A epistemologia histórica, que tem em Gaston Bachelard um de seus principais expoentes, foi criticada muitas vezes como sendo idealista, uma vez que interpretaria a evolução histórica das teorias científicas de um modo relativamente autônomo, independentemente de seu contexto social ou do sujeito humano produtor da ciência. Este artigo busca demonstrar como, ao menos no caso de Bachelard, há sim uma preocupação para com o sujeito da ciência, que está implicado na construção das teorias científicas, mas não como seu mero produtor, e sim como seu efeito. Trata-se do tema de uma pedagogia científica que se opera constituindo e modificando o sujeito de conhecimento na medida em que os objetos científicos, por sua vez, também são o efeito de uma mise-en-perspective do conhecimento.
Resumo: Assim como o neokantismo, a fenomenologia e a filosofia analítica, também a epistemologia histórica francesa teve sua emergência no contexto da crise das ciências, na virada para o século XX. Por seus desdobramentos particulares, as obras de Gaston Bachelard e de Georges Canguilhem romperam, cada uma a seu modo, respectivamente com o neokantismo representado por Brunschvicg (no caso de Bachelard) e por Alain (no caso de Canguilhem). Neste artigo, propõe-se retirar algumas consequências epistemológicas, éticas e políticas dessas duas rupturas, analisando brevemente as particularidades de cada um dos dois casos.
Ao final de sua obra, entre as décadas de 1960-1970, Georges Canguilhem cunhou o termo “ideologia científica” para designar certos saberes que reivindicam para si o estatuto de cientificidade, mas que apenas emprestam modelos científicos de outras áreas e as degeneram, desviando-lhes a finalidade para servirem a ideologias sociais, políticas ou econômicas. Em 1956, Canguilhem já havia desferido seu ataque ao behaviorismo, mas a obra de Skinner ainda não era de seu conhecimento. Apenas numa conferência de 1980 é que Canguilhem irá se referir ao behaviorismo radical e ao seu principal conceito, o de operante. Propomos reconhecer a inovação produzida por Skinner no âmbito do behaviorismo em toda a sua originalidade, mostrando contudo que ela dá continuidade ao projeto de Watson de conceber os seres vivos como funções derivadas do meio, o que ainda está circunscrito ao que Canguilhem denominou como uma “ideologia científica” com relação às ciências da vida.
Pretendemos investigar, a partir de um comentário de D. Henrich publicado em 1989 sobre o aspecto jurídico da Dedução transcendental, avançar alguns apontamentos sobre sua relação com o jusnaturalismo. Propusemo-nos uma estratégia diversa tanto da análise genética quanto da exegese estrutural, detendo-nos sobretudo em questões implícitas que se mostraram inevitáveis à compreensão do princípio admitido pela Dedução transcendental, o qual, por ser, segundo o próprio Kant, apenas um único e mesmo, não pode ser subtraído ao domínio especulativo da razão, donde a necessidade de estender suas implicações à razão prática. Por fim, invocando Foucault, tentamos mostrar que, pelo fato do jusnaturalismo de Kant ser diverso daquele atribuído ao pensamento clássico, o seu argumento não pode ser compreendido segundo os mesmos parâmetros daquele.
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