De todos os literatos citados por Arendt, interessa-nos investigar suas relações com os escritos de Franz Kafka. Nosso objetivo neste texto é: (i) averiguar o impacto que a obra de Kafka exerce sobre Arendt e (ii) em que medida os problemas da cultura e da formação (Bildung) se põem no centro das reflexões arendtianas sobre Kafka. Para tanto, nos ocuparemos de dois textos de 1944 escritos por Arendt, a saber, O judeu como pária: uma tradição oculta e, sobretudo, Franz Kafka: uma reavaliação. Por ocasião do vigésimo aniversário de sua morte.
Que Arendt seja amante do pensamento grego já se sabe, mas o que impressiona nos seus textos é a quantidade de vezes em que ela se volta para Platão para tentar explicar aspectos do pensamento político ocidental. Em função disso, tratar-se á de Platão a partir de Arendt, visto que não se tem a pretensão de elaborar um escrito sobre Platão per Platão, ou seja, Platão como tal. Platão é o primeiro dessa tradição, mas é, ironicamente, o primeiro que enxerga um abismo entre a filosofia e a política. O fato de Platão ser considerado o primeiro filósofo da tradição do pensamento político ocidental, está relacionado com o fato de que, a partir da morte do seu mestre, Sócrates, Platão ter enxergado um abismo entre a filosofia e política que se arrastou pelo resto da tradição.Em função da polis ateniense ter condenado Sócrates e ele, apesar de sempre ter se colocado como um cidadão, não conseguir elaborar sua defesa e salvar-se da condenação, Platão teria desenvolvido uma espécie de "hostilidade" com relação à política. Em função desse sentimento, Platão teria criado uma relação de hierarquia entre a filosofia e a política de forma que esta última ficou no patamar inferior e sua existência dar-se-ia apenas para garantir o direito do filósofo usufruir de sua bios theoretikos, fazendo com que a política perdesse sua dignidade.
The Issue of Formation in th e Writings of Young Hannah Arendt: an investigation on Bildung. With the exception of the text Crisis in Education, published in the 1950s, Hannah Arendt wrote directly about this subject in the writings of her youth, in the 1930s. However, her research problem had not yet been well delineated, and both texts dealing with the matter highlight the concept of formation (Bildung) instead of directly addressing education and its institutions. Our goal in this article is to investigate how the subject was addressed by Hannah Arendt prior to her immigration to the United States and what elements remain in her later works. In order to do so, we shall deal with two texts: (i) her review of German pedagogue Hans Weil's work, Die Entstehung des deutschen Bildungspri nzip, published in 1930; and (ii) The Enlightenment and the Jewish Question, from 1932. Keywords: Hannah Arendt. Philosophy of Education. Bildung. RESUM O -O Problema da Formação nos Escritos de Juventude de Hannah Arendt: uma investigação sobre a Bildung. Com exceção do texto Crise na Educação, publicado na década de cinquenta, Hannah Arendt escreveu diretamente sobre esta temática em seus escritos de juventude, na década de trinta. No entanto, seu problema de pesquisa ainda não estava bem delineado e o destaque para ambos os textos está relacionado com o conceito de formação (Bildung) e não diretamente a respeito da educação e de suas instituições. Nosso objetivo neste artigo é investigar como o tema foi tratado por Hannah Arendt antes da sua imigração para os Estados Unidos e quais são os elementos que permanecerão em suas obras posteriores. Para tanto, nos ocuparemos com a investigação de dois textos: i) sua resenha a respeito da obra do pedagogo alemão Hans Weil, Die Entstehung des deutschen Bildun gsprinzip (O surgimento do princípio alemão da Bildung), publicado em 1930 e ii) O Iluminismo e a questão judaica, de 1932. Palavras-chave: Hannah Arendt. Filosofia da Educação. Bildung.
