Exceto onde especificado diferentemente, a matéria publicada neste periódico é licenciada sob forma de uma licença Creative Commons -Atribuição 4. A s relações entre Literatura e História, entre discurso histórico e discurso literário, a despeito de se constituírem em matéria de reflexão de historiadores e teóricos da literatura desde Aristóteles, ganharam um novo e significativo impulso, notadamente a partir da segunda metade do século XX, em virtude de dois fatores principais: de um lado, a crise vivida pela ciência histórica tradicional que, questionada em seu método de reconstituição do passado, obrigou os historiadores a repensarem sua prática historiográfica, fato que os conduziu, não raras vezes, a uma aproximação com a literatura; de outro, o crescente interesse dos romancistas que, especialmente após a década de 70 do século passado, passaram também a repensar a utilização que faziam da matéria histórica, no âmbito de suas narrativas de ficção. Esse movimento realizado pelos romancistas teve como uma de suas consequências mais importantes o redimensionamento do romance histórico, que passou por profundas transformações, a partir da adoção de uma escrita afinada com as inovações introduzidas pela pós-modernidade. Mais do que isso, atestam a vitalidade do gênero, como bem registra em artigo recente Marilene Weinhardt, ao examinar a ficção histórica publicada no Brasil a partir de 2011: (...) o contato com os lançamentos de ficção permite perceber que esse veio [o da ficção que dialoga com a história], que teve notável incremento nas duas últimas décadas do século passado e não perdeu o papel de uma das linhas de força no início deste, ainda dá mostras de vitalidade, haja vista a listagem contando com mais de três dezenas de títulos (WEINHARDT, 2015, p. 123).Tal constatação contraria as pessimistas previsões de Alessandro Manzoni, um dos pioneiros do gênero que, em Sobre o romance histórico, apontava para o provável desaparecimento do romance histórico, em virtude das incompatibilidades irreconciliáveis entre história e ficção. É Manzoni, talvez, o primeiro a formular um conceito sobre o gênero, ao afirmar o que segue: