Em geral se aponta a autogestão -que corresponde à democracia na economia -como a característica central e definidora da economia solidária. Sem dúvida que a autogestão é uma característica que qualifica a economia solidária, porém é preciso admitir que ela não somente é uma condição insuficiente, como também pode ser um elemento não necessário para definir o caráter solidário duma atividade econômica. Essa é a questão em debate nesta Pensata, que principia com uma apresentação a respeito da economia solidária, para em seguida analisar quatro fatores que limitam a presença da autogestão dentro da economia solidária, encerrando a seguir com uma breve indicação de critérios para avaliar a efetividade da solidariedade num empreendimento. NO QUE CONSISTE A ECONOMIA SOLIDÁRIA?A expressão economia solidária designa inúmeras experiências que incluem formas diversas de agricultura familiar; assentamentos do MST; empresas industriais ou rurais recuperadas por meio da autogestão; cooperativas; redes de catadores e recicladores; redes nacionais e internacionais de comércio justo; incubadoras de empresas; cooperativas populares; inúmeras experiências de finanças solidárias; clubes de trocas e as economias indí-genas e dos quilombos.Essa outra economia configura um imenso campo que possui uma grande diversidade. As práticas se encontravam dispersas e fragmentadas. A partir do momento em que o conceito "economia solidária" se consolidou, na última década, constitui-se num aglutinador de todo um campo de atividades, possibilitando articulá-las com outras experiências em torno dum amplo movimento social. No Brasil, um fruto do movimento da economia solidária é o surgimento da Secretaria Nacional da Economia Solidária (Senaes), vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego.É fundamental perceber que os empreendimentos de economia solidária se encontram no mercado. Por estar no mercado, a economia solidá-ria está sujeita ao fetichismo das mercadorias, tendo que cuidar de design e marketing.Não estamos, portanto, nos referindo a um setor não mercantil e não monetário, como a economia da dá-diva. Também não estamos falando dum setor não lucrativo, como o terceiro setor. O aspecto central da economia solidária não é a sua não-lucratividade, até porque a dimensão do lucro -ainda que renomeado como resultado, sobras ou excedente -está presente nas suas expressões mercantis. Para deixar bem claro, o lucro é, fundamentalmente, uma dimensão que permite auferir e avaliar a eficiên-cia das atividades econômicas mercantis.1 Sua presença possibilita a capacidade dum empreendimento de reinvestir em si mesmo, se renovar e expandir, define a sustentabilidade duma atividade econômica e sua vida dinâmica. Dessa forma, é preciso realçar que uma das originalidades da economia solidária é estar no mercado sem se submeter à busca do lucro máximo, como se evidencia pela prática do preço justo pelos seus empreendimentos. O novo campo das finanças solidá-rias -que está democratizando o cré-dito -também permite ver bem claramente o que foi afirmado: a pr...
Breve análise crítica do artigo “O franciscanismo econômico: considerações sociológicas sobre a Economia de Francisco e Clara", de Flávio Munhoz Sofiati e André Ricardo de Souza. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/csr/article/view/15832
Resumo O ensaio tece diálogo com Paulo Freire e Merleau-Ponty. Ambos possuem uma história de vida de compromissos políticos e engajamento contra políticas mantidas pela dominação do patriarcalismo, racismo, homofobia, genocídio. Tecem uma concepção voltada de natureza concebendo a Terra como útero da existência de tudo, todas e todos. Ambos se contrapõem à disjunção entre espírito-e-matéria. Denunciam a dicotomia perversa de uma essência espiritual, superior, que se autoriza a guerra contra todas as formas materiais concebidas como sombrias, decaídas, perversas, selvagens e destrutivas. Paulo Freire e Merleau-Ponty tomaram como paradigma o corpo e a corporeidade, como lugar originário e primeiro, de onde emerge um pensamento segundo. Estimulam a comunhão e a convivialidade com tudo, todos e todas.Palavras-chave: Dialogicidade. Diversidade. Autonomia. Convivialidade. Paulo Freire and Merleau-Ponty: dialogic connections Abstract The essay weaves dialogue with Paulo Freire and Merleau-Ponty. Both have a life history of political commitments and engagement against policies maintained by the domination of patriarchalism, racism, homophobia, genocide. They weave a conception focused on nature, conceiving the Earth as the womb of the existence of everything, all and everyone. Both are opposed to the disjunction between spirit and matter. They denounce the perverse dichotomy of a spiritual, superior essence, which authorizes war against all material forms conceived as dark, decrepit, perverse, wild and destructive. Paulo Freire and Merleau-Ponty took as their paradigm the body and corporeality, as the original place and first, from where a second thought emerges. Stimulate communion and conviviality with everything, everyone and everyone.Keywords: Dialogicity. Diversity. Autonomy. Conviviality. Paulo Freire y Merleau-Ponty: conexiones dialógicas Resumen El ensayo teje un diálogo con Paulo Freire y Merleau-Ponty. Ambos poseen una historia de vida de compromisos políticos y participación contra políticas mantenidas por la dominación del patriarcalismo, racismo, homofobia, genocidio. Realizan una concepción envuelta de naturaleza concibiendo a la Tierra como útero de la existencia de todo, todas y todos. Ambos se contraponen a la desconexión entre espíritu-y-materia. Denuncian la dicotomía perversa de una esencia espiritual, superior, que se autoriza a la guerra contra todas las formas materiales concebidas como sombrías, decaídas, perversas, salvajes y destructivas. Paulo Freire y Merleau-Ponty tomaron como paradigma el cuerpo y la corporeidad, como lugar originario y primero, de donde emerge un pensamiento de acuerdo. Estimulan a la comunión y la convivencia con todo, todos, todas.Palabras clave: Dialogicidad. Diversidad. Autonomía. Convivialidad.
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