O artigo discute a relação entre as chances de acesso das mulheres à representação política, particularmente à representação legislativa, e as formas de sua inserção nos partidos políticos. No primeiro momento, os tipos de representação e o sistema partidário são enfocados como dimensões do sistema político e eleitoral. Em seguida o sistema partidário é mais bem analisado em seus aspectos organizacionais e ideológicos. Com base na análise da literatura que aborda o tema, procura-se refletir sobre alguns condicionantes institucionais desses sistemas que interferem de maneira positiva ou negativa nas chances de as mulheres disputarem e se elegerem pelos partidos. No segundo momento, as experiências recentes de adoção de cotas por sexo para candidaturas proporcionais são inseridas na análise. A partir de pesquisa sobre o caso brasileiro, procura-se observar como as características do sistema partidário e os condicionantes discutidos podem afetar os resultados das cotas. As conclusões destacam que o acesso das mulheres à representação política é condicionado por um conjunto de fatores que ultrapassam a engenharia do sistema político, mas que tal engenharia tem um peso e pode favorecer mais ou menos o ingresso feminino na política. Como a pesquisa sugere, essa influência pode operar, também, sobre a possibilidade de que as cotas sejam assumidas de maneira mais burocrática ou mais efetiva pelos partidos brasileiros.
M ais uma vez, os últimos resultados eleitorais no Brasil apontam para a fragilidade das cotas (estabelecidas pela Lei 9.504/97) como caminho de ampliação da participação política das mulheres. E isto nos instiga, ainda mais, a tentar entender sob quais condições polí-ticas e sociais as mulheres tendem a obter melhores ou piores performances eleitorais. De igual modo, suscita inúmeras perguntas acerca dos fatores e variáveis que operam para que as cotas permaneçam em um patamar considerado insatisfatório. Há, sem dúvida, alguns aspectos já identificados pela literatura local que contribuem para esse quadro 1 . Destacamos, particularmente, a fragilidade da legislação, com a ausência de restrições e/ou punições aos partidos que não cumprem as cotas, tornando-as iníquas no que diz respeito aos percentuais, bem como à ampliação do universo de candidaturas (que se ampliou de 100% para 150% das vagas).Nosso propósito, entretanto, é tentar ir além das constatações dos limites normativos e articular as possibilidades de sucesso das cotas às características e fatores do sistema eleitoral. Tal perspectiva é impulsio- 535*Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -CNPq o apoio para o desenvolvimento da pesquisa e às bolsistas Camila Pitanga e Karolyne Romero pela ajuda na coleta de dados.
Resumo Resumo ResumoResumo Resumo: A partir de um balanço sobre as eleições de 1996, 1998 e 2000, o O tema do acesso ao poder ocupou significativo espaço na agenda das pesquisas e dos movimentos feministas nesta última década. As estatísticas sobre participação por sexo nos parlamentos continuam a indicar uma sub-representação das mulheres nas instâncias de decisão política, tornando-se emblema do déficit gerado pela exclusão histórica de que elas foram alvo, ao mostrarem que o quadro atual ainda está longe de um patamar mais equitativo. Isto fica claro quando vemos os dados da IPU (Inter-Parliamentary Union) de abril de 2000 sobre parlamentos, os quais indicam que a participação feminina correspondia a 13,4%1 Este trabalho é baseado em pesquisa realizada para a tese de doutorado da autora. Agradeço ao CNPq a concessão de uma bolsa de doutorado, e à Capes, que viabilizou bolsa sanduíche de 8 meses para pesquisa na Inglaterra. Após a apresentação no seminário promovido pelo CFEMEA foram acrescentados alguns dados relativos às eleições de 2000.
Resumo:Resumo: Resumo: Resumo: Resumo: Este trabalho apresenta alguns resultados da pesquisa Dez anos de cotas no Brasilavaliando a eficácia do caminho curto para o acesso das mulheres ao legislativo. Um dos itens da pesquisa consistiu na análise da relação entre as trajetórias individuais de deputadas e deputados, isto é, a forma e as razões de ingresso na política, o papel dos partidos políticos como mediadores dessas trajetórias, como esses aspectos se transformam em capitais políticos eleitorais, e como essas trajetórias se relacionam com as chances oferecidas pela inclusão das cotas. A Argentina é tomada como um contraponto positivo ao caso brasileiro, dado o fato de sua experiência ser considerada paradigmática. Entre os resultados apresentados, destacam-se as diferenças entre os tipos de trajetórias e de capital político que são estratégicos, em se tratando das mulheres de cada um dos países. E as novas formas de capital eleitoral que surgem conferem outros sentidos de ingresso na política. Isso parece decorrer, entre outros aspectos, de um segundo momento de institucionalização democrática nesses países. Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: cotas na política; gênero e eleições; mulheres e representação política.
