FicçãoRecebido em 11/09/17Aceito em 20/09/17 ~434~ Catpower: a dominação da terra 1 Cecília Palmeiro 2 Em cada aventura a Madrinha-bicha se jogava inteira. Uma volta, durante o carnaval, em uma saída com sua amiga Feli, arrumou um bofe pelo qual poderia ter perdido a vida. Foram à uma festa de forró de travestis. Aí a tirou para dançar um negro de dois metros e noventa quilos de músculos (os bofes das travestis são sempre os mais gostosos, sentenciou a Madrinha). Com ele aprendeu a dançar forró, um gênero mestiço, fronteiriço, entre a cumbia e a lambada, muito sexy. Piruetas vão, piruetas vem, a Madrinha não podia acreditar na maravilha do sujeito. Feli, de longe, lhe fazia sinais: era, por muito, o melhor homem da festa. Uma escultura de ferro forrado com seda de chocolate. A roupa era rara: camisa tipo havaiana com correntes e relógio de ouro... Meio traficante, pensou a Madrinha.Foram sentar; ficou estupefata diante da grossura dos músculos e do tamanho do volume.Inclusive lhe pareceu exagerado: um caso para seu amigo Silvestre, quem vivia à procura da maior piroca do mundo. Feli tirava fotos se fingindo de tola, para que tivéssemos provas. O bofe era jovem e belo, ainda que tivesse nele algo inquietante. Tinha um pacto com Feli de sempre voltar para casa juntas, assim logo que a outra começou a fechar a cara, a Madrinha anunciou a partida. Chovia a rodo, como somente no Rio pode chover. (Depois de todos estes anos nesse planeta, sigo achando uma loucura que caia agua do céu). O cara, um cavalheiro, ofereceu levá-las para casa em seu carro. Tinha carro! Wow!, pensou a Madrinha.Subiram, e ele, muito educadamente, mencionou que tinha que trabalhar no dia seguinte e à noite tinha faculdade. Estuda e trabalha e tem carro!, se regozijava a outra. Ele estudava Direito na mesma universidade onde a Madrinha faria seu estágio de pesquisa, a UERJ.