Neste artigo, proponho-me a discutir a questão do suposto conservadorismo de Arendt no texto Crise na Educação sob um outro viés: traçarei comparações entre o diagnóstico arendtiano a respeito da educação e as teses de Immanuel Kant sobre a pedagogia. Para este último, a autonomia só é conquistada a partir de um direcionamento e mediação forte por parte do adulto. Mesmo que a finalidade da educação seja a liberdade, ela se dá por meio da autoridade, como em Arendt. Para além disso, um dos princípios kantianos fundamentais no que diz respeito à educação, baseia-se na ideia de responsabilidade com as futuras gerações, o que corresponde em parte à ideia arendtiana de amor ao mundo e a permanência dele. Também trataremos das limitações dessa possível fundamentação que ficam por conta do conflito que Arendt estabelece com Jean-Jacques Rousseau, influenciador direto de Kant em suas ideias sobre educação.
Resumo Arendt e Voegelin debateram acerca do totalitarismo e, durante o ano de 1951, trocaram algumas correspondências. No ano posterior, as cartas foram transformadas em resenha e publicadas na Review of Politics. Arendt responde aos comentários de Voegelin e assim se constitui a pequena conversa entre ambos. Tal debate é pouco conhecido no Brasil e, apesar de ser pequeno, revela as tendências de pensamento de Arendt e Voegelin, pois nele estão contidas ideias que serão desenvolvidas posteriormente no pensamento de ambos, como é o caso do “gnosticismo” para Voegelin e da “pluralidade” para Arendt. No debate, ficam evidentes as diferentes tendências de pensamento para os autores, e tal diferença se manifesta, sobretudo, na querela levantada por Voegelin acerca da “imutabilidade da natureza humana”.
Hannah Arendt e o problema da secularizaçãoArtigos / Articles
RESUMO:Em Da Revolução, Arendt aponta para o vigor da política que renasce por meio das iniciativas revolucionárias. Por outro lado, é preciso atentar para o fato de que várias outras características presentes em Da Revolução apontam para aspectos críticos e negativos da modernidade que estão presentes dentro do âmago das próprias revoluções. O objetivo deste texto consiste em analisar os elementos modernos presentes nas revoluções que são admirados por Arendt, bem como os retornos que ela faz à antiguidade, de modo que seja possível contrapô-los e mostrar que, apesar de a autora louvar os feitos modernos das revoluções, o faz tendo Atenas e Roma como referências, já que a forma de participação dos conselhos provenientes das revoluções lembra, em grande escala, a polis grega, e a liberdade pública exaltada pelas revoluções (neste caso, a americana) corresponde à liberdade dos antigos, da mesma maneira como o ato de fundação da república americana lembra com grande vigor a fundação da "cidade eterna". O objetivo, longe de enquadrar Arendt em alguma das categorias que seus comentadores já fizeram, está em perceber a relevância de não negar a importância que os antigos legaram para as considerações "modernas" de Arendt, assim como voltar os olhares para essa autora como alguém que realmente pensou seu tempo tendo os antigos como alguns parâmetros, mas não considerando isso de forma inteiramente negativa. Em outras palavras, trata-se de tentar assumir esse caráter presente na obra de Arendt, sem que ele seja tomado como um defeito. PalavRaS-chavE:Arendt. Revoluções. Modernos. Gregos e romanos. IntroduçãoEntre os comentadores de Arendt, é quase unânime o consenso de que suas duas primeiras obras de grande fôlego, a saber, Origens do Totalitarismo e A Condição Humana, são em parte uma espécie de continuidade entre si, de forma que a segunda figura para muitos, tanto como uma tentativa de "resposta" para a primeira, como uma forma de "coroamento" para as críticas à modernidade desenvolvidas em Origens do Totalitarismo. Em A Condição Humana, na qual as atividades da vita activa são elucidadas fenomenologicamente, ficam evidentes não apenas as críticas dirigidas ao mundo moderno -sobretudo por meio da vitória do animal laborans e da valorização da mais elementar forma de vida, juntamente com a ascensão de uma sociedade de massas voltada para o consumo desenfreado -mas também alguns regressos ao mundo greco-romano que ora
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