Resumo: O presente artigo, baseado em revisão bibliográfica, busca estabelecer relações entre o discurso científico acerca da hereditariedade, surgido no século XIX, e um mito, que fornecerá à burguesia pós-revolucionária de então uma oportuna arma simbólica, que conciliará a noção de justiça com a admissão do caráter natural da desigualdade social. Moldando-se à perfeição ao mito do Gênesis, a Genética, inscrevendo as diferenças em uma espécie de justiça natural, desempenhará este papel. Desta forma, vê-se como uma teoria científica se apresenta como sublimação dos fantasmas de uma sociedade. Mas se a ciência os veste, a ficção os irá despir. Por esta razão, Émile Zola, cujos romances aprofundam a dimensão mítica dos enunciados da ciência, terá aqui uma de suas obras analisadas. O resultado é que algo vem à luz que, de outro modo, permaneceria oculto, sob a máscara transparente da Ciência. Dito de outra forma, o seu impensado, aquilo que ela não se atreveria a verbalizar: a noção de que a falta pesa. Palavras-chave: hereditariedade; imaginário; coprodução; mito.
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