Resumo A partir de uma abordagem pelo desencaixe, pela disjunção, pela desarticulação, ou, ainda, pela suspensão, pela interrupção, por um ponto de crise, propõe-se articular princípios em comum que comparecem em teorias sobre o amor, sobre o tempo e sobre o verso. É possível associar a leitura do verso como um “lance”, desde Um Lance de Dados de Mallarmé, à leitura que Jacques Lacan faz do amor em Encore? Poderíamos ler o salto do verso como o anjo da história de Benjamin, que é impelido para frente, mas se volta para trás encarando fixamente a catástrofe? Ir ao verso é ir ao tempo em sua crise, em sua fratura, em sua disjunção, tal como pensaram Agamben, Benjamin, Derrida? Essas são as direções pelas quais este artigo propõe ler, no gesto disjuntivo do verso, erotismo e luto, amor e catástrofe.
Este ensaio propõe uma leitura filosófica do corte do verso a partir de articulações que entrelaçam, sobretudo, a leitura de Giorgio Agamben sobre os institutos poéticos (como o enjambement e a cesura) em Ideia da Prosa, e a leitura de Jacques Derrida sobre o “estilo esporante” de Nietzsche em Esporas. Essa aproximação é feita pelo que essas leituras permitem pensar a quebra do verso como um “lance” ou um ‘passo feminino’ que transtorna a identidade e abala os pressupostos metafísicos. Essa abordagem se vincula, ainda, pelo princípio de desencaixe, de interrupção e de suspensão, presente na compreensão mallarmeana do verso como um “lance” (coup) enquanto um ponto de crise por onde, no entanto, se faz possível golpear (coup) a verdade, jogar, gozar e pensar.
In Tamara Kamenszain’s work, the porosity of genres, the genealogy and the fabric of an affective filiation sewn together by literary and cultural references can be read as a device from which it is possible to theorize the notion of archive, making the roots of categorization tremble. This essay cov-ers these issues in Chicas en tiempos suspendidos, the last book of poems by the Argentine writer. From a reading through the cut (which is both assumed to be the coup du vers that opens layers of meaning while separating and uniting at the same time, as well as the suspension point in which disjoint times meet, and also as a mode of appearance of the real), we seek the many layers that open up in an incision that operates, at the same time, as a rupture that allows to be born again, in another way, in another generation, displacing and reestablishing relationships, alliances, affiliations.
Este ensaio salienta o caráter precário e fugidio de certos temas da poesia de Annita Costa Malufe para se permitir um tateio de que resulta um texto perpassado pela imanência, no qual o imponderável alforria e areja. Em pauta, entram poemas de quatro livros da autora paulistana, esmiuçados por meio de imersões em versos dos quais a analista parece emergir ainda mais dada ao risco. A estimular a aposta no potencial da deriva e, ao mesmo tempo, oferecer algum substrato, encontra-se uma bibliografia marcadamente filosófica, em que se distinguem desde Karl Marx até Gilles Deleuze.
Poema, diálogo, ensaio, enumerações, ou nada disso: talvez Che cos’è la poesia? seja mesmo uma “coisa”, aquilo que escapa à representação. Na rasura da poesia, a escrita do poema, na rasura da ontologia, a escrita da coisa, na rasura do ser, a escrita do animal. Para duas enumerações econômicas, quatro parágrafos. No dobro, muitas dobras, para além dessas duas proposições, desses dois algarismos, dessas duas palavras, “de cor” (par coeur). Em uma economia da memória, uma economia libidinal, uma teoria sobre a poesia, um pensamento filosófico, uma ética, o incalculável. Se a metafísica ocidental tradicionalmente separou cérebro e coração, filosofia e poesia, incorpóreo e corpóreo, Derrida os articula neste ensaio e nos faz pensar que é através de um saber “de cor” que a experiência poemática pode ser pensada como uma travessia em que se lança e é lançado, a um só tempo, a uma exposição ao amor e à catástrofe.
