Considerada um gênero menor por boa parte dos historiadores do século XX, a biografia tem sido recuperada nos últimos anos em termos mais complexos do que apenas registrar os momentos relevantes da vida de um destacado indivíduo. Percebe-se que há uma crescente produção nesta linha ao se realizar um estudo sobre o tema.Lucien Febvre proferiu uma conferência intitulada "Erasmo e sua época" em agosto de 1949 no Rio de Janeiro, na Academia Brasileira de Letras.1 Nela o autor apresentou vários perfis, destacando inclusive características físicas de personagens históricos conhecidos. Apontou que Carlos de Habsburgo tinha a mandíbula prognata; que Henrique VIII era gordo, sanguíneo e violento; que Francisco Valois era narigudo. Quando se concentrou em Erasmo, o homem que o historiador francês desenhou com palavras era pequeno, frágil, delgado, sempre se queixando de sua saúde.2 Mas o fundador dos Annales não se restringiu a essas pinceladas rápidas. Em outros artigos publicados no mesmo volume onde se encontra este que se refere à visita do grande historiador ao Brasil, percebe-se que ele procurou olhar para o humanista do século XVI por quadros esboçados por outros autores. Apresenta Erasmo a partir de alguns de seus biógrafos: Augustin Renaudet, Johan Huinzinga e Marcel Bataillon. Analisando essas biografias, Lucien Febvre tenta mostrar vários ângulos da figura histórica estudada, 3 numa curiosa e estimulante abordagem, que mistura a trajetória de vida dessa personagem, assim como a construção das biografias a partir das preocupações que povoavam as mentes dos biógrafos citados.Segundo Jacques Le Goff, na introdução da sua biografia sobre São Luís, houve "um eclipse da biografia histórica no coração do século XX". 4 Certamente porque ela era considerada como "o modelo de histó-ria tradicional, mais sensível à cronologia e aos grandes homens que às estruturas e às massas", 5 típica crí-tica dos Annales, o que torna mais curioso o esforço feito por Febvre ao apresentar a biografia de Erasmo, demonstrando que mesmo em momentos nos quais a biografia havia sido relegada a um segundo plano, ainda assim, os historiadores podiam procurar esse estilo como uma forma de análise do passado.No entanto, já não se pode dizer que o estudo biográfico é algo que está em desuso, muito pelo contrário. Desde a década de 80 percebe-se a crescente importância da biografia para a produção historiográfica atual. E à medida que os estudos biográficos aumentaram em número, esse tipo de produção tem suscitado um debate muito salutar entre historiadores e cientistas sociais de disciplinas afins.Há um consenso em se perceber que a procura pelo estudo biográfico acompanha uma crise geral de paradigmas nas ciências em geral, particularmente nas sociais.6 Os historiadores estariam cansados de não ver formas humanas nas estruturas definidas a partir de análises generalizantes e estariam buscando o estudo de indivíduos para dar consistência a essas estruturas. 7Também existe uma concordância em se perceber que há problemas vinculados a esse tipo de a...
Neste artigo, recuperando discussão desenvolvida na dissertação de mestrado, exploram-se as contradições existentes entre o uso exemplar do castigo do jesuíta Gabriel Malagrida no contexto de afirmação da “Idade da Razão” na época pombalina. A partir da trajetória da vida missionária no norte e nordeste do Brasil e na corte portuguesa do inaciano italiano, baseado, fundamentalmente, em trabalhos biográficos de Paul Mury e Serafim Leite, que possuem fortes tons hagiográficos, será feita a análise de um jesuíta muito fiel aos ditames tridentinos num mundo em que o império da razão se avizinhava. O contexto do terremoto de Lisboa e da perseguição à Companhia de Jesus por parte de Pombal serão o necessário pano de fundo das reflexões apresentadas.Palavras-chave: jesuítas; Malagrida; Ilustração.
EnsaiosExceto onde especificado diferentemente, a matéria publicada neste periódico é licenciada sob forma de uma licença Creative Commons -Atribuição 4. Abstract: This paper analyses aspects of the complex relationship between the Jesuits, the Inquisition Court and the New Christians. The collaboration of Jesuits with the Holy Office institutions did not prevent that within the Society of Jesus there were strong critical and discordant voices being raised against this Court's practices, which were observed with caution by the first Jesuit leaders. For their part, the New Christians enjoyed a great reception within the Order of St. Ignatius from the beginning, with some Jewish descendants standing out in high positions in the Society of Jesus, such as the second Superior General. Throughout the difficult history of intolerance and inquisitorial persecution against the New Christians, the Jesuits were prominent advocates of their cause. These problematic relationships make this triangular relationship an essential historiographical subject in order to understand the plots and dramas of the Old Regime society.Keywords: Judaism; Inquisition; New Christians; Jesuits; Portugal; Old Regime. Considerações preliminares
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