Resumo O artigo aborda a existência de um discurso de esvaziamento que produz concomitantemente a urgência de um preenchimento, criando zonas com potencial de gentrificação. A partir de experiências vividas por moradoras ameaçadas de remoção na zona portuária do Rio de Janeiro - especificamente na favela da Providência e seus arredores - o artigo explora as orientações da governamentalidade na produção de deslocamentos forçados, destacando a resiliência como parte de um conjunto de resistências acionadas por essas moradoras para permanecerem na favela. Reconhecendo a produção de um processo de desabitação, o texto descreve as práticas de Estado, especialmente através do rumor e do terror, na construção de territórios de vulnerabilidade.
A (des)habitação enquanto um disciplinamento moral e uma prática de Estado na criação de territórios Anelise dos Santos Gutterres Inserida na área da antropologia urbana e de uma antropologia do Estado, a pesquisa tem como ponto de partida os processos de reconfiguração e transformação urbana na cidade do Rio de Janeiro nos últimos anos, apontando para um aumento, provocado pelo município, dos deslocamentos forçados das famílias que habitam áreas periféricas e de favelas. Compreendendo esse movimento de (des)habitação como uma prática da governamentalidade na construção de territórios de vulnerabilidade, trazemos algumas reflexões sobre as ações do Estado nestes locais, a partir de um percurso etnográfico pelos processos judiciais de um núcleo especializado da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, o Núcleo de Terras e Habitação, e de um retorno a uma pesquisa anterior na região portuária do Rio de Janeiro.
Este artigo é resultado de uma pesquisa nos documentos de um Núcleo especializado da Defensoria Pública do estado do Rio de Janeiro, instituição que foi ativa na defesa de grupos de moradores em territórios ameaçados de remoção durante o período de preparação para os megaeventos no município do Rio de Janeiro. O objetivo é, a partir da análise de estratos de Ações Civis Públicas, refletir sobre a existência de uma razão governamental no tratamento desses territórios, compreendendo aqui o Estado em seus múltiplos aspectos, em suas múltiplas “assinaturas”, como propõe Veena Das (2007). Apostamos que a pesquisa nos documentos produzidos para os processos judiciais traga um material relevante para reflexões sobre as dimensões do conflito na gestão da habitação social e na dinâmica que envolve as reformas urbanas em áreas periféricas, apontando-nos também para a tessitura de possibilidades de resistência – nesse caso, pela via estatal – e o esforço em tornar legíveis as tramas que envolvem a construção da opacidade por esferas governamentais nestas localidades.
O objetivo desta monografia é refletir a partir dos pressupostos antropológicos os processos que envolvem a compra e a venda de antiguidades na cidade de Porto Alegre. Para essa empresa, partimos de uma experiência etnográfica junto a um antiquário localizado no chamado “Caminho dos Antiquários”, no Bairro Centro da capital. O investimento nessa experiência foi pensado a partir da hipótese de que haveria um conjunto de valores que distinguiriam a definição do que é um objeto e do que é uma antiguidade. Preocupações guiadas pelo trabalho de Eric Hobsbwan na sua obra A Invenção das Tradições (1984). Para pensar a relação de troca operada na compra e na venda, seguimos as reflexões de Marcel Mauss no seu Ensaio sobre a Dádiva, onde partindo da idéia do hau, o espírito que mantém as relações de troca na sociedade maori, possamos pensar a partir dos espaço dos antiquários, a construção da antiguidade não como previamente definida, e sim como uma categoria que é construída a partir da troca entre o comprador e o vendedor de antiguidade. Ainda provocados pela obra de Mauss, a partir do ensaio As Técnicas do Corpo procuraremos pensar que assim como a expressão do corpo pode revelar uma tradição, a construção da antiguidade também pode revelar alguns aspectos da distinção de classes sociais em Porto Alegre.
