Era uma manhã normal do mês de março de 2020 em uma escola de algum pequeno município do Brasil. Professores em suas salas de aula, cozinheiras preparavam o lanche, a secretária atendia telefonemas e pais, Direção em reunião com equipe pedagógica. Em uma sala de aula do 1º ano do Ensino Fundamental, os alunos estavam todos sentados em suas cadeiras, atentos à fala da professora em frente ao quadro com algumas anotações. Lápis, borracha, estojos, cadernos e livros em cima das mesas. Uma aluna, sentada mais atrás da sala, próxima à janela, tinha seu olhar atraído por outras imagens. Olhava serenamente e fixamente para o outro lado da janela, onde avistava alunos correndo pelo pátio, brincando no parque, jogando bola na quadra, o pomar repleto de mangas, as folhas caindo no jardim.Na outra manhã, enquanto a menina arrumava sua mochila para ir novamente à escola, foi bruscamente interrompida pela notícia que as aulas haviam sido suspensas em todo Brasil devido a epidemia de Covid-19. A partir de então suas manhãs não seriam mais as mesmas, seus sonhos, seu olhar, sua inspiração, mudariam de foco e de lugar.A menina não pode mais sair de casa, teve que aprender e entender em pouco tempo protocolos, normas, práticas, cuidados. Confusa ainda, do porque agora a rua, onde brincava, os amigos que encontrava, eram agora sinônimos de risco; assim como seu próprio corpo e seus fluídos.Seu espaço de aprender agora se restringia à mesa da cozinha, em seu computador emprestado por um familiar, com internet paga por outro. Seus colegas e professores, agora se resumiam a pequenos quadradinhos em uma tela do computador, teve que aprender a digitar, apertar e desligar teclas.Teve que aprender a ouvir diversos sons, imagens que travavam, vozes sobrepostas à fala da professora que tentava prender à atenção da turma, em uma tentativa de presença na ausência. Era preciso prosseguir, os conteúdos se faziam urgentes, em uma suposta normalidade na anormalidade.A porta da sua casa permanecia fechada à entrada de outras pessoas, saíam apenas aquelas que necessitavam trabalhar ou fazer compras. Perdeu-CAPÍTULO 1