O livro de Rodolfo Guttilla, A casa do santo & o santo de casa, oferece uma valiosa descrição do universo de devoção a São Judas Tadeu no santuário do bairro do Jabaquara, na cidade de São Paulo. A partir desta temática, privilegia, sobretudo, os meandros das disputas institucionais ocorridas ao longo da história dessa paróquia, num contexto em que a devoção "autorizada" nem sempre corresponde à devoção praticada pelos fiéis e devotos dos santos católicos.A referida análise se insere no conjunto de estudos desenvolvidos durante os anos de 1988, 1992 e 2005, na paróquia de São Judas Tadeu, pelo Instituto de Estudos da Religião (ISER), junto ao qual Guttilla trabalhou como pesquisador convidado. Por ter sido encomendada pelos próprios paroquianos, a análise realizada pelo ISER teve por finalidade "servir de ponto de partida para [a] atuação pastoral junto aos devotos" (:159), sendo que, como nos elucida o antropólogo, essa "atuação pastoral" é reflexo de um processo de disputas no interior dessa mesma paróquia, a qual tem passado por significativas mudanças nas suas orientações de culto e organização, ora consolidando a perspectiva do catolicismo renovado, que tende a desvalorizar as manifestações de devoção "popular", ora adotando medidas reformadoras, que têm maior aceitação entre os fiéis e são mais permissivas com as práticas votivas da população.Nesse sentido, a análise contida na obra de Guttilla se particulariza por ilustrar como os direcionamentos "universalizantes" do Vaticano são recebidos e administrados nas paróquias que, inseridas num universo de contendas ocultas aos olhos da Igreja Católica, trabalham de modo a adequar às suas experiências locais as diretrizes gerais e, conseqüentemente, transformam as mesmas. Percebemos, então, que esse trabalho contribui para iluminar nosso entendimento sobre as relações existentes entre fiéis, agentes institucionais e diretrizes organizacionais da Igreja Católica, colaborando para ampliar a compreensão a respeito da dinâmica das devoções populares e sua importância para a Igreja.Guttilla apóia-se na noção bourdiana de que a religião é "um sistema simbólico a um só tempo estruturado e estruturante, que constrói e expressa a