Este ensaio busca discutir a categoria família a partir da experiência etnográfica com duas mulheres integrantes e descendentes de famílias de classes médias e altas de Porto Alegre - pertencentes a segmentos sociais intelectualizados e cosmopolitas - e dos arranjos de suas estruturas de parentesco acionadas no processo de desocupação de suas casas oriundas de “herança de família”. Viso discutir, na perspectiva de uma antropologia urbana (VELHO, 1987) e do processo de realização da etnografia, as relações de gênero, parentesco e família em camadas médias urbanas. Preocupada em compreender a dinâmica dos papéis sociais, sexuais e de gênero da mulher nestes segmentos sociais, e no interior de suas estruturas de parentesco, a intenção é pensar a transformação do lugar social dessas mulheres na família, no momento da sua troca de casa, dado em função da sua troca de estado: de casadas a viúvas ou de casadas a “deixadas pelo marido”. Integrando essa dinâmica, trago reflexões de gênero ligadas a condição da etnógrafa, mulher, como provocadora da interação que resulta nos relatos e entrevistas dispostos no corpo desse ensaio. Tendo em vista as discussões de maternidade, gênero, família e novas tecnologias de reprodução provocadas pelos seminários do tópico do curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFRGS, intitulado Novas e velhas tecnologias de reprodução, ministrado pela Profa, Dra. Claudia Fonseca, busco contribuir para o campo temático dos estudos da antropologia da família, num diálogo com os estudos e textos lidos nessa ocasião - de diferentes momentos dos estudos de parentesco e de uma antropologia feminista de parentesco.
IntroduçãoEsse ensaio tem a intenção de apresentar a experiência do trabalho com redes em uma pesquisa antropológica em contextos urbanos, de sociedades complexas, conforme as definições de Gilberto Velho (1987:17). O percurso traçado pelas questões que serão aqui apresentadas foi construído a partir do desenho, por parte da autora, de redes de negociação e de resistência no âmbito de uma concepção relacional entre, construções democráticas e sociedade civil, conforme nos aponta Marcelo Kunrath Silva (2006). No que tange a disciplina antropológica e as pesquisas em torno do fenômeno da cidade apresento a relevância das redes sociais para o fluxo de trocas -formador de vínculos políticos e partidários -no estudo do impacto de eventos como a Copa do Mundo em países como o Brasil, onde boa parte da população dos centros urbanos ainda vive sem acesso 2 aos recursos urbanísticos propostos pelos planos diretores de regulação do espaço citadino. Que arranjos são realizados pelos atores para articular diferentes interesses num ambiente urbano em plena transformação? Como os espaços públicos, da forma como são pensados pelas leis urbanas, tencionam a vida cotidiana dos habitantes e colocam em riscos sua possibilidade de escolha diante de uma noção de trajetória social? Como se criam atores, mecanismos e rotinas em torno da vulnerabilidade de alguns sujeitos e cenários políticos? Uma parte da rede, invisibilizada (Alfonsin, 2000) pela legislação urbana, viveria numa previsibilidade no que diz respeito as suas trajetórias de atuação na cidade e usufruto dela. Esses sujeitos estão constantemente ameaçados por rupturas e acelerações de desencaixes (Giddens, 1991) em suas rotinas à medida que as pleiteiam como agência da melhora em sua condição de vida na cidade. A forma como essas acelerações e rupturas são construídas pelos atores dos poderes públicos, responsáveis
O mês de junho de 2013 ficou conhecido pela quantidade de protestos e manifestações políticas, que levaram milhões de pessoas às ruas. No interior desse atos as reivindicações se desdobraram das iniciais – que questionavam as remoções para as obras da Copa e eram contra o aumento da passagem - e se tornaram igualmente numerosas. A repressão policial às manifestações foi violenta e o fim da polícia militar se tornou uma reivindicação no processo de construção dos atos nas ruas. Esse relato descreve os protestos e manifestações no Brasil a partir de minha experiência enquanto manifestante nas ruas do Rio de Janeiro. O que descreverei aqui está entre as duas dimensões, por vezes antagônicas, que a etnografia acaba nos impondo: a neutralidade e o "afetamento". Palavras-chave: Protestos. Rio de Janeiro. Favela. Repressão policial. Etnografia“It's not easy, I ask for public mobility and government sends Skull[1] against me” – a close up narrative of the political protests between 2013 june and july in Rio de Janeiro. Abstract June 2013 became famous for the amount of protests and political events that led millions of people to the streets. Within this demonstrations, the initial claims unfolded, questioning removal for the works made in the cities for the World Cup and standing against the fare increase for public transportation, and became numerous. The repression exerted by the police against demonstrations and the dissolution of Military Police became one of the claims demanded on the streets. This report is a description of what happened between the two dimensions, sometimes antagonistic, that ethnography imposes: neutrality and “being affected”. Key-words: Protests. Rio de Janeiro. Slum. Repression police. Ethnography. [1] Skull is the nickname for the Bushwacker the Special Operations Corps of Rio de Janeiro's Police, and this verse was one of the many slogans sang by the people)
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