I. INTRODUÇÃOÉ indubitável o papel exercido pelas doenças infecciosas de caráter epidêmico no delineamento do quadro demográfico atual e, até mesmo, da organização social de significativa parcela da população indígena brasileira. Dentre estas destaca-se o sarampo, dado os elevados índices de morbi-mortalidade verificados, a sua alta transmissibilidade (não raramente disseminando-se por várias aldeias de uma região em curto período de tempo) e ao quadro desolador que, via de regra, caracteriza o período pós-epidê-mico. A acentuada depopulação observada leva a uma desorganização da estrutura social, assim como a ocorrência de profundas alterações no padrão de assentamento, economia e base de susbsitência.Tal impacto levou muitos antropólogos e profissionais da área da saúde a sugerirem a existência de uma maior suscetibilidade, geneticamente determinada, a infecções viróticas (cf. Molina & Serra 1977, p.ex.). Apesar da existência de várias evidências que apontam nesta direção, tal hipótese não foi ainda confirmada. Outras variáveis devem igualmente ser levadas em conta na busca de uma explicação para a excessiva mortalidade observada durante essas epidemias, destacando-se o estado nutricional da população assim como a organização social e cultural, em especial no que se refere ao sistema de crenças e práticas médicas.
398Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (3): 395-404, jul/set, 1993 micas. A poluição de águas litorâneas é idêntica nos manguezais de Aracaju e na Marina de Iates da Glória. Em todas as situações, a intervenção direta é necessária, ainda que a melhoria das condições financeiras permita uma melhor proteção contra algumas doenças associadas à falta de higiene.Para o povo, registra Delaporte, "what was surprising was that an affliction like cholera, which reminded people of the great medieval epidemics, should have appeared in an age of progress". Chocou a burguesia parisiense, em 1832, o fato de, apesar de todos os recursos da civilização, a mesma encontrar-se sujeita a uma calamidade anacrônica.Os higienistas, por sua vez, viam a eugenia malthusiana em ação, resultante de um longo processo de desintegração social, moral e econômica, agravado nos últimos anos da Restauração.Arquitetos e urbanistas pronunciavam-se em favor de obras de saneamento básico, vendo nelas o caminho do lucro para as empresas de construção.A voga dos tratamentos alternativos, na época, podia ser desculpada frente à ineficácia do arsenal terapêutico disponível. Delaporte cita J. A. Duboc (Recherches sur le Chólera, Paris, 1833), que admitiu que, quando a arte é ineficiente e a teoria impotente, é certamente admissível recorrer-se ao empiricismo, além do que, ainda que os remédios sugeridos não produzam os milagres preconizados, eles acalmam o espírito do povo e reasseguram os desesperançados.A análise profunda dos aspectos políticos relacionados à teoria contagionista e às medidas resultantes, como a quarentena, sugere as explicações que se seguem. O dilema externalista realmente perturba a avaliação dos fatos, mas certos fatores que dele fazem parte devem ser considerados, seu peso muitas vezes superando sua aparente superficialidade ou pragmaticidade. É o que Delaporte define como práti-cas reais. Medidas como a quarentena e os cordões sanitários sugerem e evidenciam, aos olhos do povo, ação e decisão por parte das autoridades -ainda que estas abrigassem dúvidas sobre sua eficácia e correção. Na dúvida de sua validade, era preferível adotá-las do que correr o risco da crítica de indecisão e ineficácia, ainda mais que a teoria da infecção não apresentava argumentos decisivos em seu favor e, como vários autores reconhecem, ambas as teorias tinham, na época, igual peso científico e poucos argumentos para superarem uma à outra. Mais do que exercer a defesa dos dogmas da Medicina ou atuar sob o determinismo de forças da ideologia materialista, as autoridades buscam obter resultados práticos e, na falta deles, conseguir a aprovação e compreensão do povo de que fizeram o possível. O recurso a medidas extremas, ainda que absurdas, na tentativa de "cumprir sua missão", foi reeditado no Brasil, com os episódios recentes da proibição do uso das praias.A obra de Delaporte explora, enfim, um episódio crucial na história da Medicina e da Saúde Pública e exemplifica uma metodologia epistemológica que, bem utilizada, combina os aspectos práticos do intern...
