Tanto na obra de Hölderlin como na de Dostoiévski a viagem ao estrangeiro exerce um papel. A ida ao estrangeiro é uma oportunidade de autoconhecimento pelo contraste. Há diferenças importantes entre as descobertas. O “nós” de Hölderlin é o europeu, enquanto o de Dostoiévski é o russo, entendido como o antiburguês. Hölderlin encontra no sul da França aspectos dos gregos antigos, que ele opõe ao “ocidental” que ele é. Dostoiévski encontra em Paris o tipo acabado do burguês, que ele oporá ao russo. Nos dois casos, a viagem põe o escritor diante da tarefa da sua arte.
Já tínhamos no Brasil um certo número de trabalhos de alta qualidade dedicados a tópicos específicos do pensamento de Arendt, como os livros de Celso Lafer (1999), João Maurício Adeodato (1989 e Nádia Souki (1998). O livro de Celso Lafer parte do pensamento de Arendt para refundamentar os direitos humanos no quadro de uma época pós-metafísica. João Maurício Adeodato parte do pensamento de Arendt para levantar objeções quanto às correntes positivistas, legalistas e realistas da Filosofia do Direito. Nádia Souki centra a sua investigação sobre o que Arendt considerou ser o grande desafio às teorias morais disponíveis: no século XX, os piores crimes perderam o poder de horrorizar. Esse ano, mais três livros, os de Franscico Xarão (2000), Francisco Ortega (2000) e André Duarte, ao mesmo tempo confirmam que Arendt é bastante lida e compreendida no nosso ambiente, e multiplicam os ângulos de abordagem da sua obra entre nós, ao enfocar o seu pensamento propriamente político.André Duarte expõe o "desmonte" que Arendt faz das categorias da filosofia política tradicional na sua tentativa de encontrar uma nova ciência política. O ponto de partida de O pensamento à sombra da ruptura é a convicção de que a nossa época, ou seja, a época que se seguiu a duas guerras mundiais, nos fez deparar com uma realidade nova. Um tempo de ruptura exige um pensamento que, ele também, se diferencie do pensamento político clássico. A obra de Hannah Arendt não se encaixa em um ponto bem definido no espectro das doutrinas conhecidas, uma vez que sua motivação é compreender os eventos até agora incompreensíveis deste século. Mas longe do autor a pretensão de atribuir a Arendt uma originalidade absoluta. Ao contrário, fundamental para ele é a distinção entre "passado" e "tradição" (p. 125). O pensamento que busca as possibilidades positivas do passado vai buscar distanciar-se da tradição de filosofia política, que consiste na confusão entre fabricação e ação, e na busca de um princípio extra-político que justifique o político. O segundo passo de André Duarte é mostrar que o ponto de partida de Arendt lhe permitiu voltar à história e à filosofia ocidentais. A "nova ciência política" parte da convicção de que só no fim de uma tradição os seus elementos principais se tornam mais visíveis, inclusive no que eles têm de mais preocupante, e deste modo prepara a possibilidade de resgatar os experimentos e auspícios que justamente não se tornaram dominantes. A premissa aqui é que nem mesmo Auschwitz foi capaz de liquidar a "origem do político", ou seja, a possibilidade que os seres humanos têm de criar um mundo partilhado, marcado pela iniciativa e pela responsabilidade partilhadas (p. 28). Se não é desejável ou possível restaurar a tradição, é pelo menos possível retirar do passado elementos positivos e auspiciosos. Aquelas possibilidades positivas que ficaram apenas insinuadas na histó-ria podem ser redescobertas e apropriadas por aqueles que se libertaram de certas matrizes de pensamento.O autor retraça a controvérsia em torno à tese arendtiana sobre ...
Ekstasis: revista de fenomenologia e hermenêutica Heidegger e o esquecimento de Platão [genitivo objetivo] Prof. a Dr. a Claudia Drucker [UFSC] 115-128 V.1 N.2 [2013] 117 Ekstasis: revista de fenomenologia e hermenêutica Heidegger e o esquecimento de Platão [genitivo objetivo] Prof. a Dr. a Claudia Drucker [UFSC]
É preciso considerar a questão da fé antes de considerar a questão da religião, porque, no pensamento dostoievskiano, o oposto do ateísmo é a fé. Esta pode estar ausente da religião institucionalizada, quando esta se torna uma casca vazia, e incapaz de responder ao ateu. É benéfico conhecer algumas referências de época. O contexto da discussão com o ateísmo é o debate sobre o niilismo, na sua vertente russa da década de 1860. O “reacionarismo” dostoievskiano é antes de tudo um antiniilismo, que se reflete em teses econômicas, mas é muito mais amplo. Superar o niilismo é afirmar, entre outras coisas, que o homem não é um nada que só ganha conteúdo em sociedade; que ele tem de passar por um processo doloroso de aceitação de suas deficiências para conquistar a consciência moral. O niilismo só encontra na fé o seu oposto, porque exige uma renúncia ao Eu de que o intelecto, por si só, não é capaz. One must ask about faith before asking about religion in Dostoevsky´s thought. Faith can be absent from institutionalized religion, when it turns into an empty shell, thus unable to discuss atheism. It is necessary to identify some local discussions in 1860´s educated Russia. The debate on nihilism, as defined then, helps us identify the main points of Dostoevsky’s contention with atheism. We must understand his so-called conservatism as antinihilism that points to a standpoint on economic policy, but is much wider. Overcoming nihilism implies, among others, that man in not a nothing that is fulfilled by society; that he must undergo a painful process of acceptance of his flaws, in order to achieve moral consciousness. Nihilism finds in faith its opposite, because it requires a resignation which intellect alone is incapable of.
Neste artigo apresento o segundo romance de Paulo Lins como um tipo de romance de tese. Lins relê os nascimentos do samba do Estácio e das escolas de samba em termos altamente autorais. Recriando o momento de encontro dos artistas modernistas de 1922 com os artistas populares, Lins sublinha o caráter inspirador e anticonvencional que tal encontro teve à sua época e que pode ser atualizado. A noção posterior da contribuição decisiva da cultura escrava à vida nacional permeia o romance, mas agora a arte neoafricana é tratada como uma vertente do modernismo, o que obriga o autor a uma tomada de posição nas discussões sobre o que sejam vanguarda, arte moderna e pós-moderna.
Este estudo consiste num comentario do curso que Heidegger deu entre 1936 e 1937 intitulado "A vontade de poder como arte" em que ele compara as filosofias de Platão e Nietzsche sobre arte. Uma tal aproximação não implica negar que, se consideramos o todo das obras, tanto de Nietzsche como de Heidegger, a maioria das referências a Platão visam marcar uma distância perante ele.Meu único objetivo é mostrar que não existe uma fórmula simples para explicar a relação entre os três pensadores
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