O artigo tem como objetivo principal realizar uma análise dos discursos que atravessam o caso dos 80 tiros – ação do Exército Brasileiro que resultou no assassinato de dois civis em 2019. O fato dividiu opiniões quando alguns grupos políticos tentaram isentar o Exército e os soldados de culpa e outros tentaram desvelar o despreparo da instituição militar, servindo, então, de exemplo para entender como fatos históricos podem ser moldados e recontados a depender dos falantes. Como base teórica, foram utilizadas as reflexões contidas em “O Rumor da Língua”, de Roland Barthes, sobre a dóxa e os discursos encrático e acrático, observando como a língua pode operar uma manutenção do poder ou uma reforma dele. Para isso, foram selecionadas manchetes, trechos de notícias e entrevistas veiculadas acerca do caso para realizar a análise linguística e identificar os significados gerados pela enunciação. Percebeu-se que há mecanismos que provocam o apagamento de ideias, tais como a esquiva discursiva; a retificação constante e incerta de números; bem como a criação de narrativas alternativas. Com isso, pretende-se examinar as disputas de poder na sociedade que utilizam da língua como arma principal para fundar a história.
Este trabalho nasce da hipótese de que, hoje, temos um outro objeto sobre o qual recai a dúvida cética: a linguagem. Com esse ponto de partida, fui buscar em nossa fonte do ceticismo ocidental, Sexto Empírico, algum vestígio que já indicasse alguma suspensão do juízo quanto à estabilidade do significado linguístico. Deste modo, este escrito é uma investigação a respeito da linguagem cética de Sexto Empírico. O objetivo aqui é buscar identificar que perspectiva(s) de linguagem orienta(m) o pirrônico em seus escritos que chegaram até nós, principalmente em seu tratado Contra os gramáticos. Longe de querer extrair de Sexto Empírico qualquer doutrina, meu interesse foi caracterizar o ponto de vista (cético-)linguístico adotado como pano de fundo para suas considerações céticas.
Este ensaio investiga o conceito de “pós-verdade” para uma história das ideias linguísticas. Seu objetivo é traçar uma genealogia dessa ideia linguística, também desenhando o que de diferente temos na contemporaneidade em relação aos pensamentos sofístico e cético antigo de que, concluímos, carrega vestígios. Entendemos que a tecnologia da internet, além do poder ainda atuante das grandes mídias e do lobby de poderosas corporações são elementos distintivos de nossa dita pós-modernidade em relação ao pensamento clássico. Assim, acabamos por desvelar certo cinismo contemporâneo que banaliza a estratégia cética de suspender o juízo sobre qualquer declaração assertiva.
This article is about the question of ethics in the studies of language and the intersection with philosophy. For this investigation, we chose as a case study the speech delivered by the then controversial Brazilian Federal Congressman Jair Bolsonaro in the vote for the impeachment of the (now former) president, Dilma Rousseff, in 2016. On that occasion, Bolsonaro, upon casting his vote, paid tribute to Colonel Carlos Alberto Brilhante Ustra, responsible for torture during the Brazilian civil-military dictatorship (1964-1985). Our purpose here is to discuss and (try) to formulate a discursive ethics, also calling into question whether some speech acts may be considered unacceptable. To develop our idea, we draw on the theoretical contribution the so-called second Wittgenstein’s perspective of language, more specifically his idea of language as forms of life, put in dialogue with the position on ethics in the language put forwards by the professor of the University of Paris 13 Marie-Anne Paveau in her book Language and Morality: An Ethics of Discursive Virtues.
A trajetória artística de Letícia Bertagna, uma das artistas indicadas da décima primeira edição do prestigiado Prêmio Pipa, é o disparador deste artigo. Aqui concentro-me na série de imagens digitais “Fundo do fora”, que vem sendo composta desde 2016 por Letícia. Dessa série, trago três imagens como gatilhos metonímicos para defender a hipótese de que Bertagna performa micronarrativas imagéticas, tendo como procedimento a operação de oximoros verbovisuais, sobretudo em aporias forjadas entre título e imagem. Lanço mão da perspectiva de linguagem do Wittgenstein maduro como pano de fundo teórico para a reflexão em que reconheço capacidades narrativa e poética nas obras de Bertagna a partir de variados recursos linguísticos. Além disso, vejo em seu gosto pelo cotidiano um movimento de deslocamento a revelar o estranho do comum. A estranheza comparece como oximoros verbovisuais em que a artista ficcionaliza vida e arte, diluindo seus limites e potencializando significâncias.