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ApresentaçãoEste artigo tem por objetivo apresentar alguns resultados da pesquisa "Gênero, Trabalho e Família no Brasil", baseada num survey realizado no final de 2003, com uma amostra representativa da população brasileira. 1 O survey fez parte de uma pesquisa internacional que o ISSP -International Social Science Program -conduziu com o intuito de identificar as transformações que vêm sendo operadas nas relações de gênero, tendo por base as dinâmicas de conciliação entre a vida familiar e o trabalho pago. A pesquisa procurou investigar as percepções que mulheres e homens têm acerca dessa conciliação e envolveu aspectos relacionados com o exercício da maternidade e da paternidade; a conjugalidade, a divisão do trabalho doméstico e a satisfação com a vida familiar e com o trabalho. Um conjunto de questões dirigidas especificamente aos inquiridos que viviam conjugalmente buscou captar as percepções desses indivíduos sobre a divisão do trabalho doméstico, por meio de perguntas sobre tarefas domésticas e atividades com os filhos.Em trabalhos anteriores (Araújo e Scalon, 2004 e 2005) foram apresentados os resultados mais gerais dessa pesquisa. Neste artigo, selecionamos as questões que consideramos mais diretamente associadas à problemática da conciliação entre família e trabalho pago para tentar responder às seguintes perguntas: A presença das mulheres no mercado de trabalho vem alterando as práticas tradicionais de divisão sexual do trabalho na família, de modo que se possa falar de relações de gênero mais igualitárias no Brasil? Há correspondência entre as percepções e os valores expressos pelos inquiridos, sobre o trabalho das mulheres, atribuições de homens e mulheres na
DOSSIÊSO artigo apresenta os resultados principais de um survey com candidatos ao cargo de Deputado Federal, conduzido no âmbito da investigação realizada pelo Consórcio Bertha Lutz durante as eleições de 2010. Com base em um questionário constando perguntas relativas a diferentes dimensões individuais e institucionais em relação aos partidos, analisa-se dimensões como trajetórias políticas e eleitorais, estratégias, recursos e dificuldades de campanhas. Em seguida, por meio de determinados procedimentos metodológicos de aglomeração de variáveis, procura-se analisar perfis de eleitos e não eleitos. O objetivo é identificar como o gênero perpassa e apresenta-se em possíveis variáveis intervenientes nesses perfis. Como os resultados mostram, há varias dimensões nas quais a categoria gênero faz-se presente, de maneira direta ou indireta, em geral, antes do momento eleitoral em si. O processo eleitoral seria, assim, o resultado de um filtro que antecede mesmo o recrutamento. Conclui-se que os perfis de eleitos, homens ou mulheres, são semelhantes, mas, considerando que os homens são amplamente majoritários entre os eleitos, podese dizer que tais perfis são fruto de uma estrutura ainda marcada por desigualdades e por valores diferenciados por gênero.PALAVRAS-CHAVE: gênero; mulheres e eleições; processo eleitoral e gênero; poder e gênero; eleições. I. INTRODUÇÃO 1O artigo apresenta parte dos resultados da pesquisa conduzida pelo Consórcio Bertha Lutz durante 2010 (ARAÚJO, 2010) para acompanhar e analisar o processo eleitoral como um todo. Entre outros aspectos, o Consórcio procurou "identificar de forma mais ampla os fatores que contribuem para a baixa representação de mulheres em cargos eletivos no Brasil". Nesse caso, o foco são as eleições para o cargo de Deputado Federal no ano de 2010, sob o ângulo das candidaturas dos candidatos 2 . No contexto brasileiro da Representação Política, o acesso à Câmara Federal constitui o principal e mais emblemático déficit de participação feminina ). Essa problemática adquire maior relevância se considerarmos que a representação no poder Legislativo tem servido como um importante parâmetro eleitoral para aferir o grau de amadurecimento político dos países, quanto à igualdade entre os sexos. Desse modo, conquanto o caso brasileiro guarde suas peculiaridades, ele também se insere em processos mais gerais que envolvem as democracias representativas contemporâneas, com seus dois atores centrais envolvidos nas competições legislativas, candidatos e partidos, além da natureza da representação em debate: descritiva e/ ou substantiva. Conquanto muitos dos tópicos discutidos abaixo também contenham elementos de debate sobre a natureza e a percepção de representação, a partir dos candidatos, o foco do artigo é o primeiro tópico. Assim, observamos itens associados ao "recrutamento político" e às "estratégias eleitorais" que envolvem trajetórias, recursos e obstáculos, com base na unidade de análise "candidatos". Para tanto, apoiamo-nos na perspectiva que foi sintetizada de modo bastante abra...
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