Neste estudo, analisamos acusticamente as fricativas [f], [v], [s], [z], [S] e [Z] do Português Brasileiro produzidas por uma pessoa com síndrome de Down (SD). O objetivo foi verificar como as características do trato vocal desse sujeito, como hipotonia dos lábios, língua e bochechas, poderiam interferir nas características acústicas dos segmentos fricativos por ele produzidos. Nossa hipótese é de que as alterações do trato vocal podem impactar sobremaneira na produção da fala e consequentemente dos segmentos fricativos, interferindo assim nos achados acústicos destes segmentos. Para esta pesquisa, analisamos a produção das fricativas de um sujeito com síndrome de Down, denominado SM, natural de Brumado (Bahia), de 15 anos, do sexo masculino. SM é analfabeto e nunca foi submetido a terapia fonoaudiológica. Para a coleta de dados, foram selecionadas figuras que representassem palavras reais, contendo as fricativas a serem analisadas. As palavras do corpus continham as fricativas labiodentais, alveolares e palatoalveolares (surdas e sonoras), em posição de onset silábico, inicial e medial, em diversos contextos vocálicos. A posição de coda silábica também foi analisada, mas esta foi ocupada apenas pela fricativa alveolar surda. Foram analisados os órgãos fonoarticulatórios primeiramente. Para a análise acústica foram mensuradas a duração relativa e os 04 (quatro) momentos espectrais dos segmentos fricativos, por meio do PRAAT (BOERSMA; WEENINCK, 2006). Os resultados nos permitem confirmar a hipótese desta pesquisa de que as alterações nos órgãos fonoarticulatórios apresentadas pelo sujeito avaliado interferem nos achados acústicos das fricativas por ele produzidas. Os resultados demonstram dificuldade na produção das fricativas, especialmente quando em posição medial, dificuldade na produção dos segmentos fricativos sonoros e produção anteriorizada das fricativas palatoalveolares. Além dos aspectos motores, os resultados demonstraram que SM apresenta uma dificuldade no planejamento e programação motora oral, inconsistência nos movimentos articulatórios e imprecisão na articulação dos sons, o que aponta para um possível quadro de apraxia de fala.
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