Analisar os deslimites que teorias contemporâneas do significado lingüístico vêm autorizando - devido à limitação de espaço, vou me deter aqui à chamada desconstrução - no que concerne à interpretação de textos. Para tal, farei uma breve exposição desta corrente de pensamento e de uma outra que, acredito, contorna o paradoxo interpretativista a que a desconstrução chega: a perspectiva de linguagem de Wittgenstein.
re s u m o Este tra b a l ho pre t e nde apontar algumas cons ide rações sobre o tra t a do Contra os g r a m á t i c o s, de Sexto Empírico. A análise dessa obra vem sendo feita com algumas questões no r t e a do ras -e, re c o n he c ida me nt e, teme ro s a s. Duas delas se ent relaçam ao inda g a re m pela possibilida de de se ent rever alguma perspectiva de ling ua gem pre s e r v a da por Sex t o E m p í r ico; e, em caso afirmativo, se ela pode r ia ser cons ide ra da cont e m p o ra ne a me nte pra gmática ou representacionista. Nessa etapa da pesquisa, é nosso objetivo enfatizar o movime nto espira l a do que o texto de Sexto Empírico impõe a seus leitore s, em que se pode flagrar (parece) um movimento oscilante no que diz respeito às concepções de linguagem ali presentes. p a l a v ra s -c h a ve C o nt ra os gra m á t icos; Sexto Empírico; cetic i s mo pirrônico; gra m á t ica ant iga; pragmática; representacionismo Com o intuito de preparar o terreno para as considerações que serão feitas sobre o tratado C o n t ra os gra m á t i c o s 2 , de Sexto Empíri c o, fa z -s e n e c e s s á ri o, a n t e s , c i rcunstanciar o interesse por tal pesquisa. Um estudo anterior -que culminou em Dissertação de Mestrado -teve como tema as inquietações contemporâneas em torno dos limites da interpretação e m face do movimento vigoroso de ruptura com p e r s p e c t i vas representacionistas da linguagem e do sentido que hoje testemu n h a m o s , em benefício de concepções lingüísticas que podem ser agrupadas sob a denominação de n ã o -r e p r e s e n t a c i o n i s t a s (ou n ã o -i m a n e n t i s t a s) (cf. RO RT Y, 2 0 0 2 ) . U m a p e rs p e c t iva de linguagem é assim denominada n ã o -r e p r e s e n t a c i o n i s t a p o r
RESUMOOs filmes "A Aventura" (1960), "A Noite" (1961) e "O Eclipse" (1962), de Michelangelo Antonioni, não foram premeditadamente concebidos como uma trilogia, mas, ainda que à revelia do diretor, são comumente agrupados como a "Trilogia da Incomunicabilidade" -a qual alguns críticos ainda incluem "O deserto vermelho" (1964). Analisarei esse (pretenso?) discurso da incomunicabilidade a partir do notório aforismo de L. Wittgenstein com que o filósofo vienense termina seu Tractatus Logico-Philosoficus: "Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar" (TLP §7) e, também, a partir da perspectiva de linguagem da segunda fase de seu pensamento, aquele expresso em suas "Investigações Filosóficas", quando a linguagem passa a ser entendida por Wittgenstein como uma prática humana, como forma de vida. Assim, explorando o paradoxo de se comunicar a incomunicabilidade, este texto não chega a "resultados finais"; antes, abre-se para, pelo menos, dois paradoxos. Por fim, entendemos que tais paradoxos tendem a mostrar que, se é possível comunicar a incomunicabilidade, isso seria menos o triunfo da comunicação e mais um reconhecimento dos limites da linguagem. PALAVRAS-CAVEWittgenstein, Antonioni, formas de vida, trilogia da incomunicabilidade. ABSTRACTMichelangelo Antonioni's "The Adventure" (1960), "The Night" (1961) and "Eclipse" (1962) were not premeditatedly conceived as a trilogy but, despite Antonioni desire, they are commonly grouped as a "trilogy on modernity and its discontents" -which some critics still include "Red Desert" (1964). I will analyze this discourse of modernity / incommunicability from L. Wittgenstein's notorious aphorism with which the Viennese philosopher ends his "Tractatus Logico-Philosoficus": "What we cannot speak about we must pass over in silence" (TLP §7) And also from the perspective of language of the second phase of his thought, expressed in his "Philosophical Investigations", when language comes to be understood by Wittgenstein as a human practice, as a life-form. Thus, exploring the paradox of communicating incommunicability, this text does not reach "final results"; rather, it opens up to, at least, two paradoxes. Finally, we understand that such paradoxes tend to show that, if it is possible to communicate incommunicability, this would be less the triumph of communication and more the recognition of the limits of language. KEYWORDSWittgenstein, Antonioni, life-form, trilogy on modernity and its discontents. 525 ouvirouver Uberlândia v. 13 n. 2 p. 524-536 jul.|dez. 2017 No amor, assim como em quase todas as atividades humanas, o entendimento cordial é o resultado de um mal-entendido. É nesse mal-entendido que está o prazer. O homem grita: "Oh, meu anjo". A mulher arrulha: "Mamãe! Mamãe!" E esses dois imbecis ficam convencidos de que pensam em uníssono. -O abismo insuperável que causa a incomunicabilidade ainda não foi transposto. Charles Baudelaire
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.