumentam a morbidade pós-operatória como, por exemplo, o aparecimento de lesão valvar aórtica em estenoses subaórticas, de distorção da aorta e de hipertensão arterial (HA) em coartação da aorta, de endocardite infecciosa em comunicação interventricular (CIV) e no canal arterial pérvio e de disrritmias cardíacas na comunicação interatrial (CIA).Essa conduta é reforçada por evidências que salientam a maior ocorrência da temida endocardite infecciosa nestas cardiopatias, exceção à CIA, em proporção de até duas vezes superior ao risco cirúrgico atual 1,2 . Acentuando ainda mais a quase que liberal indicação operatória atual, são inúmeros os exemplos de pacientes com coartação da aorta com HA na idade adulta, que quando crianças, presença de gradientes discretos de pressão constituíam-se na razão da objeção à cirurgia precoce.Por outro lado, a contra-indicação cirúrgica é guiada por evidências de que a longevidade natural sobrepuje à apresentada pela evolução pós-operatória ou ainda em situações nas quais os defeitos são discretos a ponto de não interferirem na evolução natural e, ainda, não sofrerem alterações significativas após eventuais correções. ...