Resumo A atenção básica à saúde (ABS) é um importante recurso para o enfrentamento de problemas relacionados ao sofrimento psíquico. A partir disso, o presente ensaio visa discutir a saúde mental (SM) na ABS diante da pandemia da covid-19. A pandemia ilumina problemas antigos em que é observado a lógica assistencialista e medicalizada do cuidado em SM. Além disso, persistem práticas de subaproveitamento e não reconhecimento das potencialidades da ABS como produtora do cuidado num espinhoso cenário político-econômico de disputa de poder e que incentiva a privatização dos serviços públicos. Esse jogo de forças tem influência na produção do cuidado, sobretudo em contextos caóticos, de injustiças e desigualdades sociais, terrenos férteis para a disseminação da covid-19. Assim, torna-se importante um olhar mais atento sobre os efeitos da SM na ABS, visto que gestores, profissionais e usuários podem mergulhar na “cegueira branca”. Portanto, é fundamental reconhecer a legitimidade dos saberes, valores e desejos que movimentam os trabalhadores e usuários dos serviços públicos; ou seja, compreender a SM como um campo relacional e dinâmico. Também é importante depositar um sopro de esperança ao gerar reflexões que acendam as luzes para que esse cuidado se aproxime do cuidado integral.
Este estudo objetivou compreender as concepções que guiam a produção do cuidado em saúde mental na atenção básica (AB) por meio de uma metassíntese da literatura. Por meio das bases de dados e bibliotecas virtuais Scopus, LILACS, BDENF, SciELO, BVS e PubMed e utilizando os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), buscaram-se textos qualitativos em português, inglês e espanhol, publicados no Brasil entre 2010 e 2020, que abordassem como a produção do cuidado em saúde mental está sendo desenvolvida na AB do país; cujos objetivos se referissem a atos e saberes desenvolvidos em saúde mental na AB; que abordassem o conceito de integralidade do cuidado em saúde mental desenvolvido na AB do Brasil; e que tratassem do entendimento quanto à mudança da prática profissional a partir dessas iniciativas. Foram selecionados 66 trabalhos, a partir dos quais se identificou que a saúde mental ainda sofre com as consequências herdadas do modelo hospitalocêntrico e asilar de produção do cuidado. Além disso, evidenciaram-se impactos das questões e experiências pessoais na saúde mental dos sujeitos, negligência e visão restrita do cuidado psicossocial, predomínio de práticas biomédicas, centralização nas ações intramuros e psiquiatrização das práticas de saúde mental na AB, os quais constituem barreiras ao processo de desinstitucionalização e integralidade do cuidado em saúde mental. Assim, é importante reconhecer a legitimidade dos saberes e repensar práticas menos cristalizadas, a fim de enfrentar e problematizar modelos hegemônicos, para que se avance na produção do cuidado em saúde mental na AB.
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