A história das imagens no cinema e na fotografia é inscrita sobre uma base material comum coordenada pelos instrumentos de criação da fotografia. Mesmo compartilhando substratos equivalentes, seus processos artísticos não poderiam ser mais dessemelhantes. Neste artigo, colocaremos em evidência algumas iniciativas de cineastas-artesãs que estreitam a distância entre os diferentes métodos e nos fazem pensar a materialidade do cinema. Para tanto, percorreremos o período em que o artista Raoul Ubac subverte o caráter figurativo da fotografia e, com o apoio de Georges Bataille, Rosalind Krauss e Agostinho de Hipona, nos dedicaremos a refletir sobre o informe tanto nas obras fotográficas de Ubac quanto em três filmes manufaturados nos ateliers L’Etna e L’Abominable na França.
A representação de emoções, sentimentos, afetos através da imagem é um dos atributos de que são investidos pintores, escultores, fotógrafos ou cineastas. Boa parte da experiência de criação desses artistas é fomentada através do encontro de seus corpos com o de seus modelos ou atores. Nas possibilidades produzidas por esta associação encontram-se alguns mistérios das conexões recíprocas entre corpos e seus instrumentos técnicos. Neste artigo, nos concentraremos em alguns célebres estudos sobre as expressões humanas [Le Brun, Darwin] para que possamos mapear os vestígios dos modos de olhar e de agir durante o ato artístico. Nosso foco será orientado por exemplos da fotografia [Rejlander, Duchene, Nadar] os quais, a nosso ver, guardam as sementes da imagem em movimento e que colocam em perspectiva algumas fronteiras entre campos do saber normalmente tidos como independentes como as artes e as ciências.
Este artigo tem por objetivo pensar a realização cinematográfica através da perspectiva coletiva de seus criadores. Na construção desse caminho, partimos da elaboração do que chamamos gesto fílmico como forma de traçar algumas características da natureza do cinema que consideramos relevantes. Esse percurso nos auxilia a desenvolver com maior propriedade as diversas relações entre os agentes presentes em uma filmagem, em que a conjugação de forças humanas e técnicas constitui o próprio ato cinematográfico. As bases teóricas para a concepção do gesto fílmico partem das reflexões de Vilém Flusser sobre o gesto e seguem junto a outros autores que se dedicaram a pensar as especificidades do cinema – como Ricciotto Canudo, Béla Balázs e, mais recentemente, Laura Mulvey–, e que, ao longo de suas obras, apostaram na riqueza semântica do termo como um instrumento de investigação das complexidades intrínsecas à arte cinematográfica. Para examinar a pertinência de nossas colocações, contamos com relatos de nomes importantes da história do cinema como Jean Renoir, Ingmar Bergman, Andrei Tarkovski e Sven Nykvist, que dedicaram parte de suas carreiras à reflexão sobre as particularidades de seu trabalho em equipe. Desse modo, exploramos o caráter coletivo da criação não como um modo de compartilhamento de autoria, mas como elemento fundador da expressão cinematográfica, em que as modulações entre os movimentos humanos e técnicos, entre corpos e máquinas são os pilares do gesto fílmico.
A problematização do caráter performático de Aby Warburg, aplicado ao Atlas de imagens Mnemosyne (1924-1929), em diálogo com a obra multimídia de Bill Morrison, Decasia (2001), é o nosso foco. A partir da penetração nas camadas do tempo e da materialidade das imagens operadas por ambos, investigaremos alguns dos conceitos-chave do historiador da arte – como a iconologia dos intervalos, a sobrevivência (Nachleben) das imagens, os movimentos pendulares (dinamograma) e as forças móveis das Pathosformeln – em contraponto com outros autores que desenvolveram pensamentos paralelos (Benjamin, Vertov, Epstein). Nosso objetivo é a ampliação das perspectivas sobre a natureza do cinema – explicitada no trabalho arqueológico e, ao mesmo tempo, transcendental do cineasta – apoiada no pensamento de Warburg sobre as particularidades das imagens.
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