Resumo Partindo de elementos da literatura "policial de enigma" e dos traços mais marcantes das poéticas naturalista, realista, simbolista e decadentista, o presente artigo tem por objetivo mostrar como A lição de anatomia do temível Dr. Louison, de Enéias Tavares, um romance de "ficção alternativa" de viés retrofuturista steampunk, revisita poéticas, obras e formas narrativas tipicamente oitocentistas, confrontando-as e mesclando-as de modo a lançar um olhar contemporâneo para um hipotético futuro do passado reconstruído. Para tanto, o texto se divide em cinco partes: na primeira, são utilizados estudos sobre o steampunk no intuito de entender seus mecanismos e situar a obra de Tavares nesta tendência estética contemporânea; em seguida, dá-se início propriamente à análise de A lição de anatomia, lido como romance policial, explicitando o diálogo com as obras a que faz referência; depois disso, à luz de escritos de Charles Baudelaire, evidencia-se o diálogo e a releitura da tradição, ao mesmo tempo em que destaca o debate entre o cientificismo e o misticismo, que estrutura a obra em um contraponto, dando-lhe unidade; por fim, uma leitura em pormenor da figura da personagem-título é feita em perspectiva comparada à personagem Des Esseintes do livro Às avessas, de J.-K. Huysmans, explicitando o aspecto decadentista e seu caráter de dândi. O artigo se encerra com uma reflexão acerca da vitória do dândi decadentista sobre a figura do "médico-louco", síntese-metafórica do romance e possível chave de leitura da Modernidade, a partir de um olhar contemporâneo.
atuando como coordenador substituto de programa de Pós-Graduação em Letras da mesma instituição. Concluiu mestrado em Literatura Comparada (2008) sob orientação do Prof. Dr. Lawrence Flores Pereira. Durante a escrita da dissertação, traduziu Otelo-O Mouro de Veneza, de Shakespeare, trabalho que recebeu montagem teatral sob a direção de Aline Castaman no mesmo ano. Sua tese de doutorado (2012) trata da arte poética e pictórica de William Blake. Em 2011, realizou parte de sua formação (doutorado sanduíche) na Universidade de York (Inglaterra) sob orientação do professor Michael Phillips e no Morley College of London, onde reproduziu a técnica usada pelo artista inglês para criar seus livros iluminados. Trabalha com literatura clássica, poéticas interartes e literatura e pintura do século XIX. Entre suas publicações mais significativas estão o livro Discursos do Corpo na Arte (2014) e o romance A lição de anatomia do temível Dr. Louison (2014), primeiro volume da série de ficção retrofuturista Brasiliana Steampunk, romance ganhador do Prêmio Fantasy, da Casa da Palavra/ LeYa.
<p>O presente artigo pretende traçar um breve panorama da imagem do cisne no contexto da poética simbolista, partindo, no entanto, da sua presença na literatura e mitologia grega antiga com a qual o simbolismo dialoga. Volta-se, então, à emblemática imagem do cisne presente no poema “Le vierge, le vivace et le bel aujourd’hui”, de Stéphane Mallarmé (1842-1898), lido em diálogo com os poemas “L’Albatros” e “Le Cygne”, de Charles Baudelaire (1821-1867), com os sonetos “Sobre o Cisne de Stéphane Mallarmé” e “O Cisne e o Lago”, de Eduardo Guimaraens (1892-1928) e com o conto de fadas “O Patinho Feio”, de Hans Christian Andersen (1805-1875), na tentativa de mostrar transformações e nuances pelas quais este símbolo passou ao longo dos séculos, sua permanência e continuidade no <em>zeitgeist </em>oitocentista e a relação que estabelece com a tradição.</p>
Este trabalho apresenta uma tradução para o português, brevemente comentada, do conto “O Matador de Cisnes”, do simbolista francês Auguste de Villiers de L’Isle-Adam (1838-1889), publicado pela primeira vez em 1886, na revista Le Chat Noir, e depois retomado na coletânea Tribulat Bonhomet, publicada em 1887.
Resumo Através das recentes discussões em torno do insólito ficcional, este artigo pretende mostrar o caráter inovador da construção do mundo de Untherak, em Ordem vermelha: filhos da degradação, de Felipe Castilho, obra que subverte as convenções da “alta fantasia” ao introduzir elementos da “distopia”, por sua vez, modo narrativo que conquistou importante espaço na contemporaneidade por trazer discussões políticas e sociais despertadas pela forte onda conservadora da segunda década do século XXI, e cujas características básicas divergem bastante das teorias em torno da fantasia.
Na introdução de O Maravilhoso Mágico de Oz (1900), L. Frank Baum declara sua intenção de inaugurar um novo tipo de conto de fadas, ao mesmo tempo mais moderno e mais americano. O resultado de seu projeto se traduz pela criação de um universo complexo, que se expande ao longo de treze sequências e obras derivadas, alcançando imenso sucesso midiático. Desde então, muito se especula sobre o gênero ou modo narrativo ao qual a série de Oz se enquadra, pois, embora Baum a aponte como um conto de fadas, e, portanto, associado ao maravilhoso, logo sua obra foi lida como uma utopia norte-americana e como uma precursora da fantasia. A partir desse contexto e de tais questionamentos, o presente estudo propõe uma leitura do universo criado por Baum buscando elementos dessas três categorias para entender seu lugar no cânone da fantasia, ao mesmo tempo em que procura entender a importância do uso de mapas na construção de mundos secundários, elemento que ao longo do século XX se popularizou em obras dessa vertente.
Resumo: A partir da obra Os meios de comunicação como extensões do homem (1964), de Marshall McLuhan, o presente artigo pretende demonstrar como a noção de fragmentação da informação suscitada pelas inovações tecnológicas do século XIX -particularmente, pelo advento do fonógrafo e do telégrafo -se relaciona com as mudanças no comportamento humano, sobretudo no que diz respeito à própria percepção de si, e como esta nova percepção se manifesta nas novas formas artísticas oitocentistas que marcam o início da Modernidade, em especial, no simbolismo e no impressionismo. Em seguida, para demonstrar esta teoria, são analisados dois poemas simbolistas: o soneto 12, de António Nobre, centrado na imagem do telégrafo, e "Fonógrafo", de Camilo Pessanha, através dos quais se espera mostrar como estas duas invenções modernas podem ser lidas como síntese metafórica da fragmentação do sujeito poético, manifesta por imagens, sintaxe e ritmo igualmente fragmentados, resultantes das mudanças de paradigmas artísticos, suscitados, por sua vez, pela mudança da percepção provocada pelas inovações tecnológicas. Palavras-chave: modernidade; fragmentação do sujeito; arte e tecnologia; simbolismo; fragmentação da percepção.
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