. 527 p.Cada vez mais o conhecimento das condições de saúde da população, seus determinantes e tendências, constitui elemento de fundamental importância para o campo da Saúde Coletiva. Como a própria autora define, a 4 o edição do livro "Epidemiologia & Saúde", elaborado por Maria Zélia Rouquayrol, é resultado da colaboração coletiva de renomados pesquisadores da área de saúde.Esta é uma obra técnico-científica essencial para o estudo da Epidemiologia, tanto para acadêmicos (na graduação e pós-graduação), como àqueles profissionais cujo acesso a um programa de capacitação/formação institucional é limitado. Ela assume, assim, papel relevante para o desenvolvimento de ações de saú-de, especialmente aquelas específicas do campo da Epidemiologia, mas também servindo como instrumento para outras incursões no campo da Saúde Coletiva.Os temas são expostos de forma clara e exaustiva, o que lhe confere alto valor didático. Suas 527 páginas estão distribuídas em vinte e um capítulos, possuindo um grande número de quadros, gráficos e figuras que facilitam a compreensão do texto, inclusive para os iniciantes no assunto. Destes vinte e um capítulos, alguns são acréscimos à edição anterior, incluindo aqueles sobre Epidemiologia e organização dos serviços, concentrados na sua relação com outras áreas da Saúde Coletiva, além de apresentar as principais limitações desta articulação.Esta quarta edição surge com várias modificações e ampliações em relação à anterior. Uma abordagem histórica da Epidemiologia, seguida da apresentação conceitual da mesma e da História Natural da Doença, servem de suporte para ampla discussão acerca da medida da Saúde Coletiva, ressaltando de forma precisa a importância dos principais índices, coeficientes e indicadores utilizados. Com este referencial, discutindo a distribuição das Doenças e dos Agravos à Saúde Coletiva (o que em edição anterior estava apresentado como Epidemiologia Descritiva), Rouquayrol traz, na primeira parte, uma exaustiva apresentação de como responder aos três clássicos quesitos para descrever um problema de saúde: quem, quando e onde. Na segunda parte, são abordados conceitos sobre conglomerados, endemias e epidemias.Os fundamentos metodológicos da Epidemiologia são apresentados de forma abrangente pelos autores, discutindo desde a elaboração do problema epidemiológico, passando por fontes geradoras do mesmo, raciocínio epidemiológico, variáveis e hipóteses epidemiológicas até a arquitetura da investigação. Nesta seção, são apresentados os diferentes tipos de pesquisa epidemiológica, com esquemas que permitem sua visualização e seleção adequada a cada situação a ser investigada. Ainda dentro do método epidemiológico, Schmidt & Duncan apresentam sua aplicação na pesquisa clínica. Importante salientar a forma clara com que os autores abordam como ler criticamente um artigo da literatura médica, práti-ca identificada como análise da evidência epidemiológica. Na seqüência, surge uma excitante apresentação de Naomar de Almeida Filho sobre a Clínica e a Epidemiologia, demonstrando ...
There is no furthest behind infrastructure in Brazil than the lack of sewage disposal, particularly the shortage of services for treating water, and for collecting and treating waste. The scarcity of these essential services to human dignity has been plaguing millions of Brazilians, as indicated by the data of the National Sanitation Information System 2014 (1) . We have 35 million Brazilians without access to services for treating water, where half the population has no sewage collection and only 40% of the waste collected in this country is treated. The shortage of sewage disposal affects all of us.The lack of these services can be realized everywhere, even in the most noble areas of the country, but we may be sure that the greatest impacts happen in low-income families, which live closer to sewers, i.e., in the outskirts, in the so-called "irregular areas". Many noble neighborhoods were built with no concern for the health issues, and people coexist with septic tanks in the yard until the current days. Regarding the irregular areas, in Brazil, there were more than 11 million people dwelling in these areas, the large majority using water from illegal connections and throwing the sewers in the open air, in cesspits or water courses (2) .The framework of disinterest of the state in developing serious sewage disposal policies produces brutal impacts to the health of Brazilians as well as a generalized pollution to the hydric resources. Only in 2013, the Brazilian Ministry of Health announced that there was an amount greater than 400.000 hospitalizations for gastrointestinal diseases, where most children were aged between zero and five years. It has shown outbreaks of diarrhea, worm infections, hepatitis A, and more recently diseases caused by the Aedes aegypti. Experts increasingly associate the explosion of Dengue, Zika and Chikungunya cases with the habit of people, such as the way to store water, with the lack of collection and treatment of sewage, with the scarcity of proper destination of part of household waste and with the poor infrastructure of drainage of rain water.It is worth stating that there are advances, and various cities are striving to solve the problem in question, but it is still very little compared to the challenge. Fortunately, 2016 has been highlighted by more debates, mainly due to the fact that the Ecumenical Fraternity Campaign of the Catholic Church has placed the sewage disposal as theme, thereby bringing the discussions to the farthest corners of the country.In summary, a country with no sewage disposal has no good health indicators, has no clean rivers and beaches, has good schooling levels, nor even productivity, does not expand tourism, does not value its buildings, and has no dignity. Thus, we need to strengthen the fight, since the country requires it!
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