Durante muito tempo, entendeu-se que a metáfora das "Luzes" sustentaria uma série de críticas profundas às instituições do Antigo Regime, da Monarquia Absolutista e [...] à hegemonia religiosa e cultural que o clero católico ainda exercia no interior da sociedade, advogando a necessidade de urgentes reformas políticas, educacionais, sociais.
1Essas palavras sintetizam, conforme Luiz Carlos Soares, a concepção francesa do Iluminismo, a qual acabou servindo para balizar grande parte das discussões acerca da presença das "Luzes" nos diferentes territórios europeus no século XVIII. Essa visão, no entanto, tem mudado, pois, como defendeu Franco Venturi, é fundamental considerar "a distribuição geográfica e o ritmo diferenciado do Iluminismo na Europa setecentista".2 Apesar das diferenças, a presença das "Luzes" implicou, em qualquer que fosse o lugar, "mudanças dos modelos passados e, em alguns exemplos, uma consciência de mudança mais do que um fenómeno transitório da vida humana e da história". 5 Pretendo, então, discutir algumas questões sobre o que se convencionou chamar de "época pombalina", 6 na medida em esse reinado ficou muito mais marcado pela figura do marquês de Pombal -Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782) -do que pelo próprio soberano. Nesse aspecto, estou considerando sugestão de José Sebastião da Silva Dias, para quem as "modificações introduzidas" em Portugal, a partir da segunda metade do Setecentos, além de conterem referências a ideias de intelectuais portugueses da época, apresentam elementos que deixam manifesto o contato de Carvalho e Melo "com livros e opiniões em correlação com o ser e o agir de um estadista moderno".