ResumoEste artigo expõe uma revisão sucinta dos debates encetados nas últimas décadas acerca da noção de interseccionalidade entre as diversas abordagens do pensamento feminista, dos estudos de mulheres e das teorias de gênero contemporâneas. Partindo das contribuições dos "black feminisms", apresenta algumas visões sobre o contexto de formação do debate interseccional nos Estados Unidos e no Reino Unido e a seguir estabelece as principais vertentes de trabalho atualmente. Embasado em um levantamento bibliográfico de dezenas de artigos, ensaios e livros publicados nos últimos anos nos EUA e na Europa, este texto procura contribuir com uma "sumarização" de algumas das principais contribuições que a análise interseccional tem oferecido ao pensamento feminista e à teoria social como um todo, assim como propor a noção de "agência interseccional". Por fim, são apresentadas algumas considerações críticas a determinadas características que atravessam o campo e que geram questionamentos ainda em aberto.
Palavras-Chave:Interseccionalidade. Marcadores sociais da diferença. Desigualdades. Agência interseccional.
Resumo Este artigo se volta a analisar alguns elementos recorrentes que se fizeram presentes nos relatos de campo ao longo de minha etnografia para o doutorado em Antropologia Social na Unicamp. Meus contatos de campo foram homens entre os 45 e os 70 anos de idade que mantinham práticas sexuais homoeróticas e/ou que se identificavam como homossexuais. Os relatos reincidentes enfocavam as lidas com pressões sociais em prol da realização de determinados marcos biográficos tidos como heterossexuais e convencionados como imprescindíveis para se alcançar a felicidade e a plenitude no ínterim do curso da vida. Em um diálogo com uma vertente contemporânea dos estudos queer estadunidenses, a qual costuma ser chamada de tempo queer e temporalidades queer, – e ao mesmo tempo apresentando uma revisão desses debates – problematizo criticamente o modo como as transições entre os distintos períodos da vida são concebidas, em especial como são imaginadas e convencionadas. Por fim, a partir dessas análises de campo e diálogos teóricos, proponho a noção de teleologias heteronormativas de modo a desenvolver o debate acerca das bases prescritivas heterossexuais que tendem a fundamentar persuasivamente o modo como o curso da vida – em suas transições e em sua totalidade – é compreendido e negociado no contemporâneo.
This article seeks to present an anthropological and critical view of the development of a thriving field of knowledge production (especially present in North America) which for some decades has investigated the aging processes among lesbians, gay men and bisexual and transgender people. This field, still relatively unknown in Brazil and in South America as a whole, has been named "LGBT Gerontology ". Thus my interest lies in critically and systematically presenting and contextualizing the main trends, controversies and theoretical debates in this field, as well as their recent implications on the complex constitution, legitimation and creation of public policies concerning the new social actors, who rise concomitantly - the "LGBT seniors."
A antropóloga feminista Gayle Rubin (2016, p. 117) afirma que há uma dificuldade imensa em garantir o compartilhamento do que chama de "camadas geológicas de conhecimentos queer" sobre diversas "comunidades sexuais minoritárias", de maneira a que novas gerações de investigadoras/es não suponham estar reinventando a roda. Nessa perspectiva, a vida, a carreira e a obra pioneira da também antropóloga Esther Newton fariam parte de uma das mais relevantes camadas desses 'estratos geológicos'. Tive a oportunidade de conhecer e conversar com Newton -e de posteriormente entrevistála -no início de 2019 ao longo de duas conferências de lançamento de seu livro mais recente -My Butch Career: a memoir (2018) -na cidade de Nova Iorque. 1 Tendo lido o referido livro posso afirmar que ele é pródigo por seus múltiplos usos, qualidades e potências. Tal obra contribui para a compreensão das condições, dos desafios e das consequências de se viver na dissidência sexual e de gênero e ainda ousar contribuir para a produção dessas camadas de "conhecimentos queer" ao longo da segunda metade do século passado. Através de onze capítulos acompanhamos a narrativa sedutora da antropóloga -a qual integra a primeira geração de intelectuais do "movimento gay liberacionista" nos Estados Unidos -sobre a sua própria "carreira butch". 2 Nascida na cidade de Nova Iorque em 1940, Esther Newton se tornou uma importante referência ao publicar o livro Mother Camp: Female Impersonators in America em 1972. Esta etnografia, hoje clássica, foi resultado de sua tese de doutorado orientada por David Schneider no Departamento de Antropologia da Universidade de Chicago e analisa o universo das female impersonators, ou drag queens, em duas cidades estadunidenses na primeira metade dos anos 1 Tal encontro ocorreu no contexto do pós-doutorado que venho realizando como visiting-scholar no Institute of Latin American Studies da Columbia University na cidade de Nova Iorque. 2 "Butch" é uma categoria associada às mulheres lésbicas mais masculinas, as quais, nos bares lésbicos no Greenwich Village dos anos 1950 e 1960, em Manhattan, Nova Iorque, costumavam se interessar e se relacionar com as "femmes". "Butch" poderia ser traduzida ao português brasileiro -com riscos de anacronismo e consideradas as distinções semânticas -como "sapatão" e em castelhano como "camionera", "marimacho" ou "chonga" (essas categorias, no entanto, variam amplamente dependendo do país em questão). Agradeço à antropóloga Andrea Lacombe pelas sugestões de categorias correspondentes no caso argentino.
Essa resposta nos fez pensar sobre como pessoas idosas (e em particular pessoas idosas LGBTI+, nossas interlocutoras de pesqui-sa) estariam lidando com os desafios da sociabilidade e da inclusão digital nos tempos atuais. Numa sociedade já profundamente de-sigual e hierárquica como a brasileira, de quais formas o direito à sociabilidade digital se materializa em usos e acessos de pessoas idosas a aplicativos, plataformas, sites, redes sociais, aparelhos e dispositivos tecnológicos?
Enquanto escrevo estas linhas – durante a mais dura pandemia deste começo de século – o Brasil se aproxima do revoltante número de 450 mil vítimas fatais da COVID-19. A vida de pessoas idosas, nesta conjuntura crítica, tem estado profundamente vulnerável. Tendo em mente a heterogeneidade nas experiências de velhices, pessoas idosas que são pobres, periféricas, negras, indígenas, LGBTI+, com deficiências, com comorbidades e moradoras de regiões sem acesso regular a serviços de saúde têm sido atingidas com particular força.
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