Neste artigo, temos como objetivo analisar o que denominamos de “ofensa da nomeação”, remetendo ao conjunto de mecanismos utilizados pela cisgeneridade para negar sua localização social cisgênera. Ao contrário das terminologias voltadas à transgeneridade, que surgiram ao final do século XIX e ganharam força na década de 1960, o conceito de cisgeneridade surgiu somente nas últimas décadas do século passado, e tem ganhado força recentemente. Se a transgeneridade foi nomeada por pessoas cisgêneras em uma ótica de patologização e com aportes institucionais acadêmicos, a cisgeneridade foi nomeada por pessoas trans por uma lente crítica e de oposição às normas de gênero da modernidade/colonialidade; é um conceito criado no seio de movimentos sociais, fora da academia. Percebe-se uma diferença concreta entre os discursos de pessoas trans e os de pessoas cis sobre seus pertencimentos sociais, remetendo-nos à recusa, por parte de pessoas cis, em reconhecerem sua cisgeneridade. Desse modo, procuramos investigar os obstáculos que perpassam a aplicação e o reconhecimento do conceito de cisgeneridade por pessoas cisgêneras, especialmente no meio acadêmico, que é o território de nossa pesquisa.
Este artigo almeja analisar como a concepção moderna sobre as práticas de modificação e inscrição corporais se relacionam com as colonialidades do ser, do saber e do poder. Argumentamos que a patologização e a criminalização de inscrições corporais é um componente fundamental da noção moderna de um corpo ideal, como também das normatizações que permeiam as colonialidades atualmente. O argumento central do artigo é que a patologização, a criminalização e o controle institucional das práticas de modificações e inscrições corporais são produto da violência moderna/colonial, e devem, portanto, ser combatidas. Para tanto, nos valemos de um referencial teórico decolonial – com Grosfoguel, Maldonado-Torres, Mignolo, entre outros – e de autores que investigam a história e a diversidade de inscrições/modificações corporais – com Le Breton, Angel, Favazza, entre outros.
O objetivo deste artigo é conectar os conceitos de colonialidade do poder, do saber, do ser e cisgênera à noção de colonialidade global, para compreendermos como a internacionalização das colonialidades infere sobre as vidas de corpos nãonormativos. Utilizamos como ferramenta de análise a patologização da transexualidade enquanto evidência da internacionalização das colonialidades, e como uma crítica à perspectiva marxista que enviesa seu olhar para os impactos do capitalismo sobre a ordem social, desconsiderando a relevância do colonialismo - e de suas consequências racistas e patriarcais - na constituição de uma nova organização mundial de poder e violência.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.