Este artigo busca, enquanto trabalho de reflexão, investigar processos associados à modulação da percepção dos sujeitos nas sociedades contemporâneas por meio do exame histórico da constituição e uso de testes de atenção concentrada, principalmente dos testes de Toulouse-Piéron. Para isso, recorrese aos conceitos de governamentalidade de Michel Foucault e Nikolas Rose, e de móbiles-mutáveis de Bruno Latour. Considera-se as alterações dos regimes de atenção a partir das narrativas de: Kurt Danziger acerca da constituição do conceito de inteligência; Jonathan Crary acerca da crise da capacidade
e síntese perceptiva do indivíduo moderno;
e Lev Manovich acerca da constituição do
corpo enquanto domínio informacional nas
sociedades contemporâneas. Aplicando esse conjunto teórico ao campo da testagem psicológica, começamos por esclarecer a emergência dos testes de atenção na França, focando anoção de “biocracia”, de Toulouse. Em seguida, examinamos teses, dissertações e artigos
contemporâneos acerca do teste, verificando
deslocamentos em seu uso, envolvendo faixa
etária, correlatos neurocientíficos e motivação do seu uso. Concluímos que esses deslocamentos apontam para a emergência de modos
de modular a atenção segundo as demandas
de eficácia e iniciativa proeminentes nas sociedades contemporâneas.
O artigo, que se define como trabalho de reflexão, busca discutir o vínculo entre história da subjetividade e história da objetividade, principalmente no que diz respeito aos primeiros laboratórios de psicologia. Entendendo que explorar tal vínculo requer abordagens simétricas na produção do conhecimento, que não supõem corte entre projetos científicos bem sucedidos e malogrados, nos valeremos de referências provenientes dos estudos Ciência-Tecnologia-Sociedade, da epistemologia política (Despret e Stengers), da genealogia da ética (Foucault) e da história da objetividade (Daston e Galison). Partindo de tais referências, abordaremos três grandes tópicos: a) as práticas operadas nos primeiros laboratórios de psicologia; b) a objetividade propiciada por tais práticas; c) as transformações subjetivas pelas quais os psicólogos experimentais deveriam passar visando obter resultados científicos. Na conclusão, avaliamos se é possível dizer que, no treinamento introspectivo, as técnicas de si operam como uma marca distintiva da constituição de um self científico e como um conceito chave para um estudo histórico destes laboratórios psicológicos.
Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.12, n.2, maio/ago. 2009. César Pessoa Pimentel agradece ao CNPq pelo apoio à pesquisa de pós-doutorado "Visualizando o eu: nexos entre neurociências, biotecnologias e meios de comunicação". Paulo Vaz agradece ao CNPq pelo apoio ao projeto "Mídia, risco e sofrimento".
O artigo é uma investigação teórica sobre a habilidade, tema no qual se entrecruzam prática e teoria, cognição e ação, corpo e pensamento. A perspectiva é definida pela leitura da obra do antropólogo Tim Ingold e toma o andar como exemplo fundamental de habilidade. Vincula habilidade e atenção ganhando distância das teses que definem a atividade como execução de planos mentais. No lugar da representação e do planejamento, concede maior relevância à responsividade aos fluxos materiais, realçando o caráter continuadamente aberto da prática habilidosa. Propõe que o acoplamento entre os pólos passivo e ativo da experiência é uma qualidade própria aos gestos habilidosos. Conclui que a dimensão atencional do andar supera a destreza motora e se funda na sintonia fina entre movimentos corporais e tarefas emergentes.
A noção de informação juntamente com seu tratamento e armazenamento em banco de dados definem pontos de convergência entre as técnicas de controle da conduta e as intervenções biotecnológicas sobre o corpo. Ambas atuam sobre elementos impessoais recombináveis segundo técnicas digitais, ao invés de indivíduos e corpos definidos por uma interioridade que não pode ser totalmente observada. Trata-se, pelo contrário, de prever o que ainda não existe na atualidade, de ir além dos hábitos e condutas do indivíduo no presente para inferi-los em cenários futuros. O presente artigo aborda essas convergências, analisando o papel da gestão da informação e da administração de riscos na produção de identidades somáticas, tendo como pano de fundo a questão da visibilidade dos indivíduos e dos corpos.
As neurociências e as imagens cerebrais têm crescente prestígio social. O propósito do presente artigo é enviar as tecnologias contemporâneas de visualização do cérebro a uma dimensão política, investigando com base nos conceitos foucaultianos os regimes de visibilidade aos quais o corpo é submetido. A análise se faz por comparação histórica. Inicialmente, abordamos a experiência da doença calcada na medicina clínica para, em seguida, chegar à aliança entre meios de comunicação e neurociências que caracteriza uma das faces do cuidado com o corpo nas sociedades atuais. Argumenta-se que o processo cada vez mais intenso de visualização do corpo não pode ser reduzido ao refinamento dos aparatos tecnológicos, ocorrendo significativas transformações na experiência do adoecimento, experiência esta acompanhada pela fluidificação dos limites entre normalidade e anormalidade.
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