A crescente substituição do corpo por sua imagem surge, segundo o pensadoralemão Dietmar Kamper, com a teologia medieval cristã e a anatomia moderna. Com base nesses pressupostos, investigamos os primórdios do cristianismo que estabelece um novoestatuto para as imagens a partir da idéia de carne como manifestação do inefável. Apartir daí, procuramos compreender a maneira particular como quatro artistas renascentistas (Da Vinci, Michelangelo, Alberti e Donatello) representaram os corpos emsuas obras e a utilização pedagógica das imagens do corpo pelos estudos de anatomia noinício da modernidade, anunciando a objetivação do mesmo. O pensamento cartesiano doséc. XVII consolida esta visão, levando a cabo a idéia hoje amplamente divulgada de umcorpo-prótese.
Para os filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari a ciência nômade é um modelo que corre às margens dos paradigmas científicos tradicionais, identificados por eles como ciência de Estado. É como ciência nômade que compreendemos a trajetória empreendida pelo pensador francês Michel Serres e sua leitura da obra de Lucrécio, seguidor da filosofia epicurista e considerado um dos pais da física. Para Serres, é por meio dos conceitos de clinâmen, que explica a formação dos turbilhões e espirais, de eidôlon, sobre o qual se delineia uma razão engendrada pela percepção, e do cálculo infinitesimal, que se esboça um outro modelo de ciência. É nos caminhos das curvas e na fluidez da água que podemos encontrar explicações para o mundo, em contraposição à ciência moderna, baseada na suposição de um mundo estático e em equilíbrio. Diante disso, é necessário perguntar: é possível conciliar essa ciência nômade com a chamada ciência de dados, o Big Data, que por meio de algoritmos pretendem tornar previsíveis e padronizáveis os comportamentos humanos, tão incertos e fluidos?
Este artigo procura explorar dois autores que, embora pareçam antagônicos em seu enraizamento teórico, as concepções de corpo desenvolvidas por eles tornam inevitável uma aproximação, impelindo a realização de um diálogo entre ambos. De um lado, Merleau-Ponty, herdeiro da fenomenologia husserliana, desenvolve inicialmente a noção de corpo préobjetivo para depois aperfeiçoá-lo até a noção de corpo sentiente. De outro lado, Michel Serres, por sua vez, tem uma trajetória heterodoxa na filosofia, mais voltada para o mundo em turbulência que para o mundo estático, o que faz com que conceba o corpo como quimera. Ambos pensadores interseccionam-se em conceitos como carne, sentidos e espessura do mundo.
Em tempos de hiperabundância de imagens, facilmente reproduzíveis, compartilháveis e "instagramáveis", onipotentes e onipresentes, que se lançam aos nossos olhares, independentemente de nossas vontades, parece-nos difícil imaginar um mundo em que seria necessário mobilizar grande disposição física e psíquica para que pudessem ser criadas. Essas imagens provavelmente geravam grandes expectativas, alimentando memórias, sonhos e imaginações.As imagens a que nos referimos são aquelas localizadas no Grande Abrigo Santana do Riacho, em Minas Gerais, criadas em um período compreendido entre 8.000 e 2.500 anos A.P. (antes do presente).Para refletirmos sobre a relação entre o olhar e as pinturas rupestres, recorremos às considerações do historiador da arte Hans Belting a respeito da relação entre imagem, corpo e meio, ao conceito de ambiente da Semiótica da Cultura, e aos conceitos de aura, valor de exposição e valor de culto de Walter Benjamin.
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