Em sua tese de doutorado sobre o filme Fausto (1926), do alemão F. W. Murnau, o cineasta francês Éric Rohmer identifica no cinema, ou pelo menos no tipo de cinema mais convencional e narrativo que lhe interessa, três aspectos do espaço que ele denomina: pictórico, arquitetônico e fílmico. Como veremos, se essa divisão pode, por um lado, servir a uma função didática ligada ao aprendizado sobre a composição visual das imagens fílmicas, ela se revela, por outro lado, reducionista e artificial ao ignorar, ou ao menos desprezar, a componente temporal do cinema em favor de sua faceta espacial.
a crítica e as artes dossiê 15 número 1 volume 1 maio 2013 celeuma cristian borges revê a recepção do filme Viagem ao fim do mundo, de Fernando Coni Campos, a partir de comentários de Jean-Claude Bernardet No dia 22 de junho de 2011, o crítico, roteirista e professor aposentado da ECA-USP, Jean-Claude Bernardet, postou em seu blog na internet uma espécie de mea culpa em relação a um filme de 1968, Viagem ao fim do mundo, dirigido por Fernando Coni Campos.[1] No texto, Bernardet narra a forma como recentemente retomou contato com a obra e revela sua estupefação ao dar-se conta de que não havia escrito nada sobre o filme, nem na época de seu lançamento, nem depois: Hoje tenho certeza de que, quando vi o filme pela primeira vez, percebi que não havia nada semelhante no panorama cinematográfico brasileiro, que ele abria perspectivas em direção ao cinema-ensaio, à possibilidade de elaborar ensaios em filmes, que o pensamento no cinema não precisava se ater à ficção, que o pensamento no cinema podia recorrer à ficção entre outros instrumentos. Quando revi o filme neste mês de junho de 2011, fiquei petrificado: como era possível que eu não tivesse escrito sobre esse filme?
Em suas reflexões sobre a fotografia, Roland Barthes define a "pose" como sendo o fundamento da imagem fotográfica, apenas indicando sua distinção em relação ao cinema. Desenvolvendo esse raciocínio e relacionando-o a outros autores e obras, chegamos à passagem como fundamento da imagem cinematográfica: um fluxo de poses desfazendo-se e refazendo-se, não se colocando mais em questão um "isso foi", mas um "isso passou". Porém, ao aprofundarmos essa noção, fatalmente esbarramos em questões ligadas à representação do movimento na pintura e na fotografia. Assim, a fim de compreendermos algumas de suas singularidades, acompanharemos uma breve evolução dessa representação-do movimento simulado (pela pintura) ao restituído (pelo cinema), passando pelo condensado (na fotografia) ou decomposto (na cronofotografia). Movement has been employed by visual arts at least since Classical Antiquity. However, while painting expresses movement through its details, in film movement, itself is detailed, decomposed and recomposed, as a direct result of Marey's and Muybridge's chronophotographies. In his essay on photography, Roland Barthes defines the 'pose' as the foundation of the photographic image. However, while photography produces a sort of time concentration through its spatial immobility, especially since the development of the instantaneous photography, film elaborates a time dilution, thanks to 'passage', the very essence of the cinematographic image. As opposed to painting and photography, film would exceed, from the very beginning, the simple 'imitation of appearances' to attain a sort of 'restitution of presence'.
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