Resumo: A partir da leitura de alguns poemas de poetas brasileiras contemporâneas, neste artigo, proponho uma rasura da noção de “segredo”, com base no texto “A literatura no segredo”, de Jacques Derrida (2013), pensando a “fofoca” (gossip), teorizada por Silvia Federici (2017; 2019a) em Calibã e a bruxa e em A história oculta da fofoca, como uma reescrita da história hegemônica, colonial e patriarcal.
ResumoO objetivo deste artigo é pensar a poesia como meio a partir de deslocamentos dispersivos de um teste de resistores. Mostrando-se mais como ferramenta do que como obra, este teste não se encerra em si, e leva a crer que resistência pode ser menos uma questão de pertencimento e mais um lugar que gesta possibilidades. AbstractThe purpose of this article is to think of poetry as a means from the dispersive displacement of um teste de resistores. Showing up more as a tool than as a work, this teste does not close in itself, and suggests that resistance may be less a matter of belonging and more of a place that gestate possibilities. Depois de Encontro às cegas (2001), 20 poemas para o seu walkman (2007) eEngano Geográfico (2012), Marília Garcia parece dar continuidade a tentativas de escuta em um teste de resistores (2014). A partir de deslocamentos dispersivos, de uma cartografia feita de acasos, de impasses, de iminências de desastres, de perguntas sem respostas, de versos pisando em falso, de vozes entrecortadas, vozes teóricas diluídas em oralidade prosaica, entre o processo e a performance, entre a lógica maquinal e o que fura a engrenagem, com cortes, repetições, montagens, flertes com diferentes formas de arte, links, listas, ferramentas de busca do Google, o livro caminha por uma estrutura inespecífica e por uma escrita em si mesma resistente, rasurada, que vai se fazendo como rascunho, com hipóteses, com a dúvida, de modo ensaístico, levando a crer que a conjunção de elementos que comumente fogem ao literário, que não seriam "próprios" à poesia, talvez seja uma forma de abertura ao outro.Vinte e quatro seções compõem o primeiro e o mais longo poema do livro. "Blind Light" é um metapoema que evoca as vozes nas quais a poeta se sustenta, revelando seus procedimentos à medida que vão sendo utilizados como ferramentas em seu fazer poético. Com isso, de alguma forma, o tom dele determina o tom dos poemas seguintes, havendo nesses outros o retorno de diversos momentos que foram enunciados em "Blind Light". Como imagens deslocadas e inseridas em um novo contexto, eles retornam em uma repetição que não funciona como a reprodução automática do mesmo, mas como uma produção da diferença. "o corte", "corte e repetição", "a insistência", "o verso", "a elipse" são então alguns modos de operar identificados como "furos": "alguns desses furos que poderiam fazer a gente/ ler um poema como poema" (GARCIA, 2014, p.29, grifos da autora). Manipuladas de modo a produzir sempre uma diferença, essas ferramentas não levam a uma demarcação rígida, mas a um limiar de transição entre o próprio, instituído de atributos, e ao impróprio, despossuído de predicados, propriedades, podendo ser qualquer um."Existe uma busca atravessando o poema em vários sentidos" (GARCIA, 2014, p.30). Na mesma seção desse verso, a última estrofe se apresenta da seguinte maneira: "ele diz que é muito importante que/ dentro se encontre o fora/ você entra/ e percebe que saiu do outro/ lado" (GARCIA, 2014, p.30). Na passagem logo acima dessa, temos: "Exis...
Uma das tendências da poesia brasileira contemporânea é a grande presença de poetas mulheres e um dos pontos em comum que une parte dessa produção escrita por mulheres é a condição precária que se determina em vários fatores, como o gênero e a pobreza, por exemplo. Muitas poetas expõem a misoginia, o machismo, o feminicídio, o racismo, a normatividade de gênero e a pobreza em uma abordagem que entrelaça amor e política. Afinando-se com a noção de “precariedade” de Judith Butler, esse artigo pretende mostrar algumas condições de precariedade que fazem dessas poetas uma comunidade pautada no dano, aproximando-se em uma luta lá onde elas aparentemente não se aproximariam. Serão abordadas as poetas Tatiana Nascimento e Tatiana Pequeno.
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