O tema proposto para debate, neste encontro em que a revista Lua Nova comemora vinte anos de existência, parece ser bastante instigante: que reflexões nos vêm à mente quando nos perguntamos o que aconteceu com a democracia no Brasil ao longo dessas últimas duas décadas? Concluiu-se a famosa transição do autoritarismo à democracia? O novo regime implantou-se? E, daí em diante, que aconteceu? A democracia fortaleceu-se, expandiu-se, radicalizou-se?Não cabe, nesta ocasião festiva, entediar os presentes com uma digressão acadêmica. Mais apropriado -e mais estimulante, talvez -será apresentar um simples depoimento em que me atrevo a relatar reflexões que me têm sido suscitadas pelo período pós-ditatorial que estamos a viver.Quem se põe a refletir não está a salvo de surpresas desagradáveis e, especialmente, do risco a que aludiu, em certa oportunidade, o ilustre membro desta Casa, professor Tullo Vigevani, ao lembrar que, por vezes, "à medida que avança a nossa reflexão, avança também a nossa perplexidade". E, de fato, é isso que no meu caso acontece. Quanto mais penso na realidade política brasileira à luz do ideal da cidadania democrática, tanto mais rasa é a imagem que se forma da cidadania realmente existente e mais avança minha perplexidade, não só face ao que constato, mas acima de tudo face ao que se diz e ao que se prega a respeito de democracia, cidadania e temas conexos.Descontado o exagero, posso dizer que assisti ao fim da ditadura militar e ao início do regime atual como o povo brasileiro assistiu à proclamação da República, segundo a famosa descrição de Aristides Lobo: bestificado, atônito, surpreso, sem saber do que efetivamente se tratava. Para explicar o receio que me assaltava -e que manifestei por escrito naquela época -, parafraseio a pergunta de Sartre sobre o processo de
A hegemonia liberal manifesta-se de diversas maneiras. Uma delas consiste no fato de que, hoje em dia, tentar ser antiliberal tornou-se tarefa difícil e até mesmo perigosa, capaz de pôr em risco sóli-das reputações. Quem não é ou não quer ser liberal, quem tenta combater o liberalismo em nome de alguma concepção alternativa, enfrenta um terreno minado, repleto de armadilhas que induzem ao erro ou expõem os incautos a críticas imerecidas.Suponhamos que você seja um democrata que queira defender a democracia. Se esse for o caso, você tem dois problemas a resolver: um, separar-se do liberalismo, definindo-o como algo que você repudia; dois, conceber a democracia como um ideal distinto, adversamente contraposto ao liberalismo.Esses dois problemas, no entanto, simplesmente desaparecem se você, juntamente com a maioria das pessoas, pensa que liberalismo e democracia são a mesma coisa ou coisas que se misturam e se confundem, como na expressão "regime liberal-democrático". Neste caso, não há nada a fazer. O democrata que pensa assim, permita-me dizê-lo, já se acha hegemonizado pelo liberalismo, não o vê como um estranho, como um adversário a ser combatido; ao contrário, admite-o
A tese de que os governos modernos tendem, cada vez mais, a se transformar em governos de tipo tecnocrático vem sendo proposta com crescente insistência na literatura política contemporânea. Há, naturalmente, os que combatem e os que defendem a tecnocracia. Mas isso muito raramente quer dizer que existam discordâncias quanto ao advento, o poder expansivo e a própria inevitabilidade do fenômeno. Ao contrário, as divergências tendem a se concentrar na discussão sõbre os custos e benefícios acarretados pelo processo de tecnocratização. De que tal processo se encontra em marcha parece não haver maiores düvídas,s o principal objetivo dêste artigo é o de reabrir questões que desfazem êsse aparente ponto pacífico. A nosso ver, ainda não se tomou de todo descabido formular perguntas do seguinte teor: até que ponto não estaremos tomando a simples propagação das ideologias tecnocráticas pelo avanço da tecnocracia• Professor-contratado do
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