A atuação do Federal Reserve System - Fed - durante a formação e estouro da bolha imobiliária mostra as dificuldades de um banco central em processos financeiros de grande magnitude. O Fed foi leniente com o desenvolvimento da bolha, por considerar que a alta do preço dos imóveis ajudava a reduzir os riscos de instabilidade financeira gerados pelas crises de 2000-2002. Quando a crise do mercado subprime se tornou aguda, em setembro de 2008, o Fed atuou agressivamente como emprestador de última instância, expandindo a base monetária para conter os riscos de inadimplência generalizada no mercado interbancário. Nos dois momentos, o Fed agiu com pragmatismo e discricionariedade, contrariando as teses dominantes do "Novo Consenso", mas foi "prisioneiro" dessas teses e dos interesses do mercado financeiro: a tese de que a desregulamentação dos mercados favorece a sociedade inibiu iniciativas intervencionistas para restringir as inovações financeiras no mercado imobiliário; a tese de que o mandato da Autoridade Monetária deve ser a estabilidade de preços contribuiu para a leniência com os riscos crescentes nos mercados financeiros.
O artigo discute as percepções do Federal Reserve – Fed – nos anos de formação da bolha imobiliária para avaliar se o BC norte-americano subestimou os riscos ou preferiu conviver com eles. No rescaldo das crises de 2001-2002, o Fed considerava o consumo e o mercado imobiliário forças importantes para a recuperação econômica. A partir de 2003-2004, membros do Federal Open Market Comittee – FOMC –passaram a mostrar preocupação com os riscos dos processos em curso no mercado imobiliário e com os efeitos de uma possível reversão da política monetária expansionista sobre os preços dos imóveis, mas daí não resultou a adoção de iniciativas firmes para conter o que se revelaria uma bolha especulativa de grandes proporções. A leniência do Fed pode ser atribuída à crença na resiliência do sistema financeiro diante de crises, à confiança na condução pragmática da política monetária orientada pelo risk management approach e à convicção de que um BC não deve adotar medidas especiais para conter a formação de bolhas especulativas. O artigo analisa as atas das reuniões do FOMC de 2001 a 2007 e alguns pronunciamentos dos presidentes do Fed, naqueles anos, Greenspan e Bernanke, de modo a compreender as percepções do Fed diante dos processos em curso. A análise de atas e pronunciamentos se justifica porque a comunicação com o mercado se tornara instrumento relevante para o Fed na execução da política monetária desde os anos 1990.
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