O trabalho intelectual nos coloca à mão autores das mais diferentes estirpes. Muitos passam despercebidos, outros tocam-nos de forma particular e passamos a utilizar suas reflexões como pano de fundo para as nossas atividades profissionais. Se excetuarmos os clássicos de nossa disciplina, com suas obras fundadoras às quais recorremos como a uma bíblia, autores contemporâneos submetidos à lógica utilitarista que envolveu a ciência contemporânea terminam por nos alimentar com reflexões muitas vezes absolutamente abstratas, sem o imprescindível esforço do contato na realidade empírica. Isso traz como resultado os autores da moda, que passam com a rapidez que o momento impõe. A filtragem do que nos chega às mãos termina sendo uma de nossos principais exercícios intelectuais.Sylvia Ostrowetsky é uma dessas intelectuais que, no seu estilo próprio, trouxe contribuições significativas para o estudo do espaço urbano, embora não tenha se transformado em vida numa referência de moda. Entre o livro que é sua tese de doutorado, os artigos que publicou em periódicos, sobretudo franceses, e os colóquios que organizou, tem ela uma produção densa e instigante que inova o pensamento sociológico sobre a cidade, bastante útil para refletirmos sobre a lógica urbana.Seu pensamento é denso, diria mesmo hermético. Não se lê os seus textos; eles nos obrigam a estudá-los, a compreendê-los nas entrelinhas. Talvez por isso a dificuldade em utilizá-los em nossas práticas intelectuais. Neste sentido, a tentativa que farei de trabalhar a percepção de Brasília dentro da perspectiva de análise de Sylvia Ostrowetsky é um texto exploratório, justamente em vista da extrema complexidade de seu pensamento e de sua perspicácia intelectual, a qual tenho limites para alcançar.* Pofessor titular do Departamento de Sociologia da UnB; pesquisador do CNPq.Esta resenha foi publicada também na Revista do Livro Universitário, n. 15, ago.2003.
Resumo: Este texto reflete sobre a natureza das relações entre os jovens e a cidade, com um recorte que privilegia a esfera do consumo, dimensão essencial na construção identitária nesta etapa da vida. As reflexões partem de uma pesquisa feita em uma área específica do Distrito Federal, a cidade da Estrutural, uma das que compõem o espaço urbano da capital do País. Em se tratando de uma área pobre para os padrões locais, os jovens que ali moram são marcados por esta condição que, por um lado, deixa-os socialmente vulneráveis e, por outro, produz resistências que se manifestam no estilo de se comportar na vida cotidiana. Tem-se, neste caso, uma dupla determinação da posição social destes jovens: o local de moradia e as suas faixas etárias, ou seja, estigmatizados por um lado e vulneráveis pelo outro, criam uma forma de existência social particular, que nos auxiliam na compreensão dos vínculos sociais na cidade.Palavras-chave: cidade, juventude, consumo, modos de vida, socialização. Colocando o problemaAs aglomerações urbanas pelas suas próprias características constituem áreas onde as interações sociais se redefinem a partir das diferentes possibilidades que o estar próximo nos coloca.* Professor titular do Departamento de Sociologia da UnB e pesquisador bolsista do CNPq.
resumo o tema tratado no presente artigo é um desafio intelectual que se adéqua às minhas preocupações de pesquisa nesses últimos anos em que estive envolvido com o estudo da lógica urbana de Brasília e do distrito Federal. Brasília, um verdadeiro laboratório urbano, coloca a relação entre a "cidade ideal" e a "cidade real" como pano de fundo e obriga o pesquisador a procurar entender as bases paradigmáticas do planejamento urbano e do urbanismo que levam a determinadas concepções de espaço urbano. A discussão que aqui se apresenta procura recuperar um debate que ocorre no campo urbanístico desde o século XIX, expõe seus impactos dentro da prática do planejamento urbano no Brasil e procura elaborar sinteticamente reflexões sobre os efeitos que essa prática produz em sociedades desiguais como a nossa. Na essência tentamos nos inserir num debate discursivo sobre as influências de paradigmas urbanísticos numa sociedade heterogênea e desigual como a nossa, procurando mostrar a dificuldade
Resumo: O artigo discute o potencial de Brasília se inserir na rede mundial de cidades, considerando sua peculiar dinâmica socioeconômica. Consolida-se aqui, 54 anos após sua inauguração, uma cidade que vive constantes processos de mudança, mas que ainda se acha atrelada ao setor público, esfera que lhe dá sua identidade. A assimetria que se observa entre, de um lado, uma cidade racional que se rebate num desenho modernista e, de outro, uma cidade que cresce nas suas periferias de forma anárquica, reproduzindo modelos das demais cidades brasileiras, evidenciam uma estrutura social com enormes graus de desigualdade e de diferenciação. A dinâmica populacional do Distrito Federal e entorno ultrapassa cada vez mais as determinações e os estímulos oriundos do setor pú-blico, concentrados no seu Plano Piloto. Ao contextualizá-la na lógica contemporânea das cidades "globais", na tentativa de diversificar a fonte de investimentos, Brasília procura oferecer vantagens comparativas frente a outras metrópoles que com ela concorrem. Nesse sentido, o artigo defende que a capital vive hoje uma etapa original na sua evolução, mesmo se a incompatibilidade aparente entre sua função política, que de certa forma restringe suas potencialidades, e as forças de mercado, a levam a modificar sua natureza original.Palavras-chave: Brasília; burocracia; cidades globais; desigualdades sociais; planejamento urbano. Antecedentes N este paper, buscaremos demonstrar que nesses 54 anos que se passaram desde a inauguração da nova capital, a cidade de Brasília vem se consolidando como uma das principais metrópoles brasileiras. A hipótese é que a dinâmica demográfica/econômica que nela se instala, permeada pela hegemonia do setor pú-blico presente na cidade, leva a supor que Brasília tem potencial para, rapidamente, inserir-se, tal como ocorreu em escala nacional, na rede mais ampla de cidades em âmbito global. Brasília1 originalmente foi pensada e construída para desempenhar as funções de capital política do Brasil, como parte de uma estratégia de governo de interiorizar a dinâmica econômica do país, necessidade essa advinda das funções político-administrativas da cidade, as quais induziriam investimentos de diferentes ordens e terminariam por integrar uma vasta região até então fora do eixo principal da economia brasileira. Historicamente, a mudança da capital do Brasil para "Brasília" começa a tomar corpo em 1891 quando essa intenção é incorporada à Constituição brasileira. Na sequência, para cumprir com a determinação constitucional sobre a transferência da capital para
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