Resumo Atualmente verifica-se uma alteração no perfil de morbimortalidade brasileiro. Diminuem as mortes por doenças infectocontagiosas e aumentam as mortes por doenças crônico-degenerativas, como o câncer. O diagnóstico de câncer representa a possibilidade de morte, que para alguns configura-se como realidade, não sendo raro que pacientes oncológicos estejam sob Cuidados Paliativos (CP). CP são uma abordagem que busca melhorar a qualidade de vida de pacientes e famílias que enfrentam uma doença ameaçadora da vida. Adoecimento e tratamento oncológico trazem intensa mudança no corpo e vida do paciente. Considerando que tais modificações podem ser causa de sofrimento, este estudo investiga efeitos psicológicos das modificações corporais decorrentes do adoecimento oncológico em pacientes sob CP. Trata-se de uma pesquisa exploratória de caráter qualitativo. Foram entrevistados quatro pacientes com diagnóstico de câncer internados numa enfermaria de CP. As entrevistas foram gravadas e transcritas, a análise dos dados baseou-se na análise do discurso. O discurso dos sujeitos evidencia que as mudanças corporais são potenciais geradoras de sofrimento, configurando-se também como disparadores para o tema da finitude. O estigma negativo ligado ao câncer também aparece, sendo que os CP recebidos contribuíram para o resgate da subjetividade dos entrevistados. Assim, este estudo sugere que a vivência do câncer no corpo repercute numa perda para além da física, numa perda de si. Sendo que, a incorporação das modificações corporais possibilita a reconstrução da visão que o paciente tem de si e este processo é facilitado pelo encontro intersubjetivo do paciente com os profissionais que cuidam singularmente dele.
Ser velho não tem valor numa sociedade capitalista e quem dele cuida também ocupa lugar de desvalia. Diante deste contexto de trabalho pouco previsível, cada cuidador, à sua maneira, elabora formas de preservar sua saúde mental e barganhar suas condições de trabalho. O cuidado com o idoso aparenta ser uma escolha conectada com questões subjetivas relacionadas a contextos de cuidados primordiais que se reeditam na nova relação de cuidados, que também é trabalhista. O embaraço encontrado nesta relação de trabalho que mobiliza afetos íntimos pode ser fonte de sofrimento para o idoso, para a família e para o cuidador. Em virtude disso, este estudo aponta como principal desfecho a necessidade de incluir aspectos psicológicos na formação do cuidador, referentes ao trato com as emoções vindas do idoso, mas também quanto às ressonâncias subjetivas deste cuidado na existência do cuidador.
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