O objetivo do artigo é discutir a relação entre a participação de Antonio Candido no congresso “Terzo Mondo e Comunità Mondiale” (Itália, 1965), e um esboço de mudança teórico-conceitual de sua obra a partir da segunda metade dos anos 1960, especialmente no ensaio “Literatura de dois gumes” (1966). Esse evento foi fulcral na articulação das nações terceiro-mundistas daquele contexto por contar com a presença de importantes intelectuais africanos e latino-americanos e pelo ensaio de uma crítica pós-colonial ao eurocentrismo. Nossa hipótese é que, nos anos seguintes, Candido incorpora às suas leituras parte das discussões realizadas no encontro a partir de uma reformulação de algumas de suas categorias analíticas e perspectivas teórico-conceituais e da expansão do escopo de análise do Brasil para a América Latina.
O objetivo do presente artigo é analisar como se desenvolveu determinado olhar sobre a ideia de crise no Brasil dos anos 1950 e 1960 a partir de duas importantes obras do pensamento político nacional: Existe uma crise da democracia no Brasil?, de Florestan Fernandes, escrito em 1954; e Quem dará o golpe no Brasil?, de Wanderley Guilherme dos Santos, escrito em 1962. A partir desses escritos, a ideia é perceber como uma ampla mudança no espaço de experiência da política e do contexto social possibilitou que tais intelectuais produzissem distintas interpretações sobre a agudização dos sentimentos de conflito e impasse na história do Brasil na metade do século XX. Em decorrência disso, desenham-se também duas propostas diferentes sobre os caminhos e recursos necessários à superação dos dilemas que se colocavam à época, em que toma a centralidade do debate o horizonte de expectativas relacionado à própria (não) permanência da democracia brasileira.
Este estudo busca compreender aspectos da imaginação literária da América presente no conto “O Caminho de Santiago”, de Alejo Carpentier, publicado no livro “Guerra del tiempo” (1958). A análise da estrutura poética do texto, associada aos ensaios críticos de Carpentier sobre a literatura latino-americana no século XX, permite perceber que a imaginação histórica da América apresentada pelo autor entrelaça passado e presente, Velho e Novo Mundos, com destaque para a percepção de um espaço-tempo histórico multifacetado e qualitativo, uma vez que o personagem principal transita entre continentes e universos culturais diversos, simultaneamente como “homem do renascimento” e “homem barroco americano”. Essa relação complexa entre tempos, espaços, concepções e práticas culturais, para além do senso de linearidade histórico-temporal, ressignifica as noções de progresso e revolução e aponta para uma percepção da América Latina como locus problemático de civilização.
Flávio Wolf de Aguiar nasceu em Porto Alegre (RS), em 1947. É Doutor em Letras (1979) pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/ USP), onde fundou e dirigiu o Centro Ángel Rama e atuou por muitos anos (1973-2006) como professor de Literatura Brasileira, até se aposentar. Sua atuação intelectual abrange os campos da Literatura, do jornalismo e da criação literária. Flavio Aguiar foi professor convidado e conferencista em universidades no Brasil, Uruguai, Argentina, Canadá, Alemanha, Costa do Marfim e Cuba. Dentre seus mais de trinta livros publicados constam os de autoria própria, as coletâneas por ele organizadas ou editadas, traduções e participações em antologias. São obras de crítica literária, ficção e poesia. Ao longo da vida, trabalhou nos principais jornais e revistas brasileiros. No período da ditadura militar, foi editor de cultura do jornal Movimento.
Este artigo traça alguns contornos da imaginação nacional bolsonarista a partir de um caso motivador: um crime ocorrido no sul do Brasil no final de 2020. Para tanto, analisamos alguns discursos do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e de membros significativos do seu governo, como Hamilton Mourão e Sérgio Camargo, em reação à acusação da opinião pública de que o assassinato de um homem negro por dois seguranças de um supermercado em Porto Alegre teria sido motivado por racismo. Partimos do princípio de que a semântica contida nesses discursos tem lastro nas reflexões históricas do pensamento político e social brasileiro. Em sua diversidade, a narrativa construída pela ideologia bolsonarista em reação ao episódio da morte de “Beto” apresenta o artifício de recuperar algumas formas de representação do passado brasileiro, em especial ao atualizar o mito da democracia racial e ao dar centralidade à problemática da corrupção como “verdadeiro problema nacional”. Nossa hipótese é que a apropriação dessas tópicas acaba solidificando determinada forma de imaginação política do Brasil, que tanto implica uma adesão social ao discurso bolsonarista quanto estimula determinadas formas de ação de grupos e sujeitos na realidade prática.
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