Os jovens que se envolvem com a delinqüência na cidade de São Paulo sempre chamaram a atenção de especialistas de diferentes áreas, e a literatura dos últimos anos tem oferecido farto material para a elaboração de muitas análi-ses. Segundo alguns estudos, a primeira causa de mortalidade entre os jovens na faixa de 15 a 24 anos é o homicídio. O número de jovens que morrem assassinados no Brasil, segundo a Polícia Militar, é quase sete vezes maior do que o número de vítimas de homicídios na população total. No ano de 2000, nas Febens do estado de São Paulo, a PM registrou o dobro de internações de adolescentes acusados de prática de homicídio e tentativa de homicídio. As explicações para isso seguem várias direções, passando pela delinqüência, a exclusão social, a cultura adolescente, as gangues de rua, até o crime organizado.É interessante notar também que essa violência passou a ser o foco de preocupações dos próprios jovens. Pesquisas mostram que para 49% dos jovens que habitam centros urbanos o principal medo e o que faz com que se sintam mais ameaçados é a violência, independentemente da região em que moram. Segundo dados da Fundação Perseu Abramo (2001), na região metropolitana de São Paulo, 42% dos jovens afirmaram já ter visto pessoalmente alguém assassinado, e em cada três jovens um já foi assaltado. Outros estudos (cf. Diógenes, 1998;Costa, 1993;Salem, 1995;Guimarães, 1998; Vianna, 1998) Os internos da Febem de São Paulo que praticaram roubo ou furto representam 67% do total, e a taxa daqueles que cometeram homicídios fica em torno de 8,5% (cf. Febem, 2000). Mesmo assim, o homicídio é a modalidade de crime que mais chama a atenção da população em geral e provoca reações mais dramáticas do que outros tipos de crimes, principalmente o homicídio que choca pela extrema violência com que é praticado. O que mais impressiona é a crueldade com que os jovens tratam suas vítimas. Não é somente matar, atirar ou esfaquear uma pessoa, mas torturá-la, cortar, furar, amassar, destruir seu corpo de maneira desumana, sem demonstrar nenhum sinal de arrependimento. Pelo contrário -e o que se mostra ainda mais perturbador -, parece haver prazer em matar, em destruir o outro de maneira bárbara e cruel. Essa preocupação com a forma como é feito o crime, por parte de jovens ainda adolescentes, revestida de uma raiva extrema, revela algo inquietante nas relações sociais. E a sociedade, de maneira geral, responde com preconceito e discriminação proporcionais à violência cometida.A partir de uma pesquisa de campo realizada na cidade de São Paulo, no período de 1999 a 2002, tentei analisar esse fenômeno, que me pareceu tão particular quanto amedrontador. O objetivo deste artigo é revelar como se desenvolveu essa pesquisa e levantar questões relativas ao comportamento desses jovens, bem como esclarecer uma possível relação com as chamadas "gangues de jovens" e o envolvimento de jovens pertencentes às classes média e alta na prática de homicídios.A pesquisa teve início com entrevistas com os internos na Febem Tatuapé, que relatara...
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