Valendo-se da linguagem alegórica e simbólica, a literatura contemporânea tem prestigiado a representação de novos monstros e dramas humanos, invocando seu receptor para uma abertura dos horizontes de expectativa. Neste contexto, o valor atribuído aos personagens animais parece intensificar significações contidas na fronteira entre a imaginação e a realidade, afiançando o “sentimento do fantástico” a que se refere Roger Bozzetto (2001). No conto “Os dragões” (1965) de Murilo Rubião, animais expressam sentimentos e sensações tipicamente humanas, sustentando o efeito de estranhamento e de irrealidade da história narrada. Configurado com um caráter de fábula, o tom narrativo de Rubião potencializa a transgressão da realidade no movimento circular entre o normal e o anormal, o verdadeiro e o falso, o possível e o impossível, enaltecendo o estatuto da indecidibilidade que marca o fantástico contemporâneo. Sob tal perspectiva, este trabalho pretende analisar o referido conto, dando destaque ao modo de figuração do fantástico à luz do pensamento de autores como Finné (1980), Julio Cortázar (1993), David Roas (2001, 2011, 2014), Remo Ceserani (2006) e Irene Bessière (2005).
O presente artigo tem como propósito realizar uma leitura do conto “Bárbara”, do escritor mineiro Murilo Rubião, destacando o motivo do grotesco expresso na imagem monstruosa do corpo da personagem central, bem como o riso como traço ligado ao grotesco e ao sentimento de angústia. Nesse sentido, nos embasamos em pensamentos de Bakhtin (1987), Hugo (2010), Kayser (2013), Connelly (2015) e Thomson (2019) principalmente em conceitos imbricados na abordagem analítica do conto. Na leitura pretendida, buscamos mostrar como a ficção muriliana se apropria de metáforas que potencializam o grotesco, especialmente no que se refere a representação do feminino. Desse modo, nosso interesse maior volta-se para aspectos ligados à construção da imagem da protagonista. Sob tal perspectiva, buscamos analisar as metáforas ligadas a construção do corpo da personagem e seus sentidos simbólicos dentro do constructo do enredo, mostrando, sobretudo como tais elementos culminam para a configuração do riso grotesco. Por fim, podemos dizer que “Bárbara” é um conto que nos permite refletir sobre problemáticas significativas do contexto atual como, por exemplo, a imagem do corpo grotesco na literatura, o riso de horror, o disforme e a ironia sobre o padrão social de corpo imposto a mulher, assim como sua posição nas esferas particular e pública.
Na reconciliação do real com o imaginário, a literatura fantástica tem legitimado, pelo viés do símbolo e da alegoria, temores e indagações sobre a relação entre homem e bicho. Sedimentado no caráter subversor da realidade, figurações sombrias e de grande impacto emocional circunscrevem questões prementes sobre identidade, alteridade, integração natural ou experiência civilizada. É o que se verifica no conto “A pele do judeu”, integrante da obra Contos da sétima esfera (1981) do português Mário de Carvalho. No relato, a metamorfose da personagem central realça a natureza lendária do enredo ao mesmo tempo em que destaca a jornada subjetiva que os seres ficcionais enfrentam em busca de si mesmos e dos mistérios da vida. É, pois, seguindo tal linha de reflexão que pretendemos analisar o referido conto à luz dos conceitos de Irène Bessière (1974), Julio Cortázar (1974), Roger Bozzetto (2001), David Roas (2014), Remo Ceserani (2006) dentre outros autores que em suas obras abrem um espaço promissor para o debate sobre a natureza do relato fantástico. Também muito oportunos são os postulados teóricos de Warnes (2012) e Gallagher (2009) sobre o motivo da metamorfose na literatura.
Resumo:No discurso mimético de Lygia Fagundes Telles, eventos aparentemente verossímeis cedem lugar à imaginação, imprimindo uma atmosfera de confronto entre o estranho e o familiar, o real e o irreal. No conto "Tigrela", integrante da obra Mistérios (1981), a personagem feminina é delineada com traços que confundem sua identidade. Trata-se da história de Romana e seu animal de estimação, Tigrela, uma fêmea de tigre com quem a mulher partilha o luxo e o conforto de um apartamento, adaptado para tal convivência. Na trama, a mulher ora vela ora revela seus traços animalescos ao mesmo tempo em que acentua atributos humanos na representação do animal. A caracterização dessa relação binária constitui terreno fértil para uma reflexão sobre os limites entre homem e bicho. Sob tal enfoque, faremos uma leitura da narrativa à luz dos conceitos de fantástico formulados por Roger Bozzetto Abstract:In mimetic discourse by LygiaFagundesTelles, apparently credible events are assumed as imagination, providing a confrontation atmosphere between the strange and the familiar. In her "Tigrela" short story, part of her Mysteries work (1981), the feminine character description is identified by animal aspects that integrate her identity. The story of Romana and her pet, Tigrela -a female tiger with whom the woman shares her wealth and comfort in her apartment, fitted for that convenience. In a spectacular game, the narrator reveals and hides feminine savagery, at the same time he highlights human attributes in his animal representation. The unusual configuration in this binary relation constitutes a fertile soil for a reflection the limits between the human and unhuman, natural and supernatural. According to this approach, we have read this narrative based on fantastic concepts developed by Roger
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