Às vezes, devido a diversidades de foco mais acentuadas, surgem quasecontradições curiosas: -A linguagem que aí se desenvolve é artificial e re buscada, muito próxima do fracasso enquanto realização poética, mas propidadora de caminhos a serem ou nao seguidos por outros poetas. E nesse esforço de destruição e dilaceramento que se deve compreender "A s Enfibraturas do Ipiranga",um fracasso poético proposital. 一 (Affonso R . de San tana, p. 57) e: -para enfrentar, entre os intelectuais conservadores, os bur gueses senis e os proletários indiferentes da maravilhosa ópera bufa de "As Enfibraturas do Ipiranga, fecho da Paul icé ia Desvairada, o destino social conflitivo que a ruptura com a tradição lhe im p u n h a... (B . Nunes, p. 4 6 ).ou ainda: -A oralidade permanece cada vez mais rejeitada pela crítica, principalmente agora que uma bibliografia estrangeira veio em apoio da escritura -(ainda Affonso Romano, p. 68) e -Se não é para ler em voz alta, é feita para reconstruir uma narrativa oral feita em voz alta. A literatura brasileira, em geral, participa muito desse caráter oratório. -(Bernardo Élis, p. 9 2 ). O caráter por vezes contraditório que trai a busca constante de esclareci mento e renovação, tanto em termos de linguagem quanto em termos de formu lações teóricas e que transparece neste livro, é um retrato vivo de nossa rea lidade crítica nacional que, se no tempo de Mario era básicamente composta por "letrados" que nada assimilavam e que disfarçavam com princípios de oca sião, apadrinhados por este ou por aquele grande nome, a ausência de um verdadeiro pensamento, "ventoinhas de princípios ocasionais (que) têm por estética a orientação do último poeta decorado ou 'a filosofia do último Berg son*, que não digeriram" ( M . de Andrade, cit. à p. 4 1 ),não deixa agora, ine gavelmente, de dar mostras de ter passado por uma sensível evolução. Sem entrar no mérito do rico e cuidado apêndice sobre o Modernismo Mineiro, -um curso por si só -reconhece-se, no conjunto dos ensaios deste livro de leitura acessível, muitas vezes viva e estimulante, uma grande serieda de de intenções, orientadas para a pesquisa, a experiência, a proposta de que, juntamente com uma "permanente vigilância estética'',cinqüenta anos atrás, Mário e Oswaldo de Andrade, foram os exemplos.
AURORA F BERNARDINI