Neste artigo fazemos, primeiramente, uma reflexão sobre o embate entre a variação e a padronização na língua e, apresentamos, em seguida, a questão da variação linguística em obras literárias, mostrando os objetivos e os desafios da representação literária da oralidade. A discussão sobre esses dois temas serve de apoio para uma reflexão sobre a tradução da variação linguística na literatura, percorrendo questões como: a centralidade da multiplicidade de vozes na prosa literária, os fatores que influenciam a padronização ou a representação desse recurso e alguns possíveis caminhos para pensar a representação da variação linguítica na tradução.
Neste artigo, apresento os comentários sobre a minha tradução do conto “Barbara of the House of Grebe” (1891) de Thomas Hardy, referentes a um aspecto específico deste processo tradutório: a tradução das cadeias de significantes, ou redes lexicais, relacionadas ao tema gótico que perpassa a narrativa. No conto, Hardy se vale de uma série quase exaustiva de termos inter-relacionados a temas como “medo”, “agitação nervosa”, “infantilidade” e “desfiguração física”, que inserem a narrativa na tradição gótica inglesa. O autor, entretanto, abusa dos elementos góticos para fazer uma crítica aos costumes sociais da época, transformando alguns preceitos do conto moderno, como a unidade de efeito, e do gênero gótico, como o objetivo puramente sensacionalista das narrativas. A consciência dessas estruturas estilísticas influencia o processo tradutório no que diz respeito a estratégias tradutórias que contemplem, ao mesmo tempo, unidades de sentido no plano micro e macrotextual, já que os itens lexicais, as menores unidades de sentido aqui consideradas, estão dispostos numa cadeia que informa o objetivo retórico geral do